Páginas

quarta-feira, 31 de julho de 2013

† Vida e obras de Santo Inácio de Loyola


Padre J. Ramón F. de la Cigoña SJ

                                                  

Conhecer o contexto das pessoas é fundamental para entendê-las por dentro e não se assustar com o que expressam. Espaço e tempo, geografia e cultura dominante configuram o mais profundo das pessoas. Corpo e alma, emoção e sensibilidade são determinados, muitas vezes, pelo contexto que nos rodeia. Íñigo (primeiro nome de Inácio)López de Loyola não fugiu dessa regra universal.

Temos raízes profundas afincadas na terra em que nascemos e vivemos. Dela extraímos não só a vida, mas também o gosto e o desgosto que sentimos. A história do nosso povo, da própria família, os trunfos e fracassos, medos e pecados são como personagens vivos que nos habitam.

O pequeno rio Urola corre pertinho da Casa-torre dos Loyolas. As macieiras e os castanheiros são árvores freqüentes daquela região. Duas montanhas, uma delas majestosa, o Izarraitz, escondem este lugar entre as pequenas localidades de Azpeitia e Azcoitia. Lá, os Loyolas foram batizados na fé católica.

Há fatos banais que são talvez vividos distorcidamente porque assim foram sentidos e experimentados. Um exemplo? Oorgulho de casta (país, família, própria pessoa) é uma das vertentes radicais do modo natural de ser de Íñigo de Loyola. Esse jovem vive num vale paradisíaco. Sua Casa-torre, situada sobre um pequeno relevo, estava rodeada por um bosque frondoso. Uma árvore maior assinalava o lugar da casa.

Nascer num vale, com montanhas que cortam o horizonte, significa viver num mundo limitado e ensimesmado. Não é fácil subir, ir além e olhar para longe dos próprios horizontes.


O início do século XVI foi marcado por algumas características que o fazem, de algum modo, parecido com o nosso. É o fim da Idade Média e o começo do Renascimento. Falava-se muito em “decadência”. Os espíritos mais lúcidos tinham a impressão de presenciar o fim de uma época e o nascimento de outra. E de fato, assim era. As velhas instituições feudais entravam em crise. Os conceitos de nobreza, cavalheirismo, vassalagem e serviço a um único senhor, rei ou imperador estavam desgastados pelo uso e abuso.

Também hoje falamos em crise das instituições e da cultura. Muitos não levam mais a sério as leis constituídas, as normas estabelecidas e, menos ainda, as tradições familiares. A expressão “dou-lhe a minha palavra!” não serve mais para nada! Hoje precisamos de documentos, escritos e até carimbos do cartório para crer na palavra dada. E o manter “o devido respeito às senhoras e senhoritas” faz sorrir sorrateiramente as nossas próprias meninas. As idéias e os ideais de autoridade, obrigação e dever estão um tanto desgastados.

No tempo de Inácio, as descobertas geográficas (Vasco da Gama, Cristóvão Colombo...), fruto de grandes investimentos econômicos, tinham ampliado sensivelmente as fronteiras do mundo conhecido. A invenção da imprensa facilitou a difusão da cultura, até então privilégio das cortes e mosteiros.

Hoje, o desenvolvimento técnico-científico reduziu as distâncias do nosso planeta, descortinando possibilidades de viagens espaciais e extraterrestres. A comunicação entre os homens cresceu vertiginosamente por meio do telefone, rádio, TV e Internet.... É a revolução da informática.

No tempo de Inácio, havia um grande desejo de reformas. Era preciso adaptar as velhas instituições medievais aos novos tempos. Falava-se muito em “renascer” (era o começo do “Renascimento”), “humanismo” (voltar aos autores clássicos greco-romanos)... O mundo moderno vivia seu alvorecer. Começava a despontar o “sujeito” com seus valores e pontos de vista próprios.

Também hoje, no início de um novo milênio, sentimos desejos de renovação interior, mudança de paradigmas e transformação de estruturas. Parece como se estivéssemos redescobrindo a importância vital do sujeito (“psicologia”) e do seu entorno (“ecologia”); exaltamos os valores primitivos (povos indígenas, culturas minoritárias, religiosidade popular...) e as particularidades de grupos e de sub-culturas. Um novo mundo renasce, embora não vislumbramos, ainda, como ele será. Sentimos dificuldade de adaptar-nos ao velho; mas não conseguimos habituar-nos ao novo.


E no meio de tudo isso, como fica a família?Ninguém é uma ilha! O código genético recebido dos pais e as marcas deixadas pelos nossos antepassados são de grande importância. Em qualquer biografia é mais interessante a “sintonia espiritual”do que as coincidências cronológicas, a não ser que sejam lidas como “teo-incidências”. Sentir-se amado e acolhido são experiências marcantes e condicionantes de toda uma caminhada.

O velho brasão heráldico dos Oñaz e Loyola, bem exposto na entrada principal da casa, com dois lobos (= López!), simboliza ousadia, agressividade e poder dessa família. Eles, como lobos vorazes, eram capazes de entrar até no mais íntimo dos lares vizinhos para roubar a comida que, com tanto trabalho, as pessoas conseguiram. Íñigo não só nasceu numa família violenta como também viveu num mundo isolado da civilização urbana. Isolado, não tanto pelo espaço físico, como pela distância imposta pela sua linhagem.

Os Loyolas não tinham título de nobreza, mas pertenciam às famílias poderosas daquele lugar.

Entre as famílias Oñaz e Loyola, havia uma rivalidade impetuosa que se traduzia em grupos opostos: os oñacinos e os gamboínos. Essa intriga levou quase a uma guerra civil e a graves e inumeráveis violências. O poder central (Reis Católicos) teve que entrar nessa disputa para aliviar e diminuir essa rivalidade. O avô de Íñigo foi castigado sendo exilado da sua casa, enquanto essa perdia suas defesas e o piso superior era derrubado.

Pouco conhecemos da família de Inácio López de Loyola. Da sua mãe, Íñigo nunca disse nada. Morreu no parto? Pouco depois? Sabemos que dona Marina teve 13 filhos e Íñigo era o caçula. Sua ama-de-leite, Maria Garín, afirmou, com certeza e energicamente, no processo de beatificação e contra o parecer de toda a Companhia nascente (e até do próprio Inácio na sua Autobiografia), que o “pai Inácio tinha alguns anos a mais de quantos ele mesmo cria ter”.

A morte prematura de D. Marina pertence às raízes escondidas da personalidade de Íñigo. A falta da mãe, nos primeiros anos da vida, implica a privação de certas experiências e funções: proteção, liberdade, ordem, segurança... É a mãe quem transmite modelos e inspira confiança; sua ausência pode provocar, dizem os estudiosos, insuficiente crescimento corporal. Sabemos que Íñigo, contrariando a média de altura dos bascos, era baixinho. Ele tinha 1,58m. de altura. Um padre cisterciense o chamou carinhosamente, numa homilia, "homenzinho de Deus".

A figura materna foi suprida, positivamente, por outras figuras femininas: a da mãe de leite, a da sua ótima cunhada Madalena de Araóz e a daquelas outras piedosas mulheres que mais tarde conhecerá em Manresa. A uma delas chamará, afetuosamente, de "mãe".


Íñigo não conheceu os avós, e seu pai, Beltrão, morreu quando ele tinha apenas 16 anos.

Outro traço que certamente marcou a psicologia de Íñigo foi o de ser o caçula . Desde a data de casamento dos pais até o seu nascimento, passaram 24 anos e nasceram 12 irmãos.

Quais os modelos de vida que Íñigo assimilou nessa sua família? O ambiente era, naturalmente, cristão, com as típicas sombras, próprias da época. Uma coisa é certa: Íñigo não nasceu santo, nem duma família santa.

