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quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Estigmas


Estigmas, sinais distintivos da paixão de Cristo, estão sempre no centro de um debate teológico e científico.

De acordo com o Dicionário Céptico, baseado no Skeptic’s Dictionary, publicado na web por Robert Todd Carroll, "estigmas são feridas que surgem nas mãos e pés, às vezes nos flancos e cabeça, duplicando os ferimentos da crucifixão de Cristo" e não deve ser confundida com as representações de crucifixão que acontecem nas Filipinas toda sexta-feira santa.

Segundo este Dicionário, "Todos os mais ou menos 32 casos registrados de estigmas foram de Católicos Romanos, e todos, com exceção de quatro, eram mulheres. Não se conhece nenhum caso de estigmas que tenha acontecido antes do século XIII, quando Jesus crucificado se tornou um símbolo padrão do cristianismo no ocidente". O Dicionário Céptico dedica-se a dar definições, argumentos e escrever ensaios sobre assuntos relacionados ao sobrenatural, oculto, paranormal e pseudocientífico, sob o ponto de vista cético. O artigo sobre estigmas foi atualizado pela última vez em 14 de maio de 2000.

Começando com São Francisco de Assis, e incluindo figuras do tempo moderno, como o Santo Padre Pio de Pietrelcina, houve cerca de 250 casos aparentemente autênticos de indivíduos com estigmas. A Igreja Católica nunca emitiu muito sobre o tema. Ainda assim, qual seria o significado dessas chagas dolorosas nas mãos e pés de pessoas que em alguns casos mudaram o curso da história da cristandade?

Os Evangelhos mostram que, na ressurreição de Jesus, as chagas não desapareceram. Os estigmas são um sinal do que Cristo sofreu durante a paixão; portanto, há dados teológicos que precisam de muito mais estudo do que já foi feito até hoje. No Evangelho de João, por exemplo, quando Jesus entra no Cenáculo atravessando portas fechadas e saudando os discípulos, ele mostra os estigmas para se identificar. Ele disse ao descrente discípulo Tomé: "Põe teu dedo no meu lado". A consternação dos apóstolos também é um fato revelador deste mistério.

É um fenômeno particular da espiritualidade e misticismo ocidental. Desde São Francisco, tivemos um número significativo de santos e bem-aventurados que viveram a experiência desconcertante de reproduzir os estigmas de Cristo em seus corpos. Até hoje, a pesquisa tem enfatizado o caráter de configuração e imitação de Jesus, que se origina da intensa relação pessoa que essas pessoas tiveram com Ele. Tem havido insuficiente reflexão sobre a missão particular relacionada com os estigmas.

Em 1224, quando São Francisco pregava no Monte Alverne, nos Apeninos, apareceram cicatrizes que correspondiam às cinco chagas do Cristo crucificado. Esses estigmas permaneceram até o final de sua vida e teriam sido o motivo de seu enfraquecimento e sofrimento físico. Os estigmas aumentaram progressivamente por dois anos, levando-o à cegueira, até que morreu, no dia 3 de outubro de 1226. São Francisco de Assis recebeu os estigmas quando todos os seus projetos, como a fundação da ordem, aprovação da regra primitiva, e a viagem à Palestina para se tornar um mártir, falharam. Ele estava só e abandonado, e quase cego. Foi consolado por ser identificado com o Crucificado, e ainda, simultaneamente, o sofrimento dos estigmas se tornou um bem para a ordem que ele criara, e uma mensagem para toda a cristandade, e não somente para a Igreja Católica. Definitivamente, São Francisco de Assis é um santo e um verdadeiro imitador de Cristo, digno de admiração por todas as religiões do mundo inteiro.

O sucessor de São Francisco, Frei Elias, compreendeu o significado dos estigmas, e enfatizou isto em sua carta a todos os fiéis. Esta mesma mensagem e missão dos estigmas pode ser vista em Santa Margarida Maria de Pazzi e Santa Catarina de Sena. No século que terminou, esta missão foi claramente vista em pessoas como Santa Gemma Galgani (falecida em 1913), o Padre Pio de Pietrelcina (1887-1968), e Marta Robin (mística francesa, falecida em 1981, cujos escritos estão sendo estudados antes do início de seu processo de beatificação).

