domingo, 30 de setembro de 2012

A Bíblia, a Palavra de Deus

Hoje é dia da Bíblia, e para celebrarmos este evento onde a palavra de Deus, dado a inspiração de homens santos, entre os quais figura São Jeronimo, cuja data também é comemorada, nos reteremos compreender com mais exatidão a formação deste conjunto de livros, ao todo 76, vamos nos reter neste momento a uma cronologia, bem como também como se deveu este processo geral.

  Origem da Bíblia -  OS ORIGINAIS -   Grego, hebraico e aramaico foram os idiomas utilizados para escrever os originais das Escrituras Sagradas. O Antigo Testamento foi escrito em hebraico. Apenas alguns poucos textos foram escritos em aramaico. O Novo Testamento foi escrito originalmente em grego, que era a língua mais utilizada na época. Os originais da Bíblia são a base para a elaboração de uma tradução confiável das Escrituras. Porém, não existe nenhuma versão original de manuscrito da Bíblia, mas sim cópias de cópias de cópias. Todos os autógrafos, isto é, os livros originais, como foram escritos pelos seus autores, se perderam. As edições do Antigo Testamento hebraico e do Novo Testamento grego se baseiam nas melhores e mais antigas cópias que existem e que foram encontradas graças às descobertas arqueológicas. Para a tradução do Antigo Testamento, a Comissão de Tradução da SBB usa a Bíblia Stuttgartensia, publicada pela Sociedade Bíblica Alemã. Já para o Novo Testamento é utilizado The Greek New Testament, editado pelas Sociedades Bíblicas Unidas. Essas são as melhores edições dos textos hebraicos e gregos que existem hoje, disponíveis para tradutores.

O ANTIGO TESTAMENTO EM HEBRAICO Muitos séculos antes de Cristo, escribas, sacerdotes, profetas, reis e poetas do povo hebreu mantiveram registros de sua história e de seu relacionamento com Deus. Estes registros tinham grande significado e importância em suas vidas e, por isso, foram copiados muitas e muitas vezes e passados de geração em geração. Com o passar do tempo, esses relatos sagrados foram reunidos em coleções conhecidas por A Lei, Os Profetas e As Escrituras. Esses três grandes conjuntos de livros, em especial o terceiro, não foram finalizados antes do Concílio Judaico de Jamnia, que ocorreu por volta de 95 d.C. A Lei continha os primeiros cinco livros da nossa Bíblia. Já Os Profetas, incluíam Isaías, Jeremias, Ezequiel, os Doze Profetas Menores, Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel e 1 e 2 Reis. E As Escrituras reuniam o grande livro de poesia, os Salmos, além de Provérbios, Jó, Ester, Cantares de Salomão, Rute, Lamentações, Eclesiastes, Daniel, Esdras, Neemias e 1 e 2 Crônicas. Os livros do Antigo Testamento foram escritos em longos pergaminhos confeccionados em pele de cabra e copiados cuidadosamente pelos escribas. Geralmente, cada um desses livros era escrito em um pergaminho separado, embora A Lei freqüentemente fosse copiada em dois grandes pergaminhos. O texto era escrito em hebraico - da direita para a esquerda - e, apenas alguns capítulos, em dialeto aramaico. Hoje se tem conhecimento de que o pergaminho de Isaías é o mais remoto trecho do Antigo Testamento em hebraico. Estima-se que foi escrito durante o Século II a.C. e se assemelha muito ao pergaminho utilizado por Jesus na Sinagoga, em Nazaré. Foi descoberto em 1947, juntamente com outros documentos em uma caverna próxima ao Mar Morto. A FORMAÇÃO DO CÂNON DO VELHO TESTAMENTO Quais são os livros que pertencem ao Cânon do Velho Testamento? Por que só os 39? A Igreja Católica Romana, desde o Concílio de Trento, (1546), tem recebido outros livros como canônicos. Estes são 14 apócrifos, que vem do adjetivo grego "apokriphos" (ocultos). Estes livros são: 1° e 2° Esdras, Tobias, Judite, Adições a Ester, Oração de Manassés, Epístola de Jeremias, Livro de Baruque, Eclesiástico, Sabedoria de Salomão, 1° e 2° Macabeus, Adições a Daniel, que inclui a Oração de Azarias, o Cântico dos Três Hebreus e Bel e o Dragão. Vamos examinar o conteúdo e origem destes livros duma maneira bem resumida, depois verificar porque não foram aceitos pela Igreja.

O NOVO TESTAMENTO EM GREGO Os primeiros manuscritos do Novo Testamento que chegaram até nós são algumas das cartas do Apóstolo Paulo destinadas a pequenos grupos de pessoas de diversos povoados que acreditavam no Evangelho por ele pregado. A formação desses grupos marca o início da igreja cristã. As cartas de Paulo eram recebidas e preservadas com todo o cuidado. Não tardou para que esses manuscritos fossem solicitados por outras pessoas. Dessa forma, começaram a ser largamente copiados e as cartas de Paulo passaram a ter grande circulação. A necessidade de ensinar novos convertidos e o desejo de relatar o testemunho dos primeiros discípulos em relação à vida e aos ensinamentos de Cristo resultaram na escrita dos Evangelhos que, na medida em que as igrejas cresciam e se espalhavam, passaram a ser muito solicitados. Outras cartas, exortações, sermões e manuscritos cristãos similares também começaram a circular. O mais antigo fragmento do Novo Testamento hoje conhecido é um pequeno pedaço de papiro escrito no início do Século II d.C. Nele estão contidas algumas palavras de João 18.31-33, além de outras referentes aos versículos 37 e 38. Nos últimos cem anos descobriu-se uma quantidade considerável de papiros contendo o Novo Testamento e o texto em grego do Antigo Testamento. OUTROS MANUSCRITOS Além dos livros que compõem o nosso atual Novo Testamento, havia outros que circularam nos primeiros séculos da era cristã, como as Cartas de Clemente, o Evangelho de Pedro, o Pastor de Hermas, e o Didache (ou Ensinamento dos Doze Apóstolos). Durante muitos anos, embora os evangelhos e as cartas de Paulo fossem aceitos de forma geral, não foi feita nenhuma tentativa de determinar quais dos muitos manuscritos eram realmente autorizados. Entretanto, gradualmente, o julgamento das igrejas, orientado pelo Espírito de Deus, reuniu a coleção das Escrituras que constituíam um relato mais fiel sobre a vida e ensinamentos de Jesus. No Século IV d.C. foi estabelecido entre os concílios das igrejas um acordo comum e o Novo Testamento foi constituído. Os dois manuscritos mais antigos da Bíblia em grego podem ter sido escritos naquela ocasião - o grande Codex Sinaiticus e o Codex Vaticanus. Estes dois inestimáveis manuscritos contêm quase a totalidade da Bíblia em grego. Ao todo temos aproximadamente vinte manuscritos do Novo Testamento escritos nos primeiros cinco séculos.

Quando Teodósio proclamou e impôs o cristianismo como única religião oficial no Império Romano no final do Século IV, surgiu uma demanda nova e mais ampla por boas cópias de livros do Novo Testamento. É possível que o grande historiador Eusébio de Cesaréia (263 - 340) tenha conseguido demonstrar ao imperador o quanto os livros dos cristãos já estavam danificados e usados, porque o imperador encomendou 50 cópias para as igrejas de Constantinopla. Provavelmente, esta tenha sido a primeira vez que o Antigo e o Novo Testamentos foram apresentados em um único volume, agora denominado Bíblia.

HISTÓRIA DAS TRADUÇÕES A Bíblia - o livro mais lido, traduzido e distribuído do mundo -, desde as suas origens, foi considerada sagrada e de grande importância. E, como tal, deveria ser conhecida e compreendida por toda a humanidade. A necessidade de difundir seus ensinamentos através dos tempos e entre os mais variados povos, resultou em inúmeras traduções para os mais variados idiomas e dialetos. Hoje é possível encontrar a Bíblia, completa ou em porções, em mais de 2.000 línguas diferentes. 