Seus irmãos? João, o primogênito e Beltrão, o terceiro, morreram guerreando em Nápoles (1496). Hernando veio para América fazer dinheiro e aqui desapareceu. Pedro se tornou sacerdote da paróquia de Azpeitia e, contudo, tinha duas filhas! Suas irmãs? Juaniza, Madalena, Petronila e Sancha... O pai deixou, também, dois filhos bastardos.

Quando o corregedor da Província quis processar Íñigo e seu irmão padre "por delitos enormes..." acontecidos nos dias de Carnaval do ano de 1515, ele fugiu para Loyola e invocou sua condição de "clérigo". Apelou ao tribunal eclesiástico para escapar da justiça ordinária. Contudo, o corregedor manteve sua acusação afirmando que Íñigo jamais usara veste de clérigo e que, pelo contrário, andava, freqüentemente, armado, tinha cabelos cumpridos, roupas vistosas e um gorro vermelho típico do bando dos "oñacinos". A "tonsura clerical", recebida prematuramente um dia, era uma forma de manter privilégios indevidos numa sociedade onde a maioria das pessoas carecia deles.

Seu pai, certamente, ficou satisfeito quando viu partir Íñigo para o palácio real de Arévalo. Viveria com a família do ministro do Tesouro Real João Velázquez de Cuéllar,casado com Dona Maria de Velasco, parente dos Loyolas. Lá, passou os anos da sua juventude (1506-1517) e se fez homem, no meio do luxo e da vaidade da corte do Rei da Espanha.

3. Igreja, santa e pecadora. E a Igreja daquele tempo, como era? A Igreja não era alheia à profunda crise experimentada pela sociedade e pelas pessoas; participava, também, dessa mesma decadência. Precisava de renovação; sair do seu nominalismo e legalismo.

Foi o frade agostiniano Lutero (1483-1546), mais moço que Inácio, quem desencadeou a Reforma Protestante. Foram ventos impetuosos que sacudiram e implodiram a cristandade a partir da Alemanha.

Também em nossos dias, a Igreja está em processo de reforma, crescimento e atualização das suas estruturas. O desejo de viver e irradiar a fé cristã, no contexto de um mundo secularizado e “pós-moderno”, exige dos cristãos maior coerência entre fé e vida para poder inculturar a própria fé numa sociedade irreversivelmente pluralista.

Se, por uma lado cresce, hoje, o desejo de unidade entre as diversas Igrejas cristãs(ecumenismo), por outro, o fenômeno do fundamentalismo dos novos movimentos religiosos divide, cada vez mais, os cristãos. O Concílio Vaticano II e as Conferencias Gerais do Episcopado Latino-americano (Rio de Janeiro/1955, Medellim/1968, Puebla/1979, Santo Domingo/1992 e Aparecida/2007) orientaram decididamente os rumos do catolicismo contemporâneo.

No meio disso tudo, da geografia afastada, da história familiar violenta e complexa, surge uma pergunta: “que vai farás da tua vida, Íñigo de Loyola?” Entre tantos condicionamentos negativos, como refazer positivamente a vida?

Antes de ser Inácio, foi Íñigo (ignis = fogo!). Íñigo é o nome do velho homem (violento, apaixonado e mulherengo!); Inácio, pelo contrário, é o nome do novo homem (humilde, serviçal e fraterno!).


Inácio é um convertido e por isso mesmo radical! Deus entrou na sua vida muito mais fundo do que aquela bala de bombarda na sua carne, quando ferido na bendita batalha de Pamplona. Quando ele caiu, ruíram sonhos e fantasias mundanas. Descobriu que na sua alma havia feridas mais profundas e doídas do que aquelas de seu corpo. Experimentou sua fraqueza e também a bondade daqueles que dele cuidavam. Aos poucos, foi percebendo que Deus o poupara e começou a brotar nele um sentimento profundo de gratidão.

Uma vez curado das feridas da guerra de Pamplona, retirou-se a Manresa, pequena localidade da terra Catalã, para confrontar toda sua vida passada com a palavra de Deus. Precisava fazer isso, passar por essa experiência durante quase 9 meses. Foi um segundo nascimento! Sem o saber, iniciara os Exercícios Espirituais (EE), marca registrada da sua espiritualidade. Os EE são uma autobiografia pedagógica, salvíficamente escrita;“modo e ordem” que cada um tem de sentir e saborear a descoberta do “sentido da história”própria.

Inácio experimenta o grande amor de Deus que o chama para ser companheiro do seu Filho. Eis sua grande experiência: Deus não só o salva da sua condenação (e autocondenação!), mas misericordiosamente o chama para uma missão. “Salvando-me me chamavas; chamando-me me salvavas!...” E, manco como estava, colocou-se, feliz, a caminho e no seguimento de Jesus!

Inácio de Loyola foi um homem de Deus, participou plenamente das lutas, alegrias e tristezas dos homens da sua época. Contemplou o mundo de outrora com olhos de fé, com uma vontade imensa de colaborar com o Projeto de Deus de transformar a realidade de pecado em plenitude do Reino. Deixou-se conduzir pela Palavra interior que o interpelava e convidava a ir sempre mais fundo na vivência do Evangelho. E assim foi longe. Percorrerá o mundo com os companheiros que ele mesmo formara. Assim, viajará pela Europa inteira com Pedro Fabro e João Coduri; chegará às praias da Índia e do Japão nos pés de Francisco Xavier; e ao Brasil, com os padres Nóbrega e Anchieta. Ele desejava que o mundo todo participasse, conscientemente, da salvação oferecida, gratuitamente, em Jesus Cristo!


 Escritos de Santo Inácio de Loyola.

E então, que coisas pregais?” perguntou o frade dominicano da Igreja Santo Estêvão de Salamanca.

Nós não pregamos; apenas falamos com algumas pessoas, familiarmente, sobre as coisas de Deus, conversando, depois do almoço, com algumas pessoas que nos chamam.
Quais as coisas de Deus que pregais, pois é isto que queríamos saber, disse o frade.
Falamos ora de uma virtude ora de outra e sempre louvando; ora de um vício ora de outro e aqui repreendendo.
Vós não sois letrados e falais de virtudes e de vícios; ora, destas coisas só se pode falar de duas maneiras: ou por letras ou pelo espírito Santo. Não por letras, ergo pelo Espírito Santo. E é este ponto do Espírito Santo que gostaríamos de saber.
A pesar do silogismo, é falso dizer que só podem falar de Deus os letrados ou os iluminados.Ínhigo não era ingênuo. Parou, refletiu e não gostou desse tipo de argumentação. E não quis falar mais sobre esse assunto. Ficou lá três dias e, depois, foi levado para uma cadeia comum.

O Vigário do Bispo veio examiná-lo e Ínhigo entregou-lhe o que mais amava neste mundo: os Exercícios Espirituais, para que os examinassem. Os juizes não se atreveram a condenar nada e lhe pediram para não determinar o que é pecado mortal ou venial... Ínhigo “percebeu que lhe fechavam a boca para que não ajudassem ao próximo...” Ninguém lhe fechava a boca para falar de Deus, mas para falar de Deus para ajudar o próximo.

Inácio nunca foi um escritor e, menos ainda, um literato. Ele era um pensador! Alguém definiu o povo basco como pessoas "de poucas palavras e de grandes obras". Em Inácio, as obras eram suas palavras! Como todos os de sua região, tinha enorme respeito à palavra dada, longamente meditada, antes de ser expressa. Sabia que a palavra definia as pessoas. Por isso, por meio da "palavra" falada, escrita e concretizada, realizou seu maior apostolado.

O povo basco, mais que intelectual ou contemplativo,é ativo. Inácio, bem antes da sua conversão, pensava em "fazer grandes coisas pela dama dos seus pensamentos". Após sua conversão, traduziu esse sentimento do "fazer" por um outro: "ajudar o próximo". Nasce, assim, seu fundamental ideal de "serviço" que outra coisa não é do que a sublimação e enfoque positivo daquele “querer fazer".



Quais os escritos de Inácio?

1. Antes da sua conversão e provavelmente no Castelo de Arévalo, Inácio escreveu um poema em honra de São Pedro. Esse escrito se perdeu.

