segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Bento XVI: O Último Angelus.


Cidade do Vaticano (RV) – “Não abandono a Igreja, pelo contrário. Continuarei a servi-la com a mesma dedicação e o mesmo amor”: palavras de Bento XVI pronunciadas em seu último Angelus como Pontífice.

Mais de 100 mil pessoas lotaram a Praça S. Pedro para este evento histórico. Faixas e cartazes em várias línguas demonstravam o carinho dos fiéis. Desde as primeiras horas da manhã, a Praça aos poucos foi sendo tomada por religiosas, sacerdotes, turistas, mas principalmente por famílias com crianças e muitos jovens.

Ao meio-dia, assim que a cortina da janela de seus aposentos se abriu, Bento XVI foi aclamado pela multidão.

Comentando o Evangelho da Transfiguração do Senhor, o Papa citou o evangelista Lucas, que ressalta o fato de que Jesus se transfigurou enquanto rezava: a sua é uma experiência profunda de relacionamento com o Pai durante uma espécie de retiro espiritual que Jesus vive sobre um alto monte na companhia de Pedro, Tiago e João.


Meditando sobre esta passagem do Evangelho, explicou o Pontífice, podemos tirar um ensinamento muito importante. "Antes de tudo, a primazia da oração, sem a qual todo o trabalho de apostolado e de caridade se reduz ao ativismo. Na Quaresma, aprendemos a dar o justo tempo à oração, pessoal e comunitária, que dá fôlego à nossa vida espiritual. Além disso, a oração não é um isolar-se do mundo e de suas contradições."

A existência cristã – disse o Papa, citando sua Mensagem para a Quaresma –, consiste num contínuo subir o monte do encontro com Deus, para depois descer trazendo o amor e a força que dele derivam, a fim de servir nossos irmãos e irmãs com o mesmo amor de Deus.


“Queridos irmãos e irmãs, esta Palavra de Deus eu a sinto de modo particular dirigida a mim, neste momento da minha vida. O Senhor me chama a 'subir o monte', para me dedicar ainda mais à oração e à meditação. Mas isto não significa abandonar a Igreja, pelo contrário. Se Deus me pede isso, é precisamente para que eu possa continuar a servi-la com a mesma dedicação e o mesmo amor com o qual eu fiz até agora, mas de um modo mais adequado à minha idade e às minhas forças.”

Na saudação em várias línguas, Bento XVI falou também em português: “Queridos peregrinos de língua portuguesa que viestes rezar comigo o Angelus: obrigado pela vossa presença e todas as manifestações de afeto e solidariedade, em particular pelas orações com que me estais acompanhando nestes dias. Que o bom Deus vos cumule de todas as bênçãos”.(BF)

 Fonte: NewsVA

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domingo, 24 de fevereiro de 2013

Meditando a Transfiguração do Senhor



Conforme a Liturgia deste Domingo, 24/02/2013

— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas.
— Glória a vós, Senhor!

Naquele tempo, Jesus levou consigo Pedro, João e Tiago, e subiu à montanha para rezar. Enquanto rezava, seu rosto mudou de aparência e sua roupa ficou muito branca e brilhante.


Eis que dois homens estavam conversando com Jesus: eram Moisés e Elias. Eles apareceram revestidos de glória e conversavam sobre a morte, que Jesus iria sofrer em Jerusalém.
Pedro e os companheiros estavam com muito sono. Ao despertarem, viram a glória de Jesus e os dois homens que estavam com ele.

E, quando estes dois homens se iam afastando, Pedro disse a Jesus: “Mestre, é bom estarmos aqui. Vamos fazer três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias”. Pedro não sabia o que estava dizendo.

Ele estava ainda falando, quando apareceu uma nuvem que os cobriu com sua sombra. Os discípulos ficaram com medo ao entrarem dentro da nuvem.
Da nuvem, porém, saiu uma voz que dizia: “Este é o meu Filho, o Escolhido. Escutai o que ele diz!”

Enquanto a voz ressoava, Jesus encontrou-se sozinho. Os discípulos ficaram calados e naqueles dias não contaram a ninguém nada do que tinham visto.


- Palavra da Salvação.
- Glória a vós, Senhor.



Jesus nos revela um Deus que surpreende

Presentes Pedro, João e Tiago, Jesus se transfigura diante deles! Seu corpo ficou luminoso e resplandecente as suas vestes. Com isto, Jesus quis manifestar aos discípulos que Ele era, realmente, o Filho de Deus enviado pelo Pai. Jesus é o cumprimento de todas as promessas do Senhor. É Deus conosco, a manifestação da ternura e da misericórdia do Pai entre os homens.


A Sua Paixão e Morte não serão o fim, mas tudo recobrará sentido quando Deus Pai o ressuscitar e o fizer sentar à Sua direita, na Sua glória. Tudo isto é dito de uma maneira plástica – luz, brancura, glória, nuvem – que indicam a presença de Deus.