A PRIMEIRA TRADUÇÃO Estima-se que a primeira tradução foi elaborada entre 200 a 300 anos antes de Cristo. Como os judeus que viviam no Egito não compreendiam a língua hebraica, o Antigo Testamento foi traduzido para o grego. Porém, não eram apenas os judeus que viviam no estrangeiro que tinham dificuldade de ler o original em hebraico: com o cativeiro da Babilônia, os judeus da Palestina também já não falavam mais o hebraico. Denominada Septuaginta (ou Tradução dos Setenta), esta primeira tradução foi realizada por 70 sábios e contém sete livros que não fazem parte da coleção hebraica; pois não estavam incluídos quando o cânon (ou lista oficial) do Antigo Testamento foi estabelecido por exegetas israelitas no final do Século I d.C. A igreja primitiva geralmente incluía tais livros em sua Bíblia. Eles são chamados apócrifos ou deuterocanônicos e encontram-se presentes nas Bíblias de algumas igrejas. Esta tradução do Antigo Testamento foi utilizada em sinagogas de todas as regiões do Mediterrâneo e representou um instrumento fundamental nos esforços empreendidos pelos primeiros discípulos de Jesus na propagação dos ensinamentos de Deus. OUTRAS TRADUÇÕES Outras traduções começaram a ser realizadas por cristãos novos nas línguas copta (Egito), etíope (Etiópia), siríaca (norte da Palestina) e em latim - a mais importante de todas as línguas pela sua ampla utilização no Ocidente. Por haver tantas versões parciais e insatisfatórias em latim, no ano 382 d.C, o bispo de Roma nomeou São Jerônimo, secretário do Papa Damaso, para fazer uma tradução oficial das Escrituras. Com o objetivo de realizar uma tradução de qualidade e fiel aos originais, Jerônimo foi à Palestina, onde viveu durante 20 anos. Estudou hebraico com rabinos famosos e examinou todos os manuscritos que conseguiu localizar. Sua tradução tornou-se conhecida como "Vulgata", ou seja, escrita na língua de pessoas comuns ("vulgus"). Embora não tenha sido imediatamente aceita, tornou-se o texto oficial do cristianismo ocidental. Neste formato, a Bíblia difundiu-se por todas as regiões do Mediterrâneo, alcançando até o Norte da Europa. Na Europa, os cristãos entraram em conflito com os invasores godos e hunos, que destruíram uma grande parte da civilização romana. Em mosteiros, nos quais alguns homens se refugiaram da turbulência causada por guerras constantes, o texto bíblico foi preservado por muitos séculos, especialmente a Bíblia em latim na versão de Jerônimo. Não se sabe quando e como a Bíblia chegou até as Ilhas Britânicas. Missionários levaram o evangelho para Irlanda, Escócia e Inglaterra, e não há dúvida de que havia cristãos nos exércitos romanos que lá estiveram no segundo e terceiro séculos. Provavelmente a tradução mais antiga na língua do povo desta região é a do Venerável Beda. Relata-se que, no momento de sua morte, em 735, ele estava ditando uma tradução do Evangelho de João; entretanto, nenhuma de suas traduções chegou até nós. Aos poucos as traduções de passagens e de livros inteiros foram surgindo.




O CONTEÚDO DOS APÓCRIFOS Os Apócrifos: É esta a denominação que comumente se dá aos 14 livros contidos em algumas Bíblias, entre os dois Testamentos. Originaram-se do terceiro ao primeiro século AC. a maioria dos quais de autor incerto, e foram adicionados a Septuaginta, tradução grega do Velho Testamento, feita naquele período. Não foram escritos no hebraico do Velho Testamento. Foram produzidos depois de haver cessado as profecias, oráculos e a revelação direta do Velho Testamento, Josefo rejeitou-os totalmente. Nunca foram reconhecidos pelos judeus como parte das Escrituras hebraicas. Nunca foram citadas por Jesus, nem por ninguém mais no Novo Testamento. Não foram reconhecidos pela Igreja Primitiva como de autoridade canônica, nem de inspiração divina. Quando se traduziu a Bíblia para o latim, no segundo século A.D. seu Velho Testamento foi traduzido, não o Velho Testamento hebraico, mas da versão grega da Septuaginta do Velho Testamento. Da Septuaginta esses livros apócrifos foram levados para a tradução latina; e daí para a Vulgata, que veio a ser a versão comumente usada na Europa Ocidental até o tempo da Reforma. Os protestantes baseando seu movimento na autoridade divina da Palavra de Deus, rejeitaram logo esses livros apócrifos como não fazendo parte dessa Palavra, assim como a Igreja Primitiva e os hebreus antigos fizeram. A Igreja romana, entretanto, no Concílio de Trento em 1546 A.D. 

O VALOR DOS APÓCRIFOS Não podemos dizer que esses livros não têm nenhum valor, pois não seria verdade. Tem valor, mas não como as Escrituras. São livros de grande Antiguidade e valor real. Do mesmo modo que os manuscritos do Mar Morto, são monumentos a atividade literária dos judeus, estes também são. Em parte, preenchem a lacuna histórica entre Malaquias e Mateus, e ilustram a situação religiosa do povo hebreu, bem como de seus costumes e tradições religiosas.




POR QUE OS APÓCRIFOS NÃO FORAM ACEITOS NO CÂNON DO VELHO TESTAMENTO? 

1) - Nenhum dos livros foi encontrado dentro do cânon hebraico. Um estudo da história do Cânon dos judeus da Palestina revela uma ausência completa de referências aos livros apócrifos. Josefo, diz que os profetas escreveram desde os dias de Moisés até Artaxerxes, também diz, e verdade que a nossa história tem sido escrita desde Artaxerxes, não foi tão estimada como autoritativa como a anterior dos nossos pais, porque não houve uma sucessão de profetas desde aquela época. O Talmude, fala assim: "Depois dos últimos profetas, Ageu, Zacarias e Malaquias, o Espírito Santo deixou Israel". Não constam no texto dos massoretas (copistas judeus da maior fidelidade) entregar tudo o que consideravam canônico nas Escrituras do Velho Testamento. Nem tão pouco parece ter havido "Targuns" (paráfrases ou comentários judaicos da Antigüidade) ligado a eles. Para os judeus, os livros considerados sob inspiração divina são os 39 que hoje conhecemos como Velho Testamento. Eles os possuem numa ordem diferente da nossa por causa da forma pela qual dividem os livros. 

 2) - Todos estes livros foram escritos depois da época quando a profecia cessou em Israel, e JAMAIS declaram ser mensagem de Deus ao homem. Fora dois deles, Eclesiástico e Baruque, os livros são anônimos, e no caso de Eclesiástico, o autor não se diz profeta, nem asseverou que escreveu sob a inspiração de Deus. O livro de Baruque que se diz ser escrito pelo secretário de Jeremias, não pode ser aceito como genuíno, pois contradiz o relato bíblico. Os livros de Macabeus não têm nenhuma pretensão para autoria profética. Mas registra detalhes sobre as guerras de independência em 165 A.C. quando os cinco irmãos macabeus lutaram contra os exércitos da Síria. I Macabeus é geralmente considerado como de maior valor histórico do que o II. 