2. Em Loyola, “pôs-se a escrever um livro com muita diligência... O livro teve 300 folhas... Traçava as palavras de Cristo com tinta vermelha; as de Nossa Senhora, com tinta azul. O papel era liso e com linhas, e a letra caligráfica, pois era bom escrevente”. Por desgraça, esse escrito também se perdeu.

3. O Pe. Laínez, companheiro do santo, afirma que houve um tempo em que Inácio se pôs a escrever um tratado sobre a Santíssima Trindade. Não sabemos mais nada sobre esse escrito.

4. Os “Exercícios Espirituais” éo livro que mais influência teve na transformação de pessoas e estruturas, nas mais diversas partes do mundo. Esse livrinho, não mais do que 200 pequenas páginas, apresenta uma metodologia própria que permite percorrer um caminho interior que vai do “próprio eu” para um “eu” mais livre, profundo e comprometido. Em etapas diferentes, chamadas de “Semanas”, o exercitante toma consciência do que é e do que é chamado a ser. No final dessa experiência (30 dias intensivos ou 9 meses exercitando-se, por mais de uma hora cada dia), o exercitante notará em si uma nova sensibilidade que o permitirá encontrar Deus em tudo e todos, fazendo-se um “contemplativo na ação”. Nestes quase 500 anos que já se passaram, são muitos os que experimentam os efeitos positivos desta “mistagogia” que brota dos Exercícios Espirituais.

5. Relação da sua viagem à Terra Santa, em 1523. Documento perdido.

6. Dois breves Diretórios de Exercícios.

7. A Deliberação dos primeiros companheiros,numa reunião tida em Roma, em 1539.

8. A Fórmula do Instituto, documento fundacional da Companhia, apresentado ao Papa Paulo III pelo Cardeal Contarini, no dia 3 de setembro de 1539.

9. Relação da sua eleição como Geral da Companhia e a primeira profissão na basílica de São Paulo Fora dos Muros, no dia 22 de abril de 1541.

10. Deliberação sobre a pobreza, pelo terceiro modo de eleição.

11. Um Diário Espiritual. Só se conserva o que escreveu entre os dias 2 de fevereiro de 1544 a 27 de fevereiro de 1545.

12. Outra obra deste homem iluminado por Deus são as Constituições da Companhia de Jesus. Essa obra, magnífica na sua constituição, é mais uma experiência espiritual do que um manual jurídico ou programático dos jesuítas. Elaboradas nos últimos anos de sua vida (1547-1550), as Constituições são o corpo dado ao Espírito para que faça sua obra por meio dos novos companheiros de Jesus.

13. Diversas Regras.

14. Uma série de cartas e instruções. Ainda se conservam aproximadamente 7.000 delas.

15. A famosa Autobiografia ditada em Roma ao Pe. Gonçalves da Câmara, em 1553 e 1555. Nadal definiu a autobiografia de Inácio como seu “testamento espiritual”. De fato, não há melhor testamento do que a própria vida! O que interessa é “como Deus o dirigiu, desde o início da sua conversão!”Não é fácil dizer como o Senhor nos ajuda nas próprias contradições!...

O texto da Autobiografia teve uma história sofrida. Após a morte de Inácio e entre 1556 e 1567, correram algumas cópias manuscritas e uma tradução, em latim, do texto do Pe. Câmara. Mas, em 1567, Francisco de Borja, terceiro Geral da Companhia, encarregou ao Pe. Ribadeneira escrever uma biografia oficial do santo, proibindo a leitura e divulgação da Autobiografia por considerá-la “inútil e perigosa”. E assim, esse precioso texto ficou aprisionado até 1929, quando foi tirado da sua prolongada quarentena e começou a ser publicado em diversas línguas.

5. Espiritualidade Inaciana. Santo Inácio não condensou sistematicamente em um livro a sua doutrina espiritual, mas essa pode ser deduzida, fundamentalmente, da sua vida e dos seus diversos escritos.


Falemos, primeiro, do "espírito” de santo Inácio para entender melhor a sua “espiritualidade”. O Espírito de Deus, dado a essa pessoa concreta, o fez pai de uma multidão de discípulos e discípulas de Jesus. Este modo de ser e viver é algo concreto e íntimo: vida que só se compreende quando se experimenta e comunica.

O espírito de Inácio é transformante e transformador . Ele chega à medula dos ossos, até o mais profundo do próprio “eu” para resgatá-lo e re-orientá-lo para uma ação abertamente salvífica. Ele é essencialmente "claro". Assim o definia o Pe. Nadal, discípulo privilegiado de Inácio, confidente e seu braço direito: "claritas quaedam occupans ac dirigens", isto é, uma certa clareza que ocupa (a mente liberada) e que dirige (toda ação). Clareza de oração, orientação e ação. Amor liberado de toda afeição ou confusão da razão. Inácio, como um verdadeiro místico, agia sempre “no Senhor”.

O espírito de Inácio é uma aliança da pessoa com Deus. É próprio dos “acordos” fazer-se notar menos que os “desacordos”. Quem rema contracorrente sente mais a correnteza do rio do que aquele que se deixa levar por ela. Inácio decidiu deixar-se conduzir pelo Espírito de Deus, pela verdade, liberdade e amor. Por isso, apesar de tantas vicissitudes, caminhou livre na paz e na verdadeira humildade.

O Espírito de Inácio é a vontade animada pelo verdadeiro amor . Quando escutamos que alguém tem "espírito de luta”, de trabalho ou, pelo contrário, “espirito de porco” (de contradição) sabemos o que se quer dizer. O “espírito” é uma disposição afetiva atual da vontade em relação a um objeto ou ação empenhada. Esse espírito não se importa com os sacrifícios pessoais experimentados, pois busca interesses e experiências maiores. Evidentemente que aqui nos referimos ao “espírito bom”, que anima para coisas boas. O espírito bom guia nossa vontade pelo e para o amor.

Esse espírito aferrou radicalmente Inácio a Deus. Por isso, a Companhia, seguindo fielmente a Inácio, se apresenta como um caminho para Deus: "via quaedam ad Deum".

Lendo as regras de discernimento dos espíritos nos Exercícios Espirituais, sentimos que “espírito”, para Inácio, é sinônimo de consolação, manifestação afetiva de uma presença divina. As consolações sensíveis são chamadas “espírito” e são espontaneidade afetiva, sensibilidade.A espiritualidade inaciana é, pois, esse modo próprio de ser e viver que tem aqueles e aquelas que experimentara os Exercícios Espirituais.


A espiritualidade inaciana faz com que cada um encontre a sua própria vocação e se aperfeiçoe nela . Assim, o monge beneditino de Montecasino que fez, na quaresma de 1538, junto com o Dr. Ortíz, embaixador de Carlos V, o mês dos Exercícios sob a direção de Santo Inácio, não saiu daquela experiência “meio-jesuíta”, mas um verdadeiro e autêntico beneditino, penetrado da substância de Cassiano, Gregório e Bernardo, mais amante dos ofícios divinos e mais convicto do dinamismo do seu voto de estabilidade, tão caraterístico da Ordem beneditina.

Diante do pluralismo sócio-cultural reinante, a espiritualidade inaciana, tanto para leigos e leigas como para os jesuítas, verdadeiramente teocêntrica, se define com as seguintes características:

Profundo amor pessoal a Jesus Cristo ;

Sensibilidade contemplativa na ação, pois o Deus de Inácio é o Deus que trabalha em todas as coisas;

Serviço , pois as pessoas se sentem servidores da missão de Cristo na Igreja;
Solidariedade com os mais necessitados;

Parceria e colaboração com pessoas de boa vontade;
Apostolado qualificado;

Liberdade operativa, numa santa audácia.