Jesus nos revela um Deus que surpreende. Fala da Glória. Todavia, mostra-nos que o caminho necessário para ela é o caminho da cruz, da Paixão e Morte, da entrega total de Sua vida pelo perdão dos pecados.

Já o profeta Daniel ficou surpreendido de ver entrar na glória e receber uma realeza divina, com poder eterno, alguém semelhante a qualquer filho do homem, mas teve de passar pela cova dos leões.


Surpreendidos ficaram também os três apóstolos, no Tabor, ao verem Jesus tão divinamente transfigurado, estando precisamente a rezar preocupado, como qualquer homem, com o que ia sofrer em Jerusalém.

É neste mistério de luz que, hoje, a liturgia nos convida a fixar o nosso olhar. No rosto transfigurado de Jesus brilha um raio da luz divina que Ele conservava no seu íntimo. Esta mesma luz resplandecerá no rosto de Cristo no dia da Ressurreição.


A Transfiguração convida-nos a abrir os olhos do coração para o mistério da luz de Deus, presente em toda a história da salvação. Já no início da criação, o Todo-Poderoso diz: «Faça-se a luz!» (Gn 1, 3), e verifica-se a separação entre a luz e as trevas.

Como as outras criaturas, a luz é um sinal que revela algo de Deus, é como o reflexo da sua glória que acompanha as suas manifestações. Quando Deus aparece, «o seu esplendor é como a luz, das suas mãos saem raios» (Hab 3, 4 s.). Como se afirma nos Salmos, a luz é o manto com que o Senhor se reveste (cf. Sl 104, 2).

No Livro da Sabedoria, o simbolismo da luz é utilizado para descrever a própria essência de Deus: a sabedoria, efusão da glória de Deus, é «um reflexo da luz eterna», superior a todas as luzes criadas (cf. Sb 7, 26.29 s.). No Novo Testamento, é Cristo que constitui a plena manifestação da luz de Deus. A Sua Ressurreição aboliu para sempre o poder das trevas do mal.
Com Cristo ressuscitado, a verdade e o amor triunfam sobre a mentira e o pecado. Nele, a luz de Deus já ilumina definitivamente a vida dos homens e o percurso da história. «Eu sou a luz do mundo – afirma Ele no Evangelho – quem me segue não caminhará nas trevas, mas terá a luz da vida» (Jo 8, 12).


A você que, muitas vezes, se encontra desanimado e assustado, Jesus diz: “O caminho do dom da vida não conduz ao fracasso, mas à vida plena e definitiva”. Seguir a Cristo é a garantia da vitória final.

Portanto, neste segundo Domingo da Quaresma, a Palavra de Deus define o caminho que o verdadeiro discípulo deve seguir para chegar à vida nova. E este não é senão o caminho da escuta atenta de Deus e dos Seus projetos, o caminho da obediência total e radical aos planos do Pai.

Padre Bantu Mendonça
Litrugia do Portal Canção Nova

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

A Cátedra de São Pedro: Trono do Papa e Símbolo da Infalibilidade



Sentado em uma simples cadeira de carvalho, São Pedro presidia as reuniões da primitiva Igreja. Ao longo dos séculos, essa preciosa relíquia foi crescendo em valor e significado.

Nenhum transeunte parecia dar qualquer atenção àquele judeu de aspecto grave que subia com passo firme uma rua do Monte Aventino, em Roma, no ano 54 da Era Cristã.

Entretanto, poucos séculos depois, de todas as partes do mundo acorreriam a essa cidade imperadores, reis, príncipes, potentados e, sobretudo, multidões incontáveis de fiéis para oscular os pés de uma imagem de bronze desse varão até então desconhecido e quase desprezado pela Roma pagã. Pois fora a ele que o próprio Deus dissera: “Tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus” (Mt 16,19).


Sim, era o Apóstolo Pedro que retornava à Capital do Império para ali estabelecer o governo supremo da Santa Igreja.



“Saudai Prisca e Áquila”

Provavelmente o acompanhavam alguns cristãos, entre os quais Áquila e sua esposa Prisca, batizados por ele poucos anos antes. Na Epístola aos Romanos, São Paulo faz a este casal a seguinte referência altamente elogiosa: “Saudai Prisca e Áquila, meus cooperadores em Cristo Jesus; pela minha vida eles expuseram as suas cabeças. E isso lhes agradeço, não só eu, mas também todas as igrejas dos gentios. Saudai também a comunidade que se reúne em sua casa” (Rom 16,3-5).

Irrigada pelo sangue dos primeiros mártires, a evangelização deitava fundas raízes nas almas e se difundia rapidamente por todo o orbe. Mas não existiam ainda edifícios sagrados para a celebração do culto divino, de modo que esta se fazia em residências particulares.


