Este é um artigo escrito por Paulo Néry, do blog FILMES ANTIGOS CLUB ARTIGOS, que teve a gentileza de permitir a publicação de um artigo de sua autoria. Como de praxe, o VIDEOTECA CATÓLICA respeita a mente individual e autoral, sempre divulgando seus autores ao fim de cada artigo caso assim for para meios de reprodução. Obrigado de
Marcos Neri
OS DEZ MANDAMENTOS DE 1923
Existem duas versões cinematográficas, ambos do mesmo diretor.
A primeira versão, na verdade, é um filme mais voltado para o tema moral do título, tanto que é dividida em duas partes: um prólogo contando brevemente a história de Moisés, aqui interpretado por Theodore Roberts (1861-1928), desde as pragas do Egito, a morte do primogênito do Faraó, até o recebimento das Tábuas da Lei, e tudo isso num espaço de uma hora de filme; e um conto moral nos então tempos modernos dos anos de 1920, década quando foi realizada esta primeira versão, uma parábola sobre o bem e o mal, personificados por dois irmãos, numa clara alusão de Caim e Abel da Bíblia.
Naturalmente, os recursos desta época não eram avançados como seriam tempos depois quando o cineasta realizaria a refilmagem em 1956, contudo não deixa de ser interessante que obras primas como esta não sejam inteiramente esquecidas.
O prólogo, que foi a única parte refeita por DeMille na versão de 1956, possivelmente é melhor que a segunda parte da película, pois funciona melhor para os espectadores modernos, uma vez que DeMille reutilizou no remake de 1956 com um enredo mais dinâmico, e recursos tecnológicos mais avançados.
A cena mais emocionante da versão de 1923 é a perseguição dos egípcios contra os hebreus após o Exôdo, liderados por Moisés (Theodore Roberts, um ator teatral americano muito respeitado nos Estados Unidos, apelidado de “O Grande Duque de Hollywood”, e foi um dos primeiros atores da trupe de Cecil B De Mille, aparecendo em 23 filmes do cineasta. Faleceu em 1928 e seu funeral foi assistido por cerca de 2.000 pessoas). Roberts faz um Moisés de aparência selvagem e virulenta, ao contrário de Charlton Heston que daria ao papel ar de veemência e virilidade, mas conseguiu convencer o público da época.
O exército comandado pelo Faraó Ramsés (o ator francês Charles de Rochefort, 1879-1952) persegue os hebreus, o que culmina com a abertura do Mar Vermelho.
Depois de definir a história de como os Dez Mandamentos veio a surgir, DeMille salta mais a frente, de início do século 20 da América para ver o poder dos mandamentos em ação. Esta história então moderna - sobre uma mãe sofredora (Edythe Chapman, 1863-1948), seu filho bom (Richard Dix, 1893-1949), seu filho rebelde (Rod La Roque, 1898-1969) e a mulher que os dois irmãos amam (Leatrice Joy, 1893-1985) – ainda resiste bem, e vale como um questionamento da aplicação real dos Dez Mandamentos no mundo moderno, onde tem como pano de fundo este tema.
A roteirista Jeanie Macpherson (1887-1948), assídua colaboradora de DeMille, começou como atriz e passou a se tornar uma das pioneiras escritoras do sexo feminino no cinema, bem como um dos 36 membros fundadores da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. A ela é a autoria do script da versão de 1923 de Os Dez Mandamentos.
Depois de definir a história de como os Dez Mandamentos veio a surgir, DeMille salta mais a frente, de início do século 20 da América para ver o poder dos mandamentos em ação. Esta história então moderna - sobre uma mãe sofredora (Edythe Chapman, 1863-1948), seu filho bom (Richard Dix, 1893-1949), seu filho rebelde (Rod La Roque, 1898-1969) e a mulher que os dois irmãos amam (Leatrice Joy, 1893-1985) – ainda resiste bem, e vale como um questionamento da aplicação real dos Dez Mandamentos no mundo moderno, onde tem como pano de fundo este tema.