6. Propostas para o Terceiro Milênio. Num mundo cansado, confuso e polarizado, a espiritualidade inaciana se apresenta como síntesedo que há de melhor nas pessoas e nas diversas culturas. Sem medo do futuro e sem prender-se demasiadamente ao passado, tenta viver o presente com liberdade e criatividade, como filhos no Filho e irmãos de todos os homens e mulheres, sem distinção que rompa a fraternidade universal.

Vivemos tempos confusos, onde o trigo e a cizânia se misturam. Nem todo aquele que usa o nome de Jesus tem o seu “espírito”. É preciso discernir-los, para descobrir o Deus vivo que surpreende e desconcerta. Mas, essa descoberta é penosa e cheia de ilusões (projeções). Nem toda experiência aparentemente “religiosa” é de Deus!

Num mundo dicotômico, Inácio nos ensina a perceber a salvação da história . A história de salvação não é paralela a história humana. Todas as pessoas, sem preconceitos de raça, condição social ou religião, estão destinadas a tomar consciência dessa salvação oferecida e acontecida. Somos convidados a viver, na diversidade, o dom da unidade. A salvação não uniformiza, mas diversifica ao máximo. A salvação tocou a vida concreta e condicionada de todos os homens e mulheres do nosso planeta. A graça estimula e não anula. A fé provoca grandes rupturas, mas não destrói nada. Tudo colabora para uma organização maior, para uma globalização, não só da sociedade, mas também da solidariedade.

Estamos entrando numa nova fase da história. O primeiro milênio do cristianismo contemplou o “reinado absoluto de Deus” e, consequentemente, a marginalização do homem. A pompa da liturgia bizantina foi fiel expoente dessa primeira fase. Esse modo de proceder trouxe a morte do homem pelo homem, em nome do Absoluto!

O segundo milênio , seguindo a lei do pêndulo, tentou ser o “reinado absoluto do homem” e, trouxe em conseqüência, a marginalização de Deus. Renascimento, Iluminismo e Modernidade são expoentes desse segundo tempo. Esse modo técnico e puramente científico de encarar a vida trouxe pobreza extrema, violência máxima e a morte do homem pelo homem, em nome da ciência e da razão.

Entra agora o terceiro milênio e nos encontra cansados e desiludidos . Desejamos sínteses que respeitem nossos sonhos, propostas animadoras e não redutoras. Deus não será mais rival do homem, nem o homem terá ciúme de Deus, pois ambos serão parceiros e os melhores companheiros. Essa nova fase, apenas iniciada, convive ainda com os estertores do milênio que finaliza!

A experiência de Inácio de Loyola nos pode iluminar e ajudar. Ele sentiu que a entrada singela no horizonte de Deus não foi apenas um acontecimento numinoso, encantador e efêmero, mas possibilitou o aparecimento de um "novo sujeito", mais verdadeiro, fraterno e gratuito. Inácio rompeu o encantamento da bolha de sabão que o rodeava e se abriu para a realidade histórica e transcendente de Deus, revelado em Jesus Cristo, encontrando um novo sentido à vida. Ele se fez companheiro de Jesus!


Hoje, muitas pessoas, leigos e leigas (CVX, voluntários...), religiosos e religiosas, padres e irmãos jesuítas vivem a espiritualidade inaciana nas mais diversas situações da vida:

No campo científico ou no mundo dos pobres e marginados;

No campo da cultura explícita (Universidades, Colégios, Simpósios, etc...) ou naquele outro mais escondido das paróquias rurais e indígenas;

No apostolado dos Exercícios Espirituais ou na direção espiritual ou confessionário;
No campo imenso dos Meios de Comunicação Social (gráficas, jornais, revistas, rádio, TV...) ou naquele outro das famílias, grupos e movimentos.

Seja como for, o que importa é em tudo, amar e servir. Foi isso que Inácio experimentou e é o que nós, jesuítas e leigos de espiritualidade inaciana, tentamos viver.



Pequena Bibliografia:

A . Rocha Morsch sj. Inácio de Loyola. São Paulo 1993.

André Ravier sj. Inácio de Loyola funda a Companhia de Jesus. São Paulo 1982.

C. de Dalmases sj. Inácio de Loyola. São Paulo 1984.

Dário Pedroso sj. Em tudo amar e servir. Vida de Santo Inácio de Loyola. Braga 1990.

J. C. Dhotel sj. Quem és Inácio de Loyola? São Paulo 1974.

J. Ignácio Tellechea I. Inácio de Loyola. Sozinho e a pé. São Paulo 1991.

K. Rahner e P. Imhof. Inácio de Loyola. São Paulo 1978.

Ricardo Garcia-Villoslada sj. Santo Inácio de Loyola. São Paulo, 1991


segunda-feira, 29 de julho de 2013

† As Últimas Horas do Papa no Rio de Janeiro e da Jornada Mundial da Juventude neste Domingo


Papa exortou os Voluntários a se rebelar contra a cultura do provisório

2013-07-28 Rádio Vaticana

Rio de Janeiro (RV) –   Na tarde deste domingo, por volta das 17h30min, antes de seguir para o Aeroporto do Galeão, o Papa Francisco encontrou os voluntários da Jornada Mundial da Juventude no Centro de Congressos ‘Rio Centro’. Foram cerca de 15 mil voluntários que trabalharam por dois anos na preparação da JMJ Rio 2013. Um encontro de forte emoção e alegria, em que os jovens gritava: "esta é a juventude do Papa".

Francisco dirigiu-se aos jovens, dizendo que não podia regressar a Roma “sem antes agradecer, de modo pessoal e afetuoso a cada um, pelo trabalho e dedicação com que acompanharam, ajudaram, serviram aos milhares de jovens peregrinos e pelos inúmeros pequenos detalhes que fizeram desta Jornada Mundial da Juventude uma experiência inesquecível de fé”. O Papa observou que, com os sorrisos de cada um, com a gentileza, com a disponibilidade ao serviço, “vocês provaram que "há maior alegria em dar do que em receber”.


O Papa disse que este trabalho de preparar o caminho para que outros possam encontrar Jesus - como fez João Batista -, “é o serviço mais bonito que se pode realizar como discípulo” e acrescentou: “sejam sempre generosos com Deus e com os demais. Não se perde nada; ao contrário, é grande a riqueza da vida que se recebe”

Após o Papa falou sobre o chamado e a resposta às diferentes vocações. Quando falou sobre aqueles que são chamados a se santificar constituindo uma família através do sacramento do matrimônio:

“Há quem diga que hoje o casamento está “fora de moda”; na cultura do provisório, do relativo, muitos pregam que o importante é “curtir” o momento, que não vale a pena comprometer-se por toda a vida, fazer escolhas definitivas, “para sempre”, uma vez que não se sabe o que reserva o amanhã”.

Então o Papa pediu aos jovens, para que sejam revolucionários, que andem contra a corrente: sim, nisto peço que se rebelem:

"que se rebelem contra esta cultura do provisório que, no fundo, crê que vocês não são capazes de assumir responsabilidades, que não são capazes de amar de verdade. Eu tenho confiança em vocês, jovens, e rezo por vocês. Tenham a coragem de “ir contra a corrente”. Tenham a coragem de ser felizes!”

A seguir o Papa falou sobre a vocação ao sacerdócio, a que alguns são chamados a se doar ao Senhor de modo mais total, “para amar a todos com o coração do Bom Pastor”. “A outros – continuou - chama para servir os demais na vida religiosa: nos mosteiros, dedicando-se à oração pelo bem do mundo, nos vários setores do apostolado, gastando-se por todos, especialmente pelos mais necessitados”.

Nesse ponto, Francisco contou aos jovens que nunca se esquecerá do dia 21 de setembro, quando tinha 17 anos, quando após passar pela igreja de San José de Flores para se confessar, sentiu pela primeira vez que Deus o chamava. “Não tenham medo daquilo que Deus lhes pede – disse o Papa. Vale a pena dizer “sim” a Deus. N’Ele está a alegria”!