Assim, Áquila e Prisca tiveram o privilégio incomparável de acolher em seu lar a comunidade cristã. Ali São Pedro pregava, instruía, celebrava a Eucaristia. Dessa modesta casa governava ele a Igreja, por toda parte florescente, apesar dos obstáculos levantados pelos inimigos da Luz.



Era uma cadeira simples, de carvalho

Tomada de enlevo e veneração pelo Príncipe dos Apóstolos, Prisca reservou para uso exclusivo dele a melhor cadeira da casa. Nela sentava-se o Santo para presidir as reuniões da comunidade.

Após a morte do Apóstolo, essa cadeira tornou-se objeto de especial veneração dos cristãos, como preciosa evocação do seu ensinamento. Passaram logo a denominá-la de “cátedra”, termo grego que designa a cadeira alta dos professores, símbolo do magistério.

Era primitivamente uma peça bem simples, de carvalho. No correr do tempo, algumas partes deterioradas foram restauradas ou reforçadas com madeira de acácia. Por fim, foi ornada com alto-relevos de marfim, representando diferentes temas profanos.


Um altar-relicário

Há testemunhos e documentos suficientes para acompanhar sua história desde fins do século II até nossos dias.

Tertuliano e São Cipriano atestam que em seu tempo (fim do séc. II e início do séc. III) essa cátedra era conservada em Roma como símbolo da Primazia dos Bispos da urbe imperial.

Por volta do século IV, colocada no batistério da Basílica de São Pedro, era exposta à veneração dos fiéis nos dias 18 de janeiro e 22 de fevereiro. Durante toda a Idade Média ela foi conservada na Basílica do Vaticano, sendo usada para a entronização do Soberano Pontífice.

Em 1657 o Papa Alexandre VII encomendou ao escultor e arquiteto Bernini um monumento para exaltar tão preciosa relíquia. Empenhando todo o seu gênio, construiu ele o magnífico Altar da Cátedra de São Pedro, considerado por muitos sua obra-prima.

Nesse altar cheio de simbolismo, o mármore da Aquitânia e o jaspe da Sicília, sobre os quais se apóia o monumento, representam a solidez e a nobreza dos fundamentos da Igreja. As quatro gigantescas estátuas que sustentam a cátedra – representando Santo Ambrósio, Santo Agostinho, Santo Atanásio e São João Crisóstomo, Padres da Igreja Latina e da Grega – recordam a universalidade da Igreja e a coerência entre o ensinamento dos teólogos e a doutrina dos Apóstolos.No centro do altar foi colocada em 1666 a cátedra de bronze dourado dentro da qual se encerra, como num relicário, a bimilenar cadeira de São Pedro.



Símbolo da Infalibilidade papal

Nos documentos eclesiásticos, a expressão Cátedra de Pedro tem o mesmo significado de Trono de São Pedro, Sólio Pontifício, Sede Apostólica. Num sentido figurativo, equiparase ela a Papado e até mesmo a Igreja Católica.

Afirmaram os Padres do IV Concílio de Constantinopla (ano 859): “A Religião católica sempre se conservou inviolável na Sé Apostólica (…) Nós esperamos conseguir manter-nos unidos a esta Sé Apostólica sobre a qual repousa a verdadeira e perfeita solidez da Religião cristã”.

Nessa mesma época o Papa São Nicolau I pôde com inteira razão sustentar que “nos concílios não se reconheceu como válido e com força de lei senão aquilo que foi ratificado pela Sede de São Pedro, não tendo sido tomado em consideração aquilo que ela recusou”.

Em uma de suas cartas, São Bernardo usa a expressão “Santa Sé Apostólica” para se referir à pessoa do Papa e afirma que a infalibilidade é privilégio “da Sé Apostólica”.

Após a solene definição do dogma da Infalibilidade papal no Concílio Vaticano I, todos os católicos, eclesiásticos ou leigos, são unânimes em proclamar que o Papa é e sempre será isento de erro em matéria de fé e de moral, de acordo com as palavras de Jesus ao Príncipe dos Apóstolos: “Eu roguei por ti a fim de que não desfaleças; e tu, por tua vez, confirma teus irmãos” (Lc 22,32).


A Cátedra de Pedro é, o mais eloquente símbolo dessa Infalibilidade, do Papado, da pessoa do Papa e da própria Santa Igreja de Cristo. Mais ainda, pois na Exortação Apostólica Pastores Gregis, Sua Santidade João Paulo II afirma que nela se encontra “o princípio perpétuo e visível, bem como o fundamento da unidade da fé e da comunhão”.

Por este motivo, para ela se volta nossa entusiástica admiração de modo especial no dia de sua Festa litúrgica, 22 de fevereiro.

Fonte:  Victor Hugo Toniolo; Revista Arautos do Evangelho, Fev/2005, n. 38, p. 32 e 33

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Nem Só De Pão Vive o Homem.


Conforme a Santa Liturgia deste Domingo

17 de Fevereiro de 2013.

†— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo, + segundo Lucas.
— Glória a vós, Senhor!