Gema Galgani desejava ser freira passionista, mas foi impedida por sofrer de tuberculose espinal, que, segundo se acreditava, tinha sido curada por São Gabriel Possenti, que morrera tuberculoso. Gema tinha acentuada índole religiosa e, a partir de 1899, sofreu muitas experiências místicas e extraordinárias, cuidadosamente investigadas pelo seu confessor, o padre Germano. Durante mais de 18 meses os estigmas de Cristo crucificado apareceram intermitentemente em suas mãos e pés (como no caso de São Francisco de Assis), além de outros sinais da Paixão de Cristo.

Tinha também freqüentes êxtases e visões. De natureza calada e calma, suportou sua má saúde com a maior paciência. Mas por outro lado, de vez em quando tinha um tipo de comportamento que atribuía a uma possessão diabólica. Depois de sua prematura morte, a intensa veneração por gema fez que se fosse iniciado o processo de canonização. Entretanto, algumas pessoas se opuseram devido ao caráter bastante estranho de certos fenômenos ligados a ela. Assim, foram necessárias as autoridades responsáveis explicasse que a recomendação para a canonização era devida apenas a santidade de sua vida. Não houve julgamentos (como não há em certos casos na Igreja Católica) sobre a natureza e a causa de suas experiências místicas. Gema Galgani foi canonizada em 1940.
Marta Robin se tornou conhecida depois que o famoso escritor Jean Guitton escreveu o livro "A Jornada Imóvel". Marta Robin ficou acamada por 40 anos. Assim como Gemma Galgani e Padre Pio, ela inspirou muitos grupos de espiritualidade e oração ao redor do mundo.

Para o padre passionista Tito Paolo Zecca, professor de teologia pastoral e espiritualidade na Universidade Pontifícia do Latrão, é uma “experiência de alegria e dor. O Senhor é sempre Quem toma a iniciativa. Os recipientes dos estigmas consideram isso uma imensa graça, da qual se sentem indignos. De fato, eles pedem ao Senhor que os tire, porque ficam envergonhados. Esta atitude era evidente em Padre Pio. O bem-aventurado de Pietrelcina mostra claramente o que é a missão daqueles que carregam os estigmas. Padre Pio fundou grupos de oração e a Casa para Alívio dos Sofredores, um grande hospital que faz um trabalho específico para amenizar os sofrimentos físicos. Além disso, a capacidade de intercessão de pessoas que têm os estigmas é maior, unido a outros em oração, na renovação, salvação e proteção do mundo”.

Um dos casos mais conhecidos ocorreu com Teresa Neumann, que viva na Baviera e jejuou durante trinta e seis anos, de 1926 a 1962. Na Sexta-feira Santa, os estigmas apareciam. Um controle rigoroso realizado durante quinze dias feito por cientistas, pesquisadores e observadores juramentados, permitiu verificar que nesse período, além do aparecimento das marcas, também ocorreu a "ínédia", ou seja, o fato de não se alimentar, e mesmo após ter perdido quatro litros de sangue e de suor, seu peso voltava ao normal no dia seguinte.

O resultado foi surpreendente: não havia qualquer possibilidade de fraude, pois os estigmas eram vistos se formando "sob os olhos" dos observadores. Seria o inconsciente de Teresa? Creio que, ao estudar fenômenos como este, podemos ter uma idéia do poder mental que ainda desconhecemos nos seres humanos, e claro, podemos desconhecer de nós mesmos.

É um sinal profético, um chamado, um fato surpreendente capaz de relembrar aos homens sobre o que é essencial, por exemplo, identificar-se com Cristo, e a salvação de Cristo que nos resgatou por suas chagas?

Os estigmas vêm intrigando médicos e cientistas há séculos, sem que haja uma explicação para este fenômeno que os satisfaça. Do ponto de vista religioso, trata-se de uma manifestação das chagas de Cristo sobre o corpo de algumas pessoas que se tornaram santas, pela sua extrema fé. “Para médicos mais céticos, não passa de uma reação psicossomática provocada pela mente”.