 3) - O nível moral de muitos destes livros é bastante baixo. São cheios de erros históricos e cronológicos, por exemplo, Baruque 1.1, diz que ele está na Babilônia, enquanto Jeremias 43.6, diz que ele está no Egito. Baruque diz que os utensílios do templo foram devolvidos da Babilônia, enquanto Esdras e Neemias revelam o contrário. Baruque cita uma data errada para Beltesazar e diz que o cativeiro era de sete gerações 6.3, o que contradiz as profecias de Jeremias e o cumprimento de Esdras. Tobias e Judite estão cheios de erros geográficos, cronológicos e históricos. Tobias 1.4,5 contradiz 14.11. Mentiras, assassinatos e decepções são apoiados. Judite é um exemplo. Temos suicídios (4.10), encantamentos, magia e salvação pelas obras (Tobias 12.9; Judite 9.10,13). 4) - Não foram incluídos no Cânon até o fim do 4° século. Como já observamos, os livros apócrifos, não foram incluídos no cânon hebraico. Os livros apócrifos foram incluídos na Septuaginta, a versão grega do Velho Testamento e que não é de origem hebraica, mas de Alexandria, que é uma tradução do hebraico. Os Códices Vaticanos, Alexandrinos e Sinaíticos têm apócrifos entre os livros canônicos. 


ORÍGENES, o erudito do Egito, com uma grande biblioteca, incluiu os 39 livros do Velho Testamento, mas em 22 e seguindo a lista ele fala: "Fora destes temos os livros dos Macabeus". Outros pais da Igreja, como Atanásio, Gregório de Nazianzus de Capadócia, Rufinus da Itália e Jerônimo, nos deixaram com uma lista que concorda com o cânon hebraico. 

ORÍGENES foi um grande mestre e homem de elevada cultura cristã, que só não foi canonizado pela Igreja por ter praticado o ato da auto-mutilação. 

JERÔNIMO, que fez a Vulgata, não quis incluir os livros apócrifos por não considera-los inspirados, porém, os fez por obrigação do bispo, não por convicção, mesmo assim só traduziu Judite e Tobias, os outros apócrifos foram tirados diretamente dos versos latinos anteriores. Parece que a única figura da antiguidade a favor dos apócrifos era Agostinho, e dois Concílios que ele mesmo dominou (393 e 397). Porém, outros escritos dele (A cidade de Deus) parecem revelar uma distinção entre os livros canônicos e os apócrifos (17.24; 18.36,38,42-45).

GREGÓRIO, O GRANDE, papa em 600 D.C., citando I Macabeus falou que não era um livro canônico, e o cardeal Ximenis no seu poligloto afirma que os livros apócrifos dentro de seu livro, não faziam parte do cânon. Os livros apócrifos não foram aceitos como canônicos até 1546 quando o concílio de Trento decretou: "Este Sínodo recebe e venera todos os livros do Velho e Novo Testamentos, desde que Deus o autor dos dois, também as tradições e aquilo que pertence a fé e morais, como sendo ditados pela boca de Cristo, ou pelo Espírito Santo". A lista dos livros que segue inclui os apócrifos e conclui dizendo: "Se alguém não receber como Sagradas e canônicos estes livros em todas as partes, como foram lidos na Igreja Católica, e como estão na Vulgata Latina, e que conscientemente e propositadamente contrariar as tradições já mencionadas, que ele seja anátema". Para nós o fator decisivo é que Cristo e seus discípulos não os reconheceram como canônicos, pois não foram citados por Cristo nem os outros escritores do Novo Testamento! 

O CÂNON DO NOVO TESTAMENTO Pelo Cânon do Novo Testamento queremos falar a coleção de 27 livros do Novo Testamento considerados como a norma ou regra de fé para a Igreja de Cristo. Surgem logo perguntas a respeito do cânon do Novo Testamento. Como e quando chegaram a ser reconhecidos como livros inspirados? Qual a base para a seleção destes livros e por que rejeitaram outra literatura da igreja daquele tempo? Vamos tentar responder estas perguntas, incluindo: Quando foram escritos estes livros? O CONTEÚDO DO CÂNON NEO-TESTAMENTÁRIO Como já notamos, o cânon do Novo Testamento tem 27 livros escritos em grego. Os primeiros cinco são de caráter histórico, sendo quatro os Evangelhos que contém ditos e feitos de Jesus Cristo, e um é o livro de Atos, escrito por Lucas, o autor do terceiro Evangelho. Temos 21 cartas escritas por Paulo, Pedro, Tiago, Judas e possivelmente mais um autor, se Hebreus não é de Paulo, é o livro de Apocalipse, escrito por João, o mesmo autor de um dos Evangelhos e três cartas. AS PRIMEIRAS ESCRITURAS IMPRESSAS Na Alemanha, em meados do Século 15, um ourives chamado Johannes Gutemberg desenvolveu a arte de fundir tipos metálicos móveis. O primeiro livro de grande porte produzido por sua prensa foi a Bíblia em latim. Cópias impressas decoradas a mão passaram a competir com os mais belos manuscritos. Esta nova arte foi utilizada para imprimir Bíblias em seis línguas antes de 1500 - alemão, italiano, francês, tcheco, holandês e catalão; e em outras seis línguas até meados do século 16 - espanhol, dinamarquês, inglês, sueco, húngaro, islandês, polonês e finlandês. Finalmente as Escrituras realmente podiam ser lidas na língua destes povos. Mas essas traduções ainda estavam vinculadas ao texto em latim. No início do século 16, manuscritos de textos em grego e hebraico, preservados nas igrejas orientais, começaram a chegar à Europa ocidental. Havia pessoas eruditas que podiam auxiliar os sacerdotes ocidentais a ler e apreciar tais manuscritos. Uma pessoa de grande destaque durante este novo período de estudo e aprendizado foi Erasmo de Roterdã. Ele passou alguns anos atuando como professor na Universidade de Cambridge, Inglaterra. Em 1516, sua edição do Novo Testamento em grego foi publicada com seu próprio paralelo da tradução em latim. Assim, pela primeira vez estudiosos da Europa ocidental puderam ter acesso ao Novo Testamento na língua original, embora, infelizmente, os manuscritos fornecidos a Erasmo fossem de origem relativamente recente e, portanto, não eram completamente confiáveis. AS DATAS DESTES LIVROS Segundo a informação dada em Lucas 3.1, o ministério de João Batista que precedeu o início do ministério de Jesus Cristo data do 15° ano de Tibério César. Tibério tornou-se imperador em agosto de 14 A.D., assim o 15° ano começaria em outubro, 27 D.C. Temos três páscoas mencionadas no evangelho de João, se sendo que a terceira foi a Páscoa de 30 D.C., esta sendo a data mais provável da morte de Cristo na cruz. O Novo Testamento, como é conhecido hoje, estava completo por volta do ano 100 D.C. e a grande parte dos livros já existindo há mais de 40 anos. Pode-se dizer que quase todos os livros foram escritos antes de 70 D.C. 

O PRIMEIRO SÉCULO D.C. Não se sabe quando as palavras do Senhor (At 20.35 e I Co 7.10) foram registradas por escrito pela primeira vez. Porém, em mais ou menos 58 D.C., quando Lucas escreveu seu Evangelho, muitos já haviam empreendido esta tarefa (Lc. 1.1). Pode ser que a Epístola de Paulo aos Gálatas fosse escrita tão cedo como em 49 D.C. É claro que a Epistola foi escrita antes de sua morte em 62 D.C. e as outras Epístolas de Paulo e Pedro, antes da morte deles, na época de 68 D.C. A maior parte do Novo Testamento já estava escrita antes da queda de Jerusalém em 70 D.C. O Evangelho e as Epístolas de João, e o Apocalipse, certamente foram completadas antes do fim do primeiro século. 

