
Os Santos taumaturgos e anárgiros
(inimigos do dinheiro) vindos da Mesopotâmia nasceram na Ásia Menor. Seu
pai, um nobre pagão, morreu enquanto eles ainda eram crianças, e sua mãe,
Teodora, os criou na fé cristã. De acordo com a Lenda Áurea, de Jacop de
Voragine, Cosme e Damião eram gêmeos e últimos de um grupo de cinco irmãos, que
se chamavam Antino, Leôncio, Euprépio, Cosme e
Damião.
Seguindo o exemplo de vida de sua mãe
e em imitação a Cristo, os gêmeos tornaram-se homens justos e
virtuosos.
Ao
alcançarem a idade a adulta, estudaram medicina e as artes da cura, e por sua
virtude cristã, receberam do Espírito Santo o dom de cura as enfermidades do
corpo e da alma através de sua oração.Por amor a Deus e ao próximo, eles jamais
cobraram por seus serviços, seguindo estritamente o mandamento de Jesus Cristo:
"Recebestes de graça, de graça
dai!" (Mt. 10:8). Eles
tratavam até mesmo os
animais.
A fama dos Santos Cosme e Damião,
cujos nomes verdadeiros eram Acta e Passio, se espalhou por toda a região da
Mesopotâmia, e o povo apelidou os irmãos de médicos anárgiros, ou seja,
"aqueles que não recebem prata (dinheiro)". Segundo relatos da
Lenda Áurea, não empregavam a terapêutica tão
usada naquele tempo de absurdas invocações, coisa que pudesse supor como
imbuídas de mágicas
artes.


Desejando recompensar seus médicos de
algum modo, em um gesto de gratidão a idosa senhora foi conversar com Damião, e
lhe presenteou com três ovos, dizendo
"Aceite este pequeno presente em nome
do Pai, do Filho e do Espírito
Santo". Ao ouvir o nome da Santíssima Trindade, o santo
médico não ousou recusar o
presente.
No entanto, quando Cosme soube o que
acontecera, entristeceu-se, pois acreditava que seu irmão havia quebrado seu
voto de caridade, e declarou perante testemunhas e os tres outros irmãos que
não iria permitir que seus restos mortais fossem enterrados com os de Damião. Entretanto, na mesma noite, Cosme
teve uma visão do próprio Cristo, que disse:
"Cosme, me ouve. Damião não tem culpa,
pois ele aceitou a dádiva de Paládia apenas por
caridade".


Como acontece com tantos outros
santos da Igreja Católica, a vida dos santos gêmeos está mergulhada em lendas
misturadas à história real. De acordo com os relatos da Lenda
Áurea,
do dominicano arcebispo de Gênova, Jacop de Voragine (1230-1298), os santos irmãos
foram chamados perante ao procônsul Lísias, na Egéia, que tendo ciência da fama
dos santos médicos, resolveu averiguar. Entretanto, quando Lisias
resolveu convidá-los para uma celebração em honra aos deuses do Império, Cosme
e Damião recusaram, com que fez que Lisias desse voz de prisão aos dois gêmeos.
Os três outros irmãos de Cosme e Damião também foram
capturados.
As narrativas dos suplícios pelos quais os santos Cosme e
Damião teriam passado são das mais fantásticas. Primeiro,
foram crucificados, entretanto os pregos não conseguiam furar suas mãos;
depois, Lisias mandou que fossem para um penhasco e lançados ao mar, mas um
anjo conseguiu resgatá-los; Posteriormente, quando Lísias avistou tais
milagres, propôs um negócio aos dois irmãos: queria que os santos médicos
ensinassem a ele os "sortilégios das magias", e que associados,
poderiam ser os homens mais ricos da terra, proposta esta que os santos
imediatamente recusaram, pois "só o Poder de Deus e a fé poderiam obrar
tais maravilhas". Revoltado, Lisias quis agredi-los, tomado de grande
fúria, mas dois negros demônios, espíritos do mal, se apossaram dele, que
se desesperou e invocou a intercessão dos dois santos, que prontamente se
apiedaram de seu algoz e rezaram para que tais espíritos deixassem o procônsul, deixando-o em paz. Entretanto , nem isso foi capaz de sensibilizar
o magistrado, que viu nisto um aviso dos deuses romanos por ele ter renegado a
certo momento sua crença e pela irritabilidade dos deuses para com os
santos.


Seus restos mortais foram
transportados para a cidade de Cira, na Síria, e depositados numa igreja a eles
consagrada. No século VI uma parte das relíquias foi levada para Roma e
depositada na igreja que adotou o nome dos santos. Outra parte dela foi
guardada no altar-mor da igreja de São Miguel, em Munique, na Baviera. Os
santos gêmeos são cultuados em toda a Europa, especialmente Itália, França,
Espanha e Portugal. Em 1530, na cidade de Igaraçu, em Pernambuco, foi
construída uma igreja em sua
homenagem.
Depois de mortos,
apareceram ajudando crianças que sofriam violências. Ao
gêmeo Acta é atribuído o milagre da levitação e ao gêmeo Passio a tranqüilidade
da aceitação do seu martírio. A partir do século V os milagres de cura
atribuídos aos gêmeos fizeram com que passassem a ser considerados médicos,
pois, quando em vida, exerciam a medicina na Síria, em Egéia e Ásia Menor, sem
receber qualquer pagamento. Por isso, eram chamados de anargiros, ou seja,
inimigos do dinheiro. Mais tarde, foram escolhidos patronos dos cirurgiões.
Cosme e Damião são venerados como
padroeiros dos médicos e farmacêuticos, e por causa da sua simplicidade e
inocência também são invocados como protetores das crianças.
O
culto aos dois irmãos é muito antigo, havendo registros sobre eles desde o
século 5, que relatam a existência, em certas igrejas, de um óleo santo, que
lhes levava o nome, que tinha o poder de curar doenças e dar filhos às mulheres
estéreis.

Aqui no Brasil, a devoção trazida pelos portugueses
misturou-se com o culto aos orixás-meninos (Ibjis ou Erês) da tradição africana
yoruba. São Cosme e São Damião, os santos mabaças ou gêmeos, são tão
populares quanto Santo Antônio e São João. São amplamente festejados na Bahia e
no Rio de Janeiro, onde sua festa ganha a rua e adentra aos barracões de
candomblé e terreiros de umbanda, no dia 27. No dia 27 as crianças saem às ruas
para pedir doces e esmolas em nome dos santos e, as famílias aproveitam para
fazer um grande almoço, servindo a comida típica da data: o chamado caruru dos
meninos.



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