Àqueles jovens que talvez ainda não vejam com clareza o que fazer de sua vida, o Santo Padre aconselhou “a pedir isto ao Senhor, que Ele fará entender o caminho”, como fez o jovem Samuel, “que ouviu dentro de si a voz insistente do Senhor que o chamava, e não entendia, não sabia o que dizer, mas, com a ajuda do sacerdote Eli, no final respondeu àquela voz: Senhor, fala eu escuto. Peçam vocês também a Jesus: Senhor, o que quereis que eu faça, que caminho devo seguir?”.

Ao concluir, o Papa agradeceu novamente a todos os voluntários, às pastorais, novas comunidades e movimentos que colocaram seus membros à disposição, exortando-os a não esquecerem “tudo o que fizeram nestes dias, tudo o que viveram aqui”. E acrescentou: “Podem contar sempre com minhas orações, e sei que posso contar com as orações de vocês”.
Ao final, todos rezaram juntos uma Ave Maria. (JE)

Papa Francisco encontrou Comitê do CELAM: "é na capacidade de servir que se mostra e exercita a autoridade"

Cidade do Vaticano (RV) -  O Papa Francisco encontrou-se por volta das 16 horas deste domingo com o Comitê de Coordenação do Conselho Episcopal Latinoamericano – CELAM. O encontro, realizado após o almoço do Papa e sua comitiva, realizou-se no Auditório do Centro de Estudos do Sumaré.


O Presidente do CELAM, Arcebispo de Tlalnepantla, México, Dom Carlos Aguiar Retes saudou o Santo Padre, que logo após proferiu o seu discurso. Após uma breve introdução, o Santo Padre evidenciou quatro características peculiares da V Conferência de Aparecida. “São as quatro colunas do desenvolvimento de Aparecida e que lhe dão originalidade”: o ‘início sem um documento’ de partida, mas cujo trabalho inicial consistiu em colocar em comum as preocupações dos Pastores diante das mudanças de época e a necessidade de recuperar a vida discipular e missionária; o ‘ambiente de oração com o Povo de Deus’; o ‘Documento que se prolonga em compromisso, com a Missão Continental’ e a ‘presença de Nossa Senhora, Mãe da América’.

A seguir o Papa refletiu sobre a Missão Continental projetada em duas dimensões: programática e pragmática. Quer uma quer outra, “exige gerar a consciência de uma Igreja que se organiza para servir a todos os batizados e homens de boa-vontade”. O Papa propôs então, seis perguntas como guias para examinar o estado das dioceses no espírito de Aparecida, “perguntas que convém que nos façamos frequentemente como exame de consciência”.
Ainda dentro da ‘Dimensão Continental’, o Papa coloca sua reflexão sobre ‘o Diálogo com o mundo atual’. “Os cenários e aerópagos são os mais variados” e “se nos mantivermos somente nos parâmetros da ‘cultura de sempre’, com uma cultura rural de base, o resultado terminará anulando a força do Espírito Santo. Deus está em todas as partes: é necessário saber descubri-lo para poder anunciá-lo no idioma desta cultura; e cada realidade, cada idioma, tem um ritmo diverso”.


Outro ponto do discurso trata de ‘algumas tentações contra o discipulado missionário’, como a ideologização da mensagem evangélica - que envolveria o reducinismo socializante, a ideologização psicológica, a proposta gnóstica e a proposta pelagiana -, o funcionalismo e o clericalismo.Após, o discurso segue abordando algumas pautas eclesiológicas, subdivididas em 4 itens.

Ao concluir, Francisco agradece ‘a paciência’ e pede que seja levada a sério “nossa vocação de servidores do santo Povo de Deus, porque nisto se exercita e se mostra a autoridade: na capacidade de serviço”.
Após o encontro, o Papa Francisco seguiu em helicóptero para o Rio Centro, para encontrar os voluntários da JMJ. (JE)

Parto com saudades! As recordações tornar-se-ão oração. Tenho imensa esperança nos jovens: Papa, ao despedir-se do Brasil


O avião que transporta o Papa Francisco deve aterrar às 11.30 no aeroporto de Ciampino, em Roma, no regresso da sua viagem de uma semana ao Brasil, para participar na JMJ do Rio.
Como primeiro balanço de uma viagem tão intensa e comovente para todos os que a acompanharam, ouçamos o nosso correspondente Silvonei José:
Foram cheias de humanidade e verdadeira amizade as palavras pronunciadas pelo Papa no aeroporto:

"Parto com a alma cheia de recordações felizes; essas – estou certo – tornar-se-ão oração. Neste momento, já começo a sentir saudades. Saudades do Brasil, este povo tão grande e de grande coração; este povo tão amoroso. Saudades do sorriso aberto e sincero que vi em tantas pessoas, saudades do entusiasmo dos voluntários. Saudades da esperança no olhar dos jovens no Hospital São Francisco. Saudades da fé e da alegria em meio à adversidade dos moradores de Varginha. Tenho a certeza de que Cristo vive e está realmente presente no agir de tantos e tantas jovens e demais pessoas que encontrei nesta inesquecível semana. Obrigado pelo acolhimento e o calor da amizade que me foram demonstrados. Também disso começo a sentir saudades."
Agradecendo às autoridades, aos voluntários e a todos os que contribuiram para o êxitodesta JMJ, o Santo Padre concluiu dirigindo-se diretamente aos jovens: 


"Que Deus recompense a todos, como só Ele sabe fazer! Neste clima de gratidão e saudades, penso nos jovens, protagonistas desse grande encontro: Deus lhes abençoe por tão belo testemunho de participação viva, profunda e alegre nestes dias! Muitos de vocês vieram como discípulos nesta peregrinação; não tenho dúvida de que todos agora partem como missionários. A partir do testemunho de alegria e de serviço de vocês, façam florescer a civilização do amor. Mostrem com a vida que vale a pena gastar-se por grandes ideais, valorizar a dignidade de cada ser humano, e apostar em Cristo e no seu Evangelho. Foi Ele que viemos buscar nestes dias, porque Ele nos buscou primeiro, Ele nos faz arder o coração para anunciar a Boa Nova nas grandes metrópoles e nos pequenos povoados, no campo e em todos os locais deste nosso vasto mundo. Continuarei a nutrir uma esperança imensa nos jovens do Brasil e do mundo inteiro: através deles, Cristo está preparando uma nova primavera em todo o mundo."



FONTE: NEWS.VA

domingo, 28 de julho de 2013

† Papa Francisco na Missa de conclusão da JMJ Rio 2013: "Ide, sem medo, servir"


2013-07-28 Rádio Vaticana

Rio de Janeiro (RV) –   Mais de 3 milhões de pessoas, segundo estimativas, participaram da Missa de encerramento da Jornada Mundial da Juventude Rio2013 presidida pelo Papa Francisco na manhã deste domingo. Após o ‘maior flash mobe do mundo’, Francisco foi recebido no palco na Praia de Copacabana pouco depois das 10 horas, pelos Cardeais, Bispos e sacerdotes presentes.


Na celebração estavam presentes as Presidentes do Brasil e Argentina, Dilma Roussef e Cristina Kirchner, respectivamente, o Presidente da Bolívia, Evo Morales, o Presidente do Suriname e os Vice-presidentes do uruguai e do Panamá.Os milhares de participantes da Vigília realizada na noite de sábado, viram-se obrigados a improvisar um local para recuperar as forças para o dia de hoje. Assim, as pequenas barracas, os sacos de dormir ou os pequenos cobertores nas areias de Copacabana e na Av. Atlântica, acabaram formando um grande mosaico de cores e formas.