O CÂNON DO NOVO TESTAMENTO E OS PAIS DA IGREJA Escritores "evangélicos" no fim deste mesmo século mostram que conheciam os evangelhos e epístolas. A atitude dos cristãos em face das normas da doutrina cristã que encontramos no fim da época apostólica (isto é, mais ou menos em fins do século I d.C.) podem ser encontradas no princípio da era pós-apostólica, principalmente na fase mais antiga dos pais apostólicos. CLEMENTE, Bispo de Roma - Cerca de 95, escreveu uma carta a Igreja de Corinto, e nesta carta menciona, I Coríntios, Efésios, I Timóteo, Tito, Tiago, o evangelho de João e Hebreus. INÁCIO, Bispo de Antioquia - Antes de 117, deixou sete cartas e nelas menciona passagens dos evangelhos, especialmente Mateus e João e as cartas paulinas, colocando os escritos do Novo Testamento num plano de autoridade superior aos do Velho Testamento, em virtude da clareza de seu testemunho.

POLICARPO, que conhecia João pessoalmente, escreveu uma carta em cerca de 105-108, que menciona cartas de Paulo como autoritativas, principalmente Filipenses, mas revela conhecimento de Mateus, Atos, Romanos, I e II Coríntios, Gálatas, Efésios, I e II Tessalonicenses, I e II Timóteo, I e II Pedro e I João. Estes escritores distinguiram claramente entre seus próprios escritos e os escritos dos apóstolos, atribuindo a estes últimos, inspiração e autoridade. Demonstram estes escritores que, mesmo nesta data primitiva, os evangelhos e as epístolas do Novo Testamento, já se achavam em circulação e eram honrados tanto nas igrejas do ocidente como do oriente. 100-150 D.C. - As Escrituras do Novo Testamento lidas nas Igrejas. PAPIAS - Cerca de 140 D.C. testifica que "a voz viva dos presbíteros ia sendo substituída pela autoridade da palavra escrita". Nos escritores deste período há referências claras a todos os livros do Novo Testamento, com exceção a 6 ou 7 das epístolas mais curtas; ele atesta a existência de Mateus e Marcos e o caráter apostólico destas obras. JUSTINO, o Mártir (148 D.C.) - fala das recordações dos apóstolos e os que seguiam como sendo lidas nas igrejas. Tanto hereges, como cristãos ortodoxos, testemunham a sua autoridade, muitas vezes citando o Novo Testamento e acrescentando "como está escrito". 150-200 D.C. - Traduções e comentários do Novo Testamento Neste período a Igreja de Cristo se expandiu e desenvolveu-se. Com a inclusão de homens de novas raças e grande capacidade, os eruditos fizeram traduções das Escrituras em outras línguas. Remontam a este tempo a velha versão latina para o povo da África do Norte e a versão Siríaca para o povo do Oriente Médio. Começaram a aparecer comentários. Houve por exemplo, o Comentário sobre os oráculos do Senhor, da autoria de Papias (140). Um comentário sobre o Apocalipse, da autoria de Melito (165). Pouco depois, Tatião escreveu o DIATESSERON, ou Harmonia dos quatro evangelhos, que se reconheciam como possuidores de autoridade única. Ao fim do século, Clemente de Alexandria escreveu seus Esboços, que é um comentário em 7 volumes sobre os livros do Novo Testamento, que incluía todos os livros do Novo Testamento, mais a epístola de Barnabé e o Apocalipse de Pedro (que foram excluídos do cânon). 200 - 300 - Colecionam-se e separam-se os livros do Novo Testamento ORÍGENES, é um erudito da época, era tão trabalhador que se diz que empregou 7 estenógrafos que revezavam no trabalho de registro do que ditava, além de 7 copistas e outros que ajudavam na parte de secretaria. Redigiu ele do texto do Novo Testamento, defendeu sua inspiração, escreveu comentários ou discursos sobre a maioria dos livros. 

TERTULIANO (cerca de 200) foi o primeiro a chamar a coleção que temos de "Novo Testamento", assim colocando-a ao mesmo nível de inspiração como os livros do Velho Testamento. BIBLIOTECAS se formaram em Alexandria, Jerusalém, Cesaréia, Antioquia, Roma e ainda outras cidades, das quais a parte mais importante consistia em manuscritos e comentários das Escrituras. 300 - 400 - O cânon bem estabelecido Vários fatores contribuíram para tornar importante a distinção entre livros canônicos e outros livros não canônicos. Alguns dos fatores eram: a) - A coleção num só livro dos livros inspirados. b) - Serem reconhecidos estes livros com a autoridade da fé cristã. c) - O aumento das heresias e falsa doutrina. Antes do fim do quarto século, todas as Igrejas tinham reconhecido o cânon do Novo Testamento, como o temos hoje. Eusébio, conta até que ponto o assunto do Cânon chegara a seu tempo (316 d.C.). 1) - Aceitos universalmente - Os 4 evangelhos, Atos, Epístolas de Paulo (incluindo Hebreus), I Pedro, I João e Apocalipse. 2) - Disputado por alguns - Embora admitidos pela maioria e pelo próprio Eusébio – Tiago, II Pedro, II e III João, Hebreus e Judas. 3) - Não genuínos - Atos de Paulo, Didache (ensinos dos Apóstolos), o Evangelho dos egípcios, o Evangelho de Tomé, o Evangelho das basilidas, o Evangelho de Matias e o Pastor de Hermes. No ano de 367, Atanásio pela primeira vez apresentou um cânone do Velho e Novo Testamentos firmemente circunscritos, dentro do qual eram definidas as classes individuais dos textos e de sua seqüência. Ele designou vinte e sete livros como sendo os únicos realmente canônicos do nosso Novo Testamento; ninguém pode acrescentar mais nada a este número, bem como ninguém pode retirar coisa alguma. O 3° Concílio de Cartago (397) mandou que: "além das Escrituras canônicas, nada se lesse na igreja sob o título de "Escrituras divinas". A discussão a respeito do cânon nos séculos subseqüentes se acalmou, porém, muitos eruditos tem se perguntado a si mesmos porque haveriam eles de concordar com a resolução já feita. Agostinho disse que concordou por causa da natureza dos próprios livros e pela unidade praticamente completa entre os cristãos neste assunto. Calvino baseava a sua crença na autoridade desses livros no testemunho do Espírito Santo. Nós aceitamos por todas essas razões, mas principalmente porque já provamos em nossas vidas a veracidade de tudo aquilo que está escrito. Quando vivemos pelas Escrituras, descobrimos que elas são suficientes para todas as nossas necessidades, completas em si mesmas. A única regra de fé e prática.