No elenco, despontam ainda Estelle Taylor (1894-1958) como Miriam, a irmã de Moisés; Julia Faye (1893-1966) como a esposa do Faraó (Faye ainda participaria da versão de 1956, e era uma atriz característica nas produções de DeMille); e Nita Naldi (1895-1961), da primeira versão de Sangue e Areia com Rudolph Valentino, como a amante exótica do filho rebelde na segunda parte da história.
O DEZ MANDAMENTOS DE 1956
O nome de Cecil Blount DeMille entrou para a História como sinônimo de espetáculo no sentido literal da palavra. Há muito o cineasta sonhava em realizar o remake de Os Dez Mandamentos de maneira esplendorosa, mas para isso, precisava de ajuda dos executivos da própria Paramount, estúdio este que o próprio diretor ajudara a fundar.
Um belo dia, DeMille se dirigiu à mesa dos “cartolas” da Paramount, e disse: “Vejam bem, eu faço o que me pedem durante anos. Já trouxe boa bilheteria para esta empresa, e agora é minha vez de vocês me ajudarem. Vou fazer um novo filme sobre os Dez Mandamentos e será filmado no Egito, e não sei quanto vai custar, mas quero que me deem cada centavo a investir ou nunca mais faço um filme para este estúdio”.
Cumprido o trato por parte da Paramount, DeMille começou a por mãos na massa. Tornou-se o filme mais caro da história da empresa, custando 13,5 milhões de dólares, mas acabou se tornando o maior êxito comercial do estúdio, que faturou 43 milhões de dólares só no mercado norte-americano. Tornou-se também o mais longo filme da carreira de DeMille, 220 minutos (a versão de 1923 tinha 136 minutos), e o último de sua longa trajetória.
Rodado no Egito e em estúdios de Paris e Hollywood, as filmagens começaram em outubro de 1954 e a montagem consumiu nove meses. Só um ano foi à preparação do roteiro, escrito a seis mãos.
O filme não se baseia totalmente no Antigo Testamento. Ele se baseia principalmente em Eusébio de Cesareia e Flávio Josefo, renomados historiadores da antiguidade, e contando, mesmo que a seu modo, a vida de Moisés também em seus primeiros trinta anos. Como se trata de um filme romanceado, muitos fatos foram deturpados. O Faraó da época de Moisés não recebe nome na Bíblia, muito embora se acredite, segundo alguns historiadores, que foi de fato, Ramsés II; As crianças hebreias do sexo masculino, na época em que Moisés era recém-nascido, foram atiradas ao Rio Nilo, não mortas à espada (talvez DeMille quisesse fazer uma alusão ao nascimento de Jesus e ao massacre dos inocentes de Belém); Moisés conheceu diretamente Deus no Monte Horeb, não no Sinai.
A primeira escolha para interpretar Moisés na segunda versão de DeMille foi o astro cowboy William Boyd (1895-1972), velho amigo do diretor e famoso por ser o destemido herói cowboy Hopalong Cassidy em dezenas de faroestes B das décadas de 1930 a 1950, entretanto ele recusou. Logo, veio a idéia de DeMille escolher um jovem e promissor ator com quem trabalhara dois anos antes, em um outro espetáculo que rendeu a ele não somente boa bilheteria, mas também o Oscar de melhor filme de 1952: O Maior Espetáculo da Terra (The Greatest Show on Earth). Este jovem era Charlton Heston, no esplendor de sua forma física aos 30 anos, casado e com um filho (que fez participação no filme como sendo o "bebê Moisés" e que se tornaria o diretor Fraser Clark Heston) e o mais importante- Heston já era um contratado da Paramount.
DeMille visitou o Vaticano para algumas pesquisas e avistou a famosa estátua de Moisés, de autoria de Michelangelo. Ele viu uma ligeira semelhança entre a famosa escultura renascentista com a fisionomia do ator Charlton Heston, e de fato, chega a ser verdadeiramente impressionante, e mais ainda: Heston não contava que, no futuro, desempenharia o grande artista da Renascença, no filme Agônia e Êxtase, de Carol Reed, em 1965. O papel de Moisés impulsionou Heston como grande nome associado aos épicos, consagrando-se em Ben-Hur, em 1959, dirigido por William Wyler, e El-Cid, de 1961, dirigido por Anthony Mann.