O Papa chegou de helicóptero no Forte Copacabana, percorrendo a seguir a Av. Atlântica no papamóvel. Francisco subiu ao palco pouco depois das 10 horas para presidir a Missa que encerrou a JMJ. O Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani João Tempesta, antes de iniciar a celebração, falou da Jornada no Rio, agradecendo ao Papa Francisco e a todos os presentes.Alternando entre o português e o espanhol, o Papa Francisco centrou sua homilia no ‘discípulo e na missão’, refletindo sobre três pontos: ‘Ide’, ‘sem medo’ e ‘para servir’.
Na sua reflexão sobre o primeiro ponto, ‘ide’, Francisco observou que “a experiência deste encontro não pode ficar trancafiada na vida de vocês ou no pequeno grupo da paróquia, do movimento, da comunidade de vocês. Seria como cortar o oxigênio a uma chama que arde”. “A fé - disse o Papa - é uma chama que se faz tanto mais viva quanto mais é partilhada, transmitida, para que todos possam conhecer, amar e professar que Jesus Cristo é o Senhor da vida e da história”.O Papa ressaltou que “partilhar a experiência da fé, testemunhar a fé, anunciar o Evangelho é o mandato que o Senhor confia a toda a Igreja, também a você”:


“É uma ordem sim; mas não nasce da vontade de domínio ou de poder, nasce da força do amor, do fato que Jesus foi quem veio primeiro para junto de nós e nos deu não somente um pouco de Si, mas se deu por inteiro, deu a sua vida para nos salvar e mostrar o amor e a misericórdia de Deus. Jesus não nos trata como escravos, mas como homens livres, amigos, como irmãos; e não somente nos envia, mas nos acompanha, está sempre junto de nós nesta missão de amor”.
“O Evangelho é para todos, não apenas para alguns”, disse Francisco, pois seu anúncio não tem fronteiras nem limites. ”Não tenham medo de ir e levar Cristo para todos os ambientes, até as periferias existenciais, incluindo quem parece mais distante, mais indiferente. O Senhor procura a todos, quer que todos sintam o calor da sua misericórdia e do seu amor”, exortou.“De forma especial – salientou - queria que este mandato de Cristo –‘Ide’ - ressoasse em vocês, jovens da Igreja na América Latina, comprometidos com a Missão Continental promovida pelos Bispos. O Brasil, a América Latina, o mundo precisa de Cristo! Este continente recebeu o anúncio do Evangelho, que marcou o seu caminho e produziu muito fruto", acrescentou:


“Agora este anúncio é confiado também a vocês, para que ressoe com uma força renovada. A Igreja precisa de vocês, do entusiasmo, da criatividade e da alegria que lhes caracterizam! Um grande apóstolo do Brasil, o Bem-aventurado José de Anchieta, partiu em missão quando tinha apenas dezenove anos! Sabem qual é o melhor instrumento para evangelizar os jovens? Outro jovem! Este é o caminho a ser percorrido”.

Ao falar do segundo ponto, ‘sem medo’, o Santo Padre explicou que “quando vamos anunciar Cristo, Ele mesmo vai à nossa frente e nos guia. Ao enviar os seus discípulos em missão, Jesus prometeu: «Eu estou com vocês todos os dias» (Mt 28,20). E isto é verdade também para nós! Jesus não nos deixa sozinhos, nunca lhes deixa sozinhos! Sempre acompanha a vocês”! O Papa enfatizou que os missionários são enviados em grupo, e que os jovens devem sentir “a companhia de toda a Igreja e também a comunhão dos santos nesta missão”:


“Jesus não chamou os Apóstolos para viver isolados, chamou-lhes para que formassem um grupo, uma comunidade. Queria dar uma palavra também a vocês, queridos sacerdotes, que concelebram comigo esta Eucaristia: vocês vieram acompanhando os seus jovens, e é uma coisa bela partilhar esta experiência de fé! Mas esta é uma etapa do caminho. Continuem acompanhando os jovens com generosidade e alegria, ajudem-lhes a se comprometer ativamente na Igreja; que eles nunca se sintam sozinhos”.

Neste ponto, Francisco agradeceu ‘de coração’, “às pastorais da juventude, aos movimentos e novas comunidades que acompanham os jovens. Tão criativos e audazes!”.
Referindo-se à leitura proclamada, o Papa explicou o último ponto de sua reflexão, ‘servir’. “Para anunciar Jesus, Paulo fez-se «escravo de todos»”. “Evangelizar afirmou - significa testemunhar pessoalmente o amor de Deus, significa superar os nossos egoísmos, significa servir, inclinando-nos para lavar os pés dos nossos irmãos, tal como fez Jesus”. Ao concluir, Francisco disse que seguindo as três palavras, ‘Ide’, ‘sem medo’, ‘para servir’, os jovens experimentarão “que quem evangeliza é evangelizado, quem transmite a alegria da fé, recebe alegria”. E acrescentou, que ao retornarem às suas casas, não devem ter medo “de ser generosos com Cristo, de testemunhar o seu Evangelho”:

“Levar o Evangelho é levar a força de Deus, para extirpar e destruir o mal e a violência; para devastar e derrubar as barreiras do egoísmo, da intolerância e do ódio; para construir um mundo novo. Jesus Cristo conta com vocês! A Igreja conta com vocês! O Papa conta com vocês! Que Maria, Mãe de Jesus e nossa Mãe, lhes acompanhe sempre com a sua ternura: «Ide e fazei discípulos entre todas as nações»”.

No ofertório, foi apresentada uma criança com anencefalia (no colo do seu pai) como sinal de acolhida e oferta a Deus pela vida. No sábado, de fato, após a saída da Catedral do Rio de Janeiro - onde celebrou com Bispos, sacerdotes, seminaristas e religiosos -, o Papa Francisco encontrou-se com um casal que lhe apresentou a sua pequena filha, nascida anencéfala. Eles não quiseram abortar, mesmo sendo permitido pela legislação.

Na oração dos fiéis, rezou-se pelas vítimas do acidente de trem ocorrido em Santiago de Compostela, na Espanha.Após a comunhão, o Presidente do Pontifício Conselho dos leigos, Cardeal Stanislaw Rilko, fez seu pronunciamento. Após, cinco jovens representando os cinco continentes, receberam do Papa Francisco a cruz missionária..
(JE)


O Sábado Papal no Rio de Janeiro - e a Vigília.


2013-07-27 Rádio Vaticana

Cidade do Vaticano (RV) –   Após a Missa celebrada na Catedral do Rio de Janeiro, Papa Francisco dirigiu-se no Papamóvel ao Teatro Municipal do Rio de Janeiro, onde encontrou expoentes da sociedade civil, como intelectuais, artistas, políticos, esportistas, membros do Corpo Diplomático e representantes das maiores comunidades religiosas. Francisco foi saudado pelo Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani João Tempesta, que também agradeceu a presença de todos, desejando que o encontro “ajude a olhar para a mesma direção, mesmo com interesses diversos”, para construir um mundo melhor “para nós e para a nova geração”. Após, um jovem do Rio de Janeiro deu seu testemunho, abraçando calorosamente o Santo Padre.
Antes de iniciar seu denso discurso, o Papa Francisco disse aos presentes: "Eu queria vos falar na bela língua portuguesa, mas para poder me expressar melhor, manifestar o que trago no coração, prefiro falar em castelhano. Peço-vos a cortesia de me perdoar!"

Ao começar seu discurso, Francisco fez diversas referências à cultura brasileira, dizendo que via nos presentes “a memória e a esperança: a memória do caminho e da consciência da Pátria e a esperança que esta, sempre à luz que irradia do Evangelho de Jesus Cristo, possa continuar a desenvolver-se no pleno respeito dos princípios éticos fundados na dignidade transcendente da pessoa”.

Ao destacar que todos aqueles que possuem um papel de responsabilidade em uma nação, “são chamados a enfrentar o futuro com os olhos calmos de quem sabe ver a verdade”, o Papa considerou três aspectos deste olhar: a originalidade de uma tradição cultural, a responsabilidade solidária para construir o futuro e o diálogo construtivo para encarar o presente.