OS MANUSCRITOS DO NOVO TESTAMENTO Os manuscritos do Novo Testamento podem ser classificados segundo a matéria que os compõem, ou segundo os caracteres da escrita. Esta classificação ajuda a data-los. Estes manuscritos são papiros ou pergaminhos. UM PAPIRO - é constituído por tiras de medula do papiro (espécie de cânico com caule triangular, da família das ciperáceas, da grossura de mais ou menos um braço e de 2,5 m a 5 m de altura), cortadas em finas talas e colocadas em camadas cruzadas, estas tiras formam folhas que são em seguida, fixadas umas após outras e enroladas em torno de uma vara. O rolo assim formado se chama, em grego, biblos (dai a palavra: Bíblia) e pode ter até 10 m de comprimento. Os papiros do Novo Testamento são os mais antigos documentos de base que possuímos: em sua maioria datam do século III (um papiro descoberto em 1935, deve mesmo ser datado do começo do 2° século). Se bem que nos transmitam apenas fragmentos de textos, estes documentos são testemunhas preciosas do texto, justamente em razão da sua Antigüidade. Existem atualmente em número de 76, designados nas edições críticas por P1, P2 etc. UM PERGAMINHO - é uma pele, ordinariamente de ovelha, cabra ou bezerro, tratada e cortada em folhetos (a palavra "pergaminho" se originaria da cidade de Pérgamo): estes são postos um em cima do outro para formar não um rolo, mas um volume (em grego: teuchos) de onde vem a palavra Pentateuco para assinalar os primeiros cinco livros do Velho Testamento). Os pergaminhos, trazendo textos do Novo Testamento, datam somente do século IV, no máximo, mas apresentam-nos, geralmente, textos completos do Novo Testamento. O princípio e o fim do texto faltam às vezes, em conseqüência da deterioração, fácil de imaginar, dos folhetos da capa. Todos estes documentos são escritos em grego mas em um grego que não é mais o grego clássico. (Este grego, comumente falado em todo império, é denominado Koinê: língua comum). Os manuscritos mais antigos do Novo Testamento são escritos em letra maiúsculas ou "unciais". Atualmente seu número é de 252 (excluem-se os achados de Qumran, que ainda não foram reconstituídos totalmente, não sabendo-se assim o seu número exato). As edições críticas os designam por letras maiúsculas. Os manuscritos em minúsculas (conhecemos hoje 2646) datam no máximo do século IV. Entretanto não devem ser negligenciados porque os copistas do século IX, X e XI re-copiavam possivelmente manuscritos em maiúsculas muito mais antigos, que não possuímos mais. As edições críticas os assinalam por algarismos árabes. Todos estes manuscritos são assaz difíceis de ler. As palavras, as frases e os parágrafos não são separados por espaço algum, e não encontramos nem acento nem sinal de pontuação. Seis manuscritos em maiúsculas são muito importantes: O Vaticanos (designados por "B" nas edições críticas), assim chamado porque é conservado na biblioteca do Vaticano. Datando do século IV, é o mais antigo de todos os manuscritos sobre pergaminho. O Sinaíticus (designados por "X"), descoberto em um convento do Sinai, no século IX, vendido em 1933, pelo governo soviético ao British Museum em Londres, também deve datar do século IV. O Alexandrinus (designados por "A"), trazido de Alexandria a Inglaterra no século XVIII e igualmente conservado no British Museum, data do século V. O Códex Ephrem (designado por "C"), e uma "palimpsesto", que quer dizer que o texto primitivo, um manuscrito do Novo Testamento datando do século V, foi apagado no século XII por um copista que se serviu do pergaminho para nele copiar tratados de Ephrem da Síria. Felizmente, o texto primitivo não desapareceu totalmente e pode ainda ser lido sob o texto medieval por olhos peritos (trabalho penoso, facilitado hoje em dia pelos processos técnicos modernos). Este manuscrito é conservado em Paris, na Biblioteca Nacional. Estes quatro primeiros manuscritos não diferem entre si a não ser por "variantes" de pormenor. Dois outros manuscritos (designados por "D") apresentam, com os quatro precedentes, grande número de variantes e particularmente notória. Datam ambos do século VI. O primeiro: Códex Bezae Cantabrigiensis deve seu nome ao fato de ter pertencido, assim como, aliás, também o segundo, a Theodoro de Beza, amigo de Calvino, e que em 1581, seu proprietário o ofertou a Cambridge. Escrito sobre duas colunas, a primeira contendo texto grego, a segunda a tradução latina, oferece somente os 4 evangelhos e o livro de Atos dos Apóstolos. Hoje em dia, após os achados do Quimran, existem vários manuscritos que estão sendo estudados e também são apresentados ao público em geral. Eles encontram-se em Jerusalém, no Museu do Livro. Ali percebemos o autêntico milagre de preservação dos mesmos, pois encontram-se alguns inteiros e outros fragmentados de tal forma que é preciso "monta-los" como a um quebra-cabeças para descobrir-se de que manuscrito se trata. A ciência tem colaborado muito para desvendar este quebra-cabeças. Os manuscritos são feitos de pele de carneiro, e cada um deles está passando por um teste de DNA. Este teste determina que pedaços pertencem aos manuscritos mais "completos", pois o DNA possui o código genético de cada animal em particular. Assim torna-se impossível "juntar" pedaços diferentes!

AS VERSÕES DO NOVO TESTAMENTO Há importantes traduções do original grego do Novo Testamento para dez idiomas antigos, conforme descrição abaixo: Latim: A tradição latina começou em cerca de 150 D.C. O "Latim Antigo" (anterior à "Vulgata") conta com cerca de 1000 manuscritos. Após o século IV, a versão latina foi padronizada na Vulgata. Há cerca de 8000 traduções latinas do tipo Vulgata, pelo que a tradição latina conta com cerca de 10.000 manuscritos conhecidos, ou seja, mais ou menos o dobro dos manuscritos em grego. Siríaco: Quanto ao siríaco antigo há apenas dois manuscritos, mas revestem-se de grande importância. Datam dos séculos IV e V. A tradição siríaca foi padronizada no Peshitto, do qual há mais de 350 manuscritos do século V em diante. Copta: Esse é o Novo Testamento do Egito. Há duas variações desse texto, dependendo de sua localização geográfica. O saídico veio do sul do Egito, contando com manuscritos desde o século IV. O boárico veio do norte do Egito, contando com um manuscrito do século IV, mas os demais são de origem bem posterior. Nos séculos depois do século IV, os manuscritos coptas foram muito multiplicados, pelo que há inúmeras cópias pertencentes à esta tradição. Formam um grupo valioso, pois são de caráter "alexandrino", concordando com os manuscritos gregos mais antigos e dignos de confiança. Armênio: Essa tradição começou no século V. Com excessão do latim, há mais manuscritos dessa tradição do que qualquer outra. Já foram catalogados 2000 deles. A versão armênia tem vários representantes do tipo de texto "cesareano", mas muitos pertencem à classe bizantina. Geórgico: Os georgianos eram um povo da Geórgia caucásia, um agreste distrito montanhoso entre os mares Negro e Cáspio, que receberam o Evangelho durante a primeira parte do século IV. Supomos que a tradição geórgica dos manuscritos começou não muito depois, mas não há quaisquer manuscritos anteriores ao ano de 897. O seu tipo de texto é cesareano. Etíope: Essa tradição conta com manuscritos datados desde o século XIII. Há cerca de 1000 desses manuscritos, essencialmente do tipo de texto bizantino. Gótico: Algum tempo depois dos meados do século IV, Ulfias, chamado o apóstolo dos godos, traduziu a Bíblia do grego para o gótico, uma antiga língua germânica. Agora há apenas fragmentos, do século V em diante. São essencialmente do tipo de texto bizantino, com alguma mistura de formas ocidentais. O texto bizantino, entretanto, é uma variedade anterior àquela que finalmente veio a fazer parte do Textus Receptus. Árabe e Persa: Alguns poucos manuscritos tem sido preservados nesses idiomas; mas são de pouca importância no campo da crítica textual. Quanto à versão árabe, os problemas de estudo são complexos e continuam sem solução, pelo que é possível que ela seja mais importante do que se tem suposto até hoje. A LÍNGUA DO NOVO TESTAMENTO Não se pode reconstruir o pensamento cristão primitivo se não se der atenção ao estudo acurado da língua grega durante o primeiro século. Os elementos auxiliares aqui indicados visam a uma introdução.