Inicialmente, o responsável pela trilha sonora de Os Dez Mandamentos seria Victor Young (1899-1956), que trabalhava com Cecil B. DeMille desde 1940, e para ele, compôs a bela trilha de Sansão e Dalila, em 1949. Entretanto, Young não pôde aceitar o convite para este novo trabalho, devido a motivos de saúde (pouco tempo depois, ele morreria por problemas de um acidente vascular cerebral), o que abriu espaço para a contratação do jovem Elmer Bernstein (1922-2004), que ficaria célebre em muitas outras composições para a Sétima Arte.
As filmagens fizeram consumir muito a saúde de DeMille, que sofreu um ataque cardíaco durante a produção. O diretor ficou alguns dias afastados dos sets, mas logo retornou ao trabalho, contrariando as ordens dos médicos. Para criar no filme o efeito da tempestade de areia no deserto, DeMille pediu emprestado à Força Aérea Egípcia uma máquina especial, destinada a criar ventanias.
Apesar de todas as excentricidades, DeMille era generoso com colegas e amigos de profissão, e chamou muitos deles para participar da refilmagem de seu filme, como a atriz Julia Faye, que participou na primeira versão em um papel desempenhado por Anne Baxter (1923-1985) aqui na segunda – como também o ator H.B.Warner (1876-1958- foto), que participa aqui em seu último filme. Warner interpreta um senhor de idade que pede para morrer, durante a sequência do êxodo dos hebreus pelo deserto. Ele foi o Cristo de O Rei dos Reis (The King of Kings), obra do cineasta realizada em 1926.
O Remake arrastou multidões aos cinemas em todos os cantos da Terra e marcou para sempre a filmografia de DeMille, e é espetacular até hoje a cena da abertura das águas do Mar Vermelho para dar passagem aos hebreus.
Elenco all-star em que despontam ainda Edward G. Robinson (1893-1973) como o renegado Dathan; Vincent Price (1911-1993) como Baka, que é morto por Moisés; Anne Baxter (1923-1985), bastante sensual como Nefretiri, esposa do Faraó Ramsés II (Brynner) mas apaixonada por Moisés. Detalhe interessante que na primeira versão (interpretada por Julia Faye), não havia um nome para ela, chamando-a assim como a “esposa do Faraó”, e outro detalhe importante que o nome da mesma personagem, que seria Nefretiti (que é o nome correto no ponto histórico), foi mudado por DeMille para Nefretiri, pois o final “titi” em inglês que dizer “tetas”, e o cineasta ficou com receio de gozações do nome tendo em vista que fazia um filme sério e religioso; o canastrão boa pinta John Derek (1924-1989), no papel de Josué, amigo e guarda-costas de Moisés; a bela Debra Paget, como Liliam, esposa de Josué; A Dama do Teatro americano Judith Anderson (1897- 1972), como Memnet; John Carradine (1906-1988) como o irmão de Moisés, Aaron; Douglass Drumbille (1889-1974) como o sacerdote egípcio Jannes; e Olive Deering (1918-1986) no papel de Miriam, irmã de Moisés. Detalhes para as participações de Woody Strode, Robert Vaughn, e Clint Walker.
A Segunda versão de Os Dez Mandamentos rendeu um Oscar de efeitos especiais e marcou para sempre a longa e vasta filmografia de um dos maiores gênios da Sétima Arte, que inventou o “cinema-espetáculo”, que foi Cecil Blount DeMille, que ainda queria trabalhar em mais uma refilmagem de um de seus grandes clássicos, Lafite, o Corsário sem Pátria (the buccaneer), de 1938 e que foi estrelado por Fredrc March, mas encarregou seu genro Anthony Quinn para dirigir, embora DeMille foi o supervisor e produtor executivo, pois os problemas de saúde vieram ainda mais a agravar o cineasta, que já contava com 77 anos de idade.
Apenas um mês depois do lançamento (que foi em dezembro de 1958) de mais um remake do diretor (Dirigido por Quinn), que tinha Yul Brynner no papel principal, Charles Boyer, e Charlton Heston numa participação especial como Andrew Jackson, Cecil B. DeMille morreu em 21 de janeiro de 1959, entrando assim definitivamente para a História da Cinematografia Mundial.
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