Francisco salientou a necessidade de “valorizar a originalidade dinâmica que caracteriza a cultura brasileira, com sua extraordinária capacidade para integrar elementos diversos”, e que esta visão integral do homem e da vida em que está baseada a cultura brasileira “muito recebeu da seiva do Evangelho através da Igreja Católica: primeiramente a fé em Jesus Cristo, no amor de Deus e a fraternidade com o próximo. Mas a riqueza desta seiva deve ser plenamente valorizada! Ela pode fecundar um processo cultural fiel à identidade brasileira e construtor de um futuro melhor para todos”. E acrescentou:

[
“Um processo que faz crescer a humanização integral e a cultura do encontro e do relacionamento cresçam é o modo cristão de promover o bem comum, a felicidade de viver. E aqui convergem a fé e a razão, a dimensão religiosa com os diversos aspectos da cultura humana: arte, ciência, trabalho, literatura...O cristianismo une transcendência e encarnação; sempre revitaliza o pensamento e a vida, frente a desilusão e o desencanto que invadem os corações e saltam para a rua”.

Após, Francisco refletiu sobre a responsabilidade social, que exige “um certo tipo de paradigma cultural e, consequentemente, de política”:

“Somos responsáveis pela formação de novas gerações, capacitadas na economia e na política e firmes nos valores éticos. O futuro exige de nós uma visão humanista da economia e uma política que realize cada vez mais e melhor a participação das pessoas, evitando elitismos e erradicando a pobreza. Que ninguém fique privado do necessário, e que a todos sejam asseguradas dignidade, fraternidade e solidariedade: esta é a via a seguir”.
“Quem detém uma função de guia – observou o Papa - deve ter objetivos muito concretos, e buscar os meios específicos para consegui-los. Pode haver, porém, o perigo da desilusão, da amargura, da indiferença, quando as aspirações não se cumprem”, advertiu.

E destacou que partindo da própria responsabilidade e do interesse pelo bem comum, “a liderança sabe escolher a mais justa entre as opções, sendo esta a forma para chegar ao centro dos males de uma sociedade e vencê-los com a ousadia de ações corajosas e livres”:
“Esta compreensão da totalidade da realidade, observando, medindo, avaliando, para tomar decisões na hora presente, mas estendendo o olhar para o futuro, refletindo sobre as consequências de tais decisões. Quem atua responsavelmente, submete a própria ação aos direitos dos outros e ao juízo de Deus. Este sentido ético aparece, nos nossos dias, como um desafio histórico sem precedentes. Além da racionalidade científica e técnica, na atual situação, impõe-se o vínculo moral com uma responsabilidade social e profundamente solidária”.
O Papa completou sua reflexão com o terceiro ponto, indicando como fundamental para enfrentar o presente, “o diálogo construtivo”:

“Entre a indiferença egoísta e o protesto violento, há uma opção sempre possível: o diálogo. O diálogo entre as gerações, o diálogo com o povo, a capacidade de dar e receber, permanecendo abertos à verdade. Um país cresce, quando dialogam de modo construtivo as suas diversas riquezas culturais: cultura popular, cultura universitária, cultura juvenil, cultura artística e tecnológica, cultura econômica e cultura familiar e cultura da mídia. É impossível imaginar um futuro para a sociedade, sem uma vigorosa contribuição das energias morais numa democracia que evite o risco de ficar fechada na pura lógica da representação dos interesses constituídos”.
Neste ponto, o Santo Padre destaca que é fundamental a contribuição das grandes tradições religiosas, “que desempenham um papel fecundo de fermento da vida social e de animação da democracia. Favorável à pacífica convivência entre religiões diversas é a laicidade do Estado que, sem assumir como própria qualquer posição confessional, respeita e valoriza a presença do fator religioso na sociedade, favorecendo as suas expressões concretas”.

E ressaltou uma vez mais a necessidade do diálogo:

“Quando os líderes dos diferentes setores me pedem um conselho, a minha resposta é sempre a mesma: diálogo, diálogo, diálogo. A única maneira para uma pessoa, uma família, uma sociedade crescer, a única maneira para fazer avançar a vida dos povos é a cultura do encontro; uma cultura segundo a qual todos têm algo de bom para dar, e todos podem receber em troca algo de bom. O outro tem sempre algo para nos dar, desde que saibamos nos aproximar dele com uma atitude aberta e disponível, sem preconceitos. Só assim pode crescer o bom entendimento entre as culturas e as religiões, a estima de umas pelas outras livre de suposições gratuitas e no respeito pelos direitos de cada uma. Hoje, ou se aposta na cultura do encontro, ou todos perdem; percorrer a estrada justa torna o caminho fecundo e seguro”.

Após seu pronunciamento muito aplaudido, o Papa foi envolvido por um grupo de jovens da Corpo de Baile do Teatro Municipal. O Papa recebeu flores de uma criança e retribuiu as manifestações de afeto de todos com muito carinho. Após, foi saudado por diversas personalidades e recebeu um cocar de um grupo de indígenas, representando a cultura brasileira.(JE)


Papa Francisco encontrou Presidência da CNBB, Cardeais e Bispos brasileiros: "a humildade está no DNA de Deus"

O último compromisso do Papa Francisco neste sábado, antes do encontro com os jovens Na Vigília na Praia de Copacabana, foi o encontro e almoço com 300 Bispos brasileiros e a Presidência da CNBB, na sede Arcebispado do Rio de Janeiro.

O Papa leu seu longo e denso discurso percorrendo diversos aspectos da Igreja no Brasil, iniciando por Aparecida, "onde Deus ofereceu ao Brasil sua própria mãe e onde Deus deu também uma lição sobre si mesmo, sobre seu modo de agir. Uma lição sobre a humildade que pertence a Deus como traço essencial: ela está no DNA de Deus"O documento aborda diversos tópicos, como o ‘Apreço pelo percurso da Igreja no Brasil’, o ‘Ícone de Emaús como chave de leitura do presente e do futuro’, ‘Os desafios da Igreja no Brasil’, além de abordar temas como a Colegialidade, missão, função da Igreja no Brasil e Amazônia. O encontro, a pedido do Papa, não foi gravado em áudio ou vídeo para não perder a familiaridade a que se destinava. O Papa foi saudado pelo Cardeal Damasceno Assis.


“A força da Igreja “não está em si mesma”, mas “esconde-se nas águas profundas de Deus nas quais é chamada a lançar as redes”, afirmou o Papa Francisco retomando assim no seu discurso a história de Nossa Senhora de Aparecida.

Na origem da história de Aparecida estão três pobres pescadores que lançam as redes mas não conseguem pegar nada, até pescar uma imagem de cerâmica, primeiro o corpo e após a cabeça. É a imagem da Imaculada Conceição. Somente então conseguem pegar uma grande quantidade de peixe. O Papa Francisco faz referência a esta história para sublinhar que Deus chegou de surpresa. Os pescadores, de sua parte, não desprezam o mistério encontrado no rio, embora seja ainda um mistério incompleto:

“Existe algo de sábio que devemos aprender. Existem pedaços de um mistério, como peças de um mosaico, que encontramos e vemos. Nós queremos ver muito rápido o todo e deus, ao contrário, se revela pouco a pouco. Também a Igreja deve aprender esta espera”.


Os pescadores, após, levam a casa o mistério, confiam a Virgem a sua causa e “permitem assim que as intenções de Deus possam atuar: uma graça, depois outra”. O Senhor desperta no homem o desejo de cuidá-Lo no próprio coração e não o desejo de chamar os vizinhos para fazer conhecer a sua beleza. Mas sem a simplicidade da sua atitude, “a nossa missão está destinada ao fracasso”.

“O barco da Igreja, então, o resultado do trabalho pastoral não deve se basear na riqueza dos recursos, mas na criatividade do amor. Servem certamente a tenacidade e organização, mas antes de tudo é necessário “saber que a força da Igreja não reside nela própria, mas se esconde nas águas profundas de Deus, nas quais ela é chamada a lançar as redes”. A Igreja, assim, não pode afastar-se da simplicidade:


“Às vezes perdemos aqueles que não nos entendem, porque desaprendemos a simplicidade, inclusive importando de fora uma racionalidade alheia ao nosso povo. Sem a gramática da simplicidade, a Igreja se priva das condições que tornam possível ‘pescar Deus’ nas águas profundas do seu Mistério”.