DESCOBERTAS ARQUEOLÓGICAS Várias foram as descobertas arqueológicas que proporcionaram o melhor entendimento das Escrituras Sagradas. Os manuscritos mais antigos que existem de trechos do Antigo Testamento datam de 850 d.C. Existem, porém, partes menores bem mais antigas como o Papiro Nash do segundo século da era cristã. Mas sem dúvida a maior descoberta ocorreu em 1947, quando um pastor beduíno, que buscava uma cabra perdida de seu rebanho, encontrou por acaso os Manuscritos do Mar Morto, na região de Jericó. Durante nove anos vários documentos foram encontrados nas cavernas de Qumrân, no Mar Morto, constituindo-se nos mais antigos fragmentos da Bíblia hebraica que se têm notícias. Escondidos ali pela tribo judaica dos essênios no Século I, nos 800 pergaminhos, escritos entre 250 a.C. a 100 d.C., aparecem comentários teológicos e descrições da vida religiosa deste povo, revelando aspectos até então considerados exclusivos do cristianismo. Estes documentos tiveram grande impacto na visão da Bíblia, pois fornecem espantosa confirmação da fidelidade dos textos massoréticos aos originais. O estudo da cerâmica dos jarros e a datação por carbono 14 estabelecem que os documentos foram produzidos entre 168 a.C. e 233 d.C. Destaca-se, entre estes documentos, uma cópia quase completa do livro de Isaías, feita cerca de cem anos antes do nascimento de Cristo. Especialistas compararam o texto dessa cópia com o texto-padrão do Antigo Testamento hebraico (o manuscrito chamado Codex Leningradense, de 1008 d.C.) e descobriram que as diferenças entre ambos eram mínimas. Outros manuscritos também foram encontrados neste mesmo local, como o do profeta Isaías, fragmentos de um texto do profeta Samuel, textos de profetas menores, parte do livro de Levítico e um targum (paráfrase) de Jó. As descobertas arqueológicas, como a dos manuscritos do Mar Morto e outras mais recentes, continuam a fornecer novos dados aos tradutores da Bíblia. Elas têm ajudado a resolver várias questões a respeito de palavras e termos hebraicos e gregos, cujo sentido não era absolutamente claro. Antes disso, os tradutores se baseavam em manuscritos mais "novos", ou seja, em cópias produzidas em datas mais distantes da origem dos textos bíblicos.

 Todos estes fatores nos mostram, mais uma vez, o quanto evoluiu o processo de aprimoramento da Bíblia como um livro especial para a humanidade! Isso não significa que não devamos confiar na Bíblia, mas sim que precisamos cada vez mais nos aprofundarmos no conhecimento (e relacionamento) com Deus e com sua  Palavra através dos homens, pois ela é a única fonte de informação escrita que temos a respeito dele! Por isso, a Bíblia ainda é o livro mais lido do mundo.

sábado, 29 de setembro de 2012

A Lenda Áurea


Não existe algo como um “cânon dos santos”, no sentido de um único registro de todos os homens e mulheres que, desde os primeiros tempos, tenham sido publicamente honrados pela Igreja Católica Apostólica Romana. Seus nomes devem ser listados em inúmeros calendários eclesiásticos, sejam os antigos ou modernos, nas compilações conhecidas no Ocidente e no Oriente como martirológios, menológios, ous sinaxários, e em outras fontes. Tal lista de nomes assim obtido é de grande quantidade, e é chamada de MARTIROLÓGIO ROMANO, onde contém cerca de quatro mil e quinhentos nomes, mas é bastante incompleto.


Outros escritos antigos sobre a vida dos santos são de tipos diferentes e tem valor histórico bastante variado, ou mesmo duvidoso. Vão desde biografias escritas por contemporâneos ou mesmo por discípulos, até obras posteriores bem cheias de erros, omissões, interpolações, e “retoques” fantásticos. Logo, a pesquisada vida dos primeiros santos esta envolvida em dificuldades especiais. Existem aquelas que são enfrentadas por outros historiadores e biógrafos, escassez e precariedade dos registros, incertezas e contradições, interpretações conflitantes, e assim por diante. Somada a estas, há em particular a “seletividade” do material disponível.



Freqüentemente, os hagiógrafos só estavam interessados nos aspectos diretamente “religiosos” da vida do santo, e a biografia se transformava em uma simples lista de milagres e feitos fantásticos até, de flagelos físicos voluntários, ou no caso dos mártires, numa seqüência de tormentos indescritíveis, tormentos estes tão intensos que bastariam para destruir o corpo humano uma única vez. Na imensa literatura hagiográfica dos primeiros tempos, o fato histórico e um alto grau de autenticidade são elementos raríssimos. Vamos a encontrar sempre os mitos, o folclore, as lendas ou as ficções românticas e edificantes, que não difere de muitas novelas históricas.



Estas “vidas lendárias” tornaram-se uma forma literária reconhecida no gênero, que se propunha honrar os santos católicos, exaltar suas virtudes e ações, inspirar mais o ânimo e fibra entre os cristãos mais apáticos e desencorajados.



Em plena Idade Média, o frade dominicano Jacques de Voragine quis escrever uma obra sem precedentes: a narrativa da vida dos 180 santos mais conhecidos até sua época. Ele o fez em latim popular, e o objetivo era claro: o clero necessitava de leitura acessível que o inspirasse em suas pregações, apresentando exemplos de vida que corriam de boca em boca somente através das tradições populares. O resultado de tal iniciativa foi impressionante: em alguns anos a obra tornou-se, juntamente com a Bíblia, o livro mais copiado, lido, escutado, comentado e parafraseado nos países da Cristandade. A partir de 1264 se dedicou a escrever uma enxundiosa compilação das vidas e dos milagres dos santos, obra que gozou de grande prestígio e popularidade durante séculos e que depois foi acrescentada por outros autores.


Em 1265, Jacques de Voragine foi eleito Provincial de sua ordem na Lombardia. Nesse período teve a honra de ser o superior de Santo Tomás de Aquino. Em 1292, foi nomeado Arcebispo de Gênova, cargo que ocupou até a sua morte, aos 70 anos, em 1298.



No século XIII, quando instituições como as corporações de ofício estavam no seu auge e, ao mesmo tempo, floresciam as primeiras universidades, Voragine quis oferecer uma dádiva ao povo, ocupado em construir igrejas e catedrais, ávido por conhecer a verdadeira fé. Escreveu ele com fervor e entusiasmo uma história, retraçando todos os conhecimentos e lendas acumulados com o passar dos séculos, sobre a vida dos santos. Nasceu assim o primeiro livro religioso realmente acessível a todos: a Legenda Sanctorum, ou “o que deve ser lido dos santos”. Em pouco tempo a obra recebeu o nome de Légende Dorée — Lenda Áurea, porque, diziam então, seu conteúdo era de ouro.






O livro, reproduzido em mais de 10 mil manuscritos, narra com uma força surpreendente as incríveis e maravilhosas histórias dos santos, seus milagres e martírios, recuando até os primeiros anos da Cristandade medieval e abarcando os lugares mais longínquos e recônditos do mundo de então. O religioso dominicano evoca também as principais festas do calendário litúrgico e mariais.


Outro efeito, contudo, permitiu que o livro alcançasse ainda mais importância. O texto maravilhou os artistas, que dele prazerosamente se apoderaram desde os primórdios da Renascença italiana, tornando-o referência inconteste de todos os pintores, que ali encontravam fonte inesgotável de inspiração. Isso ocorreu com os maiores artistas, tais como Giotto, Duccio, Fra Angelico, Simone Martini, Piero della Francesca, Masaccio, Masolino, Pietro Lorenzetti, Ambroggio etc. Mas também outros menos conhecidos, embora não menos inspirados, empregaram seu gênio para exaltar cenas da vida de santos e enriquecer as igrejas, conventos e mosteiros com afrescos, retábulos, vitrais e políticos.






Se uma centena dessas reproduções artísticas são universalmente conhecidas, pode-se dizer, entretanto, que mais de um terço delas são totalmente inéditas: afrescos escondidos no fundo de conventos, retábulos descobertos em igrejas desconhecidas, seqüências espalhadas em diversos museus, ou mesmo em coleções privadas. A conjunção do livro do Beato Voragine com as obras de arte que ele suscitou foi uma agradável surpresa, e realçou a beleza extraordinária, cheia de sabedoria e de maravilhoso da Idade Média.


O Padre Hipólito Delehaye, o mais crítico dentre os hagiógrafos, escreveu na Lenda Áurea: “Confesso que o que estou lendo, me é muitas vezes difícil conter o sorriso. Mas é um sorriso simpático e amigável, que não perturba a resposta religiosa despertada pela descrição da bondade e dos feitos heróicos dos santos”. As narrativas lendárias tem esse valor: são a evidência daquilo que o povo “acreditava” quando as lendas tomaram forma. Como afirmou Sir Arthur Quiller-Couch, escrevendo em um outro contexto, “uma lenda, por mais que seja um exagero em realação aos fatos, é um fato em si, atestando a crença”. Naturalmente, não devemos subestimar a sofisticação mental das pessoas letradas.






NO INÍCIO, a lenda era um relato sobre um mártir, ou outro santo, que deveria ter lido publicamente no dia de sua comemoração O conteúdo podia ser factual, imaginário ou uma mistura dos dois. Com o passar do tempo,a palavra adquiriu, na linguagem comum, um significado completamente desfavorável, do ponto de vista histórico. É nesse sentido que ela é usada na Lenda Áurea, significando uma narrativa, ou parte de uma narrativa, que não é historicamente verdadeira ou que, pelo menos, é duvidosa.


De nenhuma outra categoria de pessoas que já passaram por este “vale de lágrimas”, se pode dizer com tanta verdade que “tendo morrido, ainda falam”. A Vida destes santos, portanto, merecem atenção, simpatia e compreensão de todos – cristãos praticantes ou não – que se consideram humanistas e podem dizer, como o escritor romano Terêncio: “Sou um homem, e nada do que é humano me é indiferente”.


Não faz parte do escopo de uma introdução discutir assuntos como milagres em si ou na relação que guardam com as narrativas sobre os santos, nem examinar visões religiosas e outros fenômenos tão frequentemente ligados a vida dos santos contados na Lenda Áurea, ou ainda buscar certos costumes, tais como a ênfase dada por muitos escritores ao asceticismo, verdadeiro ou suposto. O mesmo se aplica aos vários aspectos dos cultos públicos dos santos, suas relíquias, seus templos, e as peregrinações a esses lugares, a dedicação as igrejas em sua homenagem, sua escolha como patronos celestiais, sua freqüente e variada representação em pinturas e esculturas (sem falar na poesia, na música, no cinema e no teatro).Cada um desses aspectos é um assunto com caráter próprio que requer tratamento em separado.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

As Confissões de Santo Agostinho



Aurelianus Augustinus (Aureliano Agostinho) foi o mais célebre intelectual do seu tempo. Quando jovem, tinha uma índole rebelde, entretanto, isto não o diminuiu diante de tanta cultura e inteligência além de seu reconhecimento. Sua vida chegou até nós por um mero acaso do destino. Em meados do Século XV, um navio corsário corria com todas as velas desfraldadas em uma perseguição a nave genovesa, em pleno Mar Mediterrâneo. O Navio que perseguia o genovês ia comandado pelo corsário Liulli, e ostentava as cores de Aragão. Liulli, o capitão corsário, não perdeu tempo iniciou tão logo a abordagem quando conseguiu chegar perto do navio genovês.




Depois de uma ligeira resistência a nave genovesa, esta foi tomada, e seus tripulantes, aprisionados. Começou então, um saque ao navio. Contudo, dentre os objetos aprisionados estava um famoso manuscrito em latim: “Sancti Aureli Augustini Confessionum Libri Tredecim”. Na verdade, tratava-se dos treze livros intitulados “Confissões” de Santo Agostinho. O precioso manuscrito e a mais rica presa do assalto foi levado a leilão tão logo os corsários desembarcaram. O Rei de Aragão, Afonso V, por dez ducados, arrematou a valiosa relíquia. Afonso era conhecido como o Rei Cavalheiro, dado aos estudos e ao cultivo das letras.


Como condiz ao título, trata-se das confissões (ou desabafos) de um homem que conheceu de quase tudo um pouco. Nascido em Tagaste, uma pequena aldeia da Numídia, na África do Norte, em 354, numa época em que entre tantas outras províncias do dilatado Império Romano. Seu pai era pagão, mas sua mãe, Santa Mônica, foi aquela que muito se preocupou com a índole rebelde do filho. Em Mônica, estamos a ver o tipo do estereotipo da mãe zelosa e aflita pelo futuro de um filho.



Conforme ele CONFESSA, fora uma criança rebelde e brigona. A mãe desejava que ele fosse um cristão, mas o seu pai estava determinado a fazer dele um homem de conhecimentos. Desde a mais tenra idade, apesar de ser uma criança, como ele mesmo diz “indisciplinada e malvada”, teve tendências às letras e as artes cênicas. Já recitava Virgílio com oito anos de idade, para agrado de seu pai.


Agostinho fez seus estudos em Tagaste e Madaura, mas por falta de recursos, teve que voltar a casa paterna. Como ele mesmo diz, passou um ano na ociosidade, um “ano do qual nada fiz de proveitoso, e só vivia a freqüentar lugares cheios de obscenidades e outras diversões”. Com seu pai, ele ia às termas das cortesãs. Algum tempo depois, obteve ajuda financeira de um tio para prosseguir nos estudos, e foi para Cartago estudar.


Lá, ingressou numa das melhores escolas de retórica. Notabilizou-se como um dos melhores alunos, mas isto não impediu que mesmo em Cartago, juntamente com seus amigos e colegas de escola, não empreendesse em escapadas de diversão, aventura, e sexo. Mas com tudo isso, existia algo em Agostinho que ele mesmo não sabia explicar, algo como se o vazio atingisse o seu coração. Sempre se questionava se a vida era só aquilo que o cercava, diversões, mulheres, e etc. OU, havia algo mais além dessa vida?




Numa destas meditações, a caminho da praia, repentinamente, ouviu o som de um riso, e voltando-se, deparou uma linda jovem que brincava com os pés entre as ondas. Doravante, os dois se encontraram...e se amaram. Agostinho viveu com esta mulher, cujo nome era Lídia. Desta união não oficial, nasceu um filho, Adeodato.


Agostinho não relaxou em seus estudos e s e formou em retórica. Entretanto, havia algo que para ele era particular descobrir: a busca incessante pela verdade. Foi um homem em busca de várias ideologias, inclusive mesmo a do cristianismo, tendo ele uma mãe cristã, que, em exageros constantes, rezava constantemente pela conversão definitiva do filho. Para se ter uma idéia, o pai de Agostinho só se deixou batizar em seu leito de morte.


O FATO DE Agostinho buscar outras fontes de conhecimentos, e o fato de viver com uma mulher numa união não oficial (e de ter um filho com ela) irritava bastante Mônica, que chegava ao cúmulo de pedir ao Bispo Ambrósio conselhos para que este fosse adverti-lo. Este, sabiamente, disse a mãe tão aflita: “De nada isto adiantaria. Seu filho vive confuso. Volte para sua casa, pois afinal, um filho que te causa tantas aflições, nunca poderá ser perder”.


Agostinho adotou a filosofia dos maniqueus, que consistia na realidade substancial tanto ao bem como ao mal, julgando achar neste dualismo maniqueu a solução do problema do mal e, por conseqüência, uma justificação da sua vida. Algum tempo depois, Agostinho perdeu um de seus melhores amigos, que no leito de sua morte, ele se convertera à fé cristã. Tinha sido este amigo um maniqueu como ele, e antes de falecer, os dois travaram um colóquio, ao que Agostinho disse: “amigo, quanto tu te convertestes ao batismo, na certa tu não tinhas noção por tua enfermidade. Quando melhorardes, na certa não darás atenção a estas asneiras”. Para surpresa de Agostinho, o jovem amigo enfermo dele respondeu: “Muito ao contrário, pois minha vida agora será outra”. Pouco tempo depois, este amigo morreu, para desespero de Agostinho: “Morte cruel, que me arrebatas o amigo dileto. Porque continuam a viver outros homens e não aqueles cuja amizade tanto bem me fazia?”.


Mas a vida em Tagaste, segundo suas palavras, passou a ser insuportável. Com ajuda de um de seus amigos, Romaniano, se deslocou com a mulher e o filho pequeno para Cartago, onde abriu uma escola de retórica. Seu primeiro aluno foi um jovem que daria grande influência em sua vida, e seu nome era Alípio.


Sete anos depois, cansado e aborrecido com os estudantes cartagineses, que eram, segundo ele, vadios e desordenados, decidiu ir para Roma, em busca de novos horizontes, e. para desgosto da mãe. Daí, um episódio de sua vida das mais identificáveis na vida de um ser humano. Quem, em algum momento, nunca precisou enganar os pais? Pois foi isto que ocorreu, Agostinho, para ir a Roma, precisou enganar a sua mãe.






Numa empreitada, estavam Agostinho e Alípio perto do porto. Mônica foi de encontro com Alípio, e quando viu Agostinho, pensou que este estava se despedindo simplesmente do amigo que partiria para a Cidade Eterna. Em surdina, apoiado pelos demais amigos, as bagagens de Agostinho iam sendo transportados para o navio que estaria a zarpar, enquanto este convencia a mãe a ir orar numa capela que havia nas proximidades do porto enquanto ele “despedia do amigo que ia embarcar”.


A pobre mãe fez o sugerido, mas tão logo voltou, já estava a ver a nave se afastando do cais, e seu filho dentro dele em direção a Roma. Isto foi algo que Agostinho jamais se recuperou e foi um dos itens que o levaram a escrever estas “confissões”.


Chegando a Roma, abriu uma escola, e conseguiu reunir um grande número de discípulos. Depois, mandou buscar a mulher, Lídia, e seu filho pequeno Adeodato. Entretanto, depois e algum tempo, Agostinho constatou que os estudantes romanos tinham um grave defeito: eles não pagavam pelas suas lições. Não teve outra escolha senão cobra-los pelas aulas, embora admitisse que eles fossem alunos aplicados.


Parece que se não fosse à ajuda de amigos, Agostinho morreria de fome, pois estes o recomendaram a Aurélio Símaco, Prefeito de Roma, que investiu Agostinho numa agradável missão: partiria para Milão para ser mestre de retórica. Lá, tomou conhecimento de Ambrósio, ex Bispo de Tagaste, que agora, exercia sua sé em Milão. Este Bispo era conhecido por sua energia e virtude, e ótimo orador de inigualável eloqüência.

Agostino foi convidado a fazer um panegírico em honra a Valentiano II. Um adolescente, na realidade, e com terríveis defeitos. Sua missão, aqui, era fazer com que o povo visse nele um “governante de grandes virtudes”. Tão logo pronunciou Agostinho seu discurso em um imenso anfiteatro, a mãe do imperador sussurrou no ouvido do filho: “Nunca te haviam dito coisas tão belas, filho”.


A ÂNSIA pela busca da verdade não encontrou desistência na pessoa de Agistinho. Foi procurar o Bispo Ambrósio, que a princípio, ignorou o erudito retórico, e pouco caso fazia de sua pessoa. Quando finalmente conseguiu uma audiência com o Bispo, este o tratou apenas com cordialidade. Vendo que era inútil, tratou Agostinho de apenas ouvis as suas prédicas em seus sermões no templo. Alistou-se como catecúmeno, e desde então, passou a ouvir as prédicas do Bispo Ambrósio.


Tempos depois, Agostinho foi ver a mãe, e ela sentia certas mudanças nele, o que lhe enchia de esperanças. Talvez um dos maiores contrastes na cristandade no que se diz respeito à Santa Mônica e Santo Agostinho, mãe e filho, foi o fato desta sugerir ao filho largar a mulher (pelo modo de se dizer na época, repudiar) e o filho ficar com o pai e a avó, para uma educação com bases moralmente cristãs. Fico me imaginando que fim teria levado Lídia, uma mulher apaixonada e dedicada, boa mãe e ótima esposa, tendo em vista que ela mesma veio a acompanhar a trajetória de lutas do marido. Como ele mesmo diz em suas “confissões”, Agostinho diz: “pelo meu repúdio, Lídia teria de regressar à África, sua terra. Uma tarde, junto ao mar, o mesmo grande mar onde eu a havia conhecido, nos demos adeus”. Sua mãe até mesmo assumira um compromisso de um casamento sério para o seu filho.


Suas inquietudes espirituais não cessaram. Ouvia regularmente os sermões do Bispo Ambrosio, onde percebia um catolicismo mais sublime do que o imaginado, e lia São Paulo. Um dia, julgando ouvir a voz de uma criança: "Tolle, lege", abriu ao acaso as Epístolas de são Paulo, que tinha ao lado e passou a sentir que "todas as trevas da dúvida se dissipavam". Doravante, renunciou a uma cátedra de retórica e a noiva que sua mãe lhe havia arranjado, e dedicou-se a escrever e a estudar os Salmos de David e a se preparar para o batismo.


Voltou-se para o estudo dos filósofos neoplatônicos, renunciou aos prazeres físicos e em 387 foi batizado por santo Ambrósio, junto com o filho Adeodato. Tomado pelo ideal da ascese, decidiu fundar um mosteiro em Tagasta, onde nascera. Nessa época perdeu a mãe, com quem tivera na véspera um grande colóquio, e posteriormente, o filho, para quem dera a extrema unção. Diz ele: “E eu que fora tão grande pecador, abençoei meu filho e lhe dei por companheiro de viagem a Eternidade o amado corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo.”


Ordenado padre em Hipona, em 391, pequeno porto do Mediterrâneo, também na atual Argélia, e em 395 tornou-se bispo-coadjutor de Hipona, passando a titular com a morte do bispo diocesano Valério. Não tardou para que fundasse uma comunidade ascética nas dependências da catedral.


Em sua vida e em sua obra, santo Agostinho testemunha acontecimentos decisivos da história universal, com o fim do Império Romano e da antiguidade clássica. O poderoso estado que durante meio milênio dominara a Europa estava a esfacelar-se em lutas internas e sob o ataque dos bárbaros. Em 410, Agostinho viu a invasão de Roma pelos visigodos e, pouco antes de morrer, presenciou o cerco de Hipona pelo rei dos vândalos, Genserico. Nesse clima, em que as cismas e as heresias eram das poucas coisas a prosperar, ele estudou, ensinou e escreveu suas obras.



Antes, Agostinho teve uma experiência mística, que lhe foi revelado, e vem a ser esta, um dos últimos capítulos de sua trajetória: estava ele a passear solitariamente numa praia, como tinha o hábito de fazer nas horas da tarde, e se comunicava com Deus em seu íntimo, lhe bebendo uma imensidade ignota. Suas dúvidas quanto ao mistério da Santíssima Trindade... Três pessoas em um só Deus verdadeiro. Foi nisso, que, repentinamente, viu um menino na praia que estava a brincar, sentadinho e fazendo um buraco na areia, com uma conchinha. Nisso, Agostinho foi em direção ao menino e perguntou: ”menininho, por que estás com a conchinha pondo água do mar dentro desse buraco de areia? – ao ponto que o menino respondeu: “quero colocar toda a água do mar aqui.” Agostinho riu e ironizou: “Só mesmo numa criança para tal idéia correr. E como queres, minha criança, que toda a água do mar imenso caiba aí nesse pequeno buraco que tu fizeste?”- e o menino prontamente replicou: “e como queres tu que os mistérios de um Deus infinito possam caber em um entendimento tão pequeno como o de um homem”“?”- Nisso, o menino desaparece, e Agostinho caiu de joelhos: “Meu Deus, isto é um milagre do Vosso Infinito Poder”.


Assim termina suas “confissões” “Depois dessas maravilhosas coisas que vivi, quis escrever estas tão sinceras confissões”. Santo Agostinho morreu em Hipona, em 28 de agosto de 430. E nessa data, 28 de agosto, é festejado como doutor da Igreja Católica.
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