O Dr. Jorge Festas, em Mistérios da ciência e luz da fé , o Dr. Lefebure, da Étude médicale III, article I Louvain, e o Pe. Auguste Poulain em Traité de théologie mystique, foram alguns dos cientistas que opinaram sobre estigmas. Buscavam eles concluir se tratava de sugestões de mente exaltada, ou se provinham de estados de hipnose, já que achavam que, em estado normal, uma pessoa não produziria tais chagas em seu próprio corpo. Foram feitas, sempre de acordo com o seu biógrafo, testes, na presença de outros facultativos, em duas pessoas. Não conseguiram provar o que esperavam e afirmaram que, cientificamente, não achavam explicação para tais fenômenos.

Foi feita também, uma análise comparativa entre o que apuravam nessas pessoas e os estigmas do padre Pio. Segundo o livro do biógrafo, "No caso do experimento de Teresa, houve confusão entre a hemorragia estigmática e uma doença especial, que às vezes ocorre nos nefro patas". A conclusão é que não há analogia entre os dois casos. Também porque as primeiras eram lesões de tecidos, aparecidas espontaneamente, com um fluxo hemorrágico sempre fresco e vermelho, não apenas vermelhidões e inchaços. As primeiras chegaram a durar anos, não cicatrizaram com medicamentos hemostáticos; as outras foram passageiras. As primeiras não sofriam processo de decomposição; apresentavam-se inalteradas, por anos, e não exalavam mau cheiro, enquanto as outras sofriam processo normal de cicatrização.

Os suores sangüíneos, com os quais se quiseram explicar os fenômenos dos estigmas, eram provenientes da dilatação de tecidos e filtravam um líquido, com características diferentes do sangue. Não eram localizados e não formavam chagas. Está à ciência talvez, diante de um mistério a pesquisar e opinar.

De acordo com o Dicionário Céptico, de Robert Todd Carroll, "os ferimentos auto-infligidos são comuns entre pessoas com certos tipos de distúrbios mentais, mas afirmar que as feridas são milagrosas é raro, e se deve mais provavelmente à religiosidade excessiva do que a um cérebro doente, embora ambos possam estar atuando em alguns casos". Neste artigo, defende-se a idéia de que os estigmas são, mais provavelmente, feridas de ordem psicossomática, "manifestações de almas torturadas", embora a explicação preferida seja de que estas feridas tenham sido auto-infligidas, uma vez que, segundo o artigo do Dicionário Céptico, nenhum estigmático manifesta seus ferimentos do princípio ao fim na presença dos outros, só começando a sangrar quando não estão sendo observados.

A defesa de que as chagas de Cristo apareçam por influência psicossomática ganha força nos dias de hoje, em que se admite, no mundo médico, que muitas doenças, até mesmo o câncer, sejam induzidas pelo inconsciente. Um desejo profundo de identificação com uma figura idealizada, como a de Cristo, poderia levar estas pessoas a apresentar tais marcas, sem que isso seja uma decisão consciente. Deste ponto de vista, as chagas não poderiam ser tratadas como fraude, mas como um distúrbio de ordem psíquica.

Há uma série de evidências também de que a “sugestão” poderia ser capaz de produzir os estigmas, seja naturalmente em paciente histéricos, isto é, com transtornos conversivos; seja artificialmente, através da hipnose. Trabalhos de parapsicólogos confirmam isso: seria a IDEOPLASTIA, em que o ECTOPLASMA (substância ainda desconhecida, imprescindível nos chamados “fenômenos físicos” de natureza espiritual) atuaria como o elemento fundamental na formação de tais feridas - ocorreria o que na chamada Doutrina Espírita são denominadas de ANIMISMO, isto é, os estigmas seriam causados pelo próprio Espírito da pessoa, e não, um fenômeno de obsessão.

Os estigmas só começaram a se repetir depois do caso de São Francisco de Assis, como frisado, o que confirmaria o “mimetismo, a imitação”; fenômeno esse que, ao lado da “sugestão”, constitue uma das principais características da histeria. Antes de Francisco não há registros destes fenômenos.


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