Francisco recordou que a Igreja no Brasil aplicou “com originalidade o Concílio Vaticano II e o percurso realizado, mesmo tendo que superar certas enfermidades infantis, levando a uma Igreja gradualmente mais madura, aberta, generosa, missionária”.

A partir daí, o Papa concentrou-se na passagem dos Discípulos de Emaús, escandalizados pela aparente derrota do messias. O pensamento dirigiu-se a todos que abandonam a Igreja por talvez ela parecer muito fria, talvez muito auto-referencial, talvez muito prisioneira das próprias linguagens rígidas. Diante desta situação, “é necessário uma Igreja que não tenha medo de sair na sua noite”, disse Francisco.

“Serve uma Igreja capaz de interceptar o caminho deles. Serve uma Igreja capaz de inserir-se na sua conversa. Serve uma Igreja que saiba dialogar com estes discípulos, que, fugindo de Jerusalém, vagam sem uma meta, sozinhos, com o próprio desencanto, com a desilusão de um cristianismo considerado hoje um ‘terreno estéril’, infecundo, incapaz de gerar um sentido”.



Milhares na Vigília com Papa Francisco: "o verdadeiro Campus Fidei é o coração de vocês"

E na noite deste sábado o grande momento da XXVIII Jornada Mundial da Juventude: a Vigília dos Jovens. A transferência obrigatória de Guaratiba, devido ao tempo, acabou por transformar a Praia de Copacabana no Campus Fidei, acolhendo um público estimado em 3 milhões de pessoas.

Durante o percurso ao longo da Av. Atlântica, o Papa Francisco, com o mesmo carinho com que acenou, mandou beijos e abençoou, também recebeu da multidão beijos, acenos, lágrimas, gritos, bilhetes, faixas, bandeiras, expectativas, esperanças. À medida que o Papamóvel seguia o seu percurso, a multidão ficava mais eufórica e emocionada.

O Papa Francisco subiu ao palco às 18h30min, saudando os Cardeais e Bispos presentes no palco. Logo após, encenações sobre a vida de Francisco de Assis, testemunhos e apresentações musicais, deram prosseguimento à festa da fé.


Passado das 20h30min, o Santo Padre dirigiu-se aos jovens, citando São Francisco de Assis: “Acabamos de recordar a história de São Francisco de Assis. Diante do Crucifixo, ele escuta a voz de Jesus que lhe diz: «Francisco, vai e repara a minha casa». E o jovem Francisco responde, com prontidão e generosidade, a esta chamada do Senhor: repara a minha casa. Mas qual casa? Aos poucos, ele percebe que não se tratava fazer de pedreiro para reparar um edifício feito de pedras, mas de dar a sua contribuição para a vida da Igreja; tratava-se de colocar-se ao serviço da Igreja, amando-a e trabalhando para que transparecesse nela sempre mais a Face de Cristo”.
E prossegue afirmando que também hoje “o Senhor continua precisando de vocês, jovens, para a sua Igreja, também hoje ele chama a cada um de vocês para segui-lo na sua Igreja, para serem missionários”. Então o Papa pergunta: como? Para responder, ele usa três imagens que ajudam a entender o significado de ser discípulo missionário: a primeira, o campo como lugar onde se semeia; a segunda, o campo como lugar de treinamento; e a terceira, o campo como canteiro de obras.

Para meditar sobre o ‘campo como lugar onde se semeia’, o Santo Padre faz uso da Parábola do Semeador e lembrando a necessidade de mudar o local da Vigília em função do mau-tempo, disse:

“Queridos jovens, isso significa que o verdadeiro Campus Fidei é o coração de cada um de vocês, é a vida de vocês. E é na vida de vocês que Jesus pede para entrar com a sua Palavra, com a sua presença. Por favor, deixem que Cristo e a sua Palavra entrem na vida de vocês, e nela possam germinar e crescer”.

Ao perguntar que tipo de terreno ‘somos ou queremos ser’, o Papa cita as diferentes situações na vida onde caem as sementes e não dão fruto, mas acrescenta:

“Mas, hoje, tenho a certeza que a semente está caindo numa terra boa, sei que vocês querem ser um terreno bom, não querem ser cristãos pela metade, nem “engomadinhos”, nem cristãos de fachada, mas sim autênticos. Tenho a certeza que vocês não querem viver na ilusão de uma liberdade que se deixe arrastar pelas modas e as conveniências do momento. Sei que vocês apostam em algo grande, em escolhas definitivas que deem pleno sentido para a vida. Jesus é capaz de oferecer-lhes isto. Ele é o «caminho, a verdade e a vida» (Jo 14,6)! Confiemos n’Ele. Deixemo-nos guiar por Ele!”



Após, ao meditar sobre ‘o campo como lugar de treinamento’, diz que Jesus oferece algo muito superior que a Copa do Mundo:

“Oferece-nos a possibilidade de uma vida fecunda e feliz e nos oferece também um futuro com Ele que não terá fim: a vida eterna. Jesus, porém, nos pede que treinemos para estar “em forma”, para enfrentar, sem medo, todas as situações da vida, testemunhando a nossa fé. Como? Através do diálogo com Ele: a oração, que é diálogo diário com Deus que sempre nos escuta. através dos sacramentos, que fazem crescer em nós a sua presença e nos conformam com Cristo; através do amor fraterno, do saber escutar, do compreender, do perdoar, do acolher, do ajudar os demais, qualquer pessoa sem excluir nem marginalizar ninguém. Queridos jovens, que vocês sejam verdadeiros “atletas de Cristo””

O Papa prosseguiu então, meditando sobre ‘o campo como canteiro de obras’, dizendo que “quando o nosso coração é uma terra boa que acolhe a Palavra de Deus, quando se “sua a camisa” procurando viver como cristãos, nós experimentamos algo maravilhoso: nunca estamos sozinhos, fazemos parte de uma família de irmãos que percorrem o mesmo caminho; somos parte da Igreja, mais ainda, tornamo-nos construtores da Igreja e protagonistas da história” e acrescenta:
“Na Igreja de Jesus, nós somos as pedras vivas, e Jesus nos pede que construamos a sua Igreja; e não como uma capelinha, onde cabe somente um grupinho de pessoas. Jesus nos pede que a sua Igreja viva seja tão grande que possa acolher toda a humanidade, que seja casa para todos! Ele diz a mim, a você, a cada um: «Ide e fazei discípulos entre todas as nações»! Nesta noite, respondamos-lhe: Sim, também eu quero ser uma pedra viva; juntos queremos edificar a Igreja de Jesus! Digamos juntos: Eu quero ir e ser construtor da Igreja de Cristo!”.
Neste ponto, o Para refere-se às manifestações de jovens que ocorrem em diversas partes do mundo, dizendo:


“No coração jovem de vocês, existe o desejo de construir um mundo melhor. Acompanhei atentamente as notícias a respeito de muitos jovens que, em tantas partes do mundo, saíram pelas ruas para expressar o desejo de uma civilização mais justa e fraterna. Mas, fica a pergunta: Por onde começar? Quais são os critérios para a construção de uma sociedade mais justa? Quando perguntaram a Madre Teresa de Calcutá o que devia mudar na Igreja, ela respondeu: você e eu!”.

Queridos amigos, não se esqueçam: Vocês são o campo da fé! Vocês são os atletas de Cristo! Vocês são os construtores de uma Igreja mais bela e de um mundo melhor. Elevemos o olhar para Nossa Senhora. Ela nos ajuda a seguir Jesus, nos dá o exemplo com o seu “sim” a Deus: «Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua Palavra» (Lc 1,38). Também nós o dizemos a Deus, juntos com Maria: faça-se em mim segundo a Tua palavra. Assim seja!" (JE)

FONTE: http://www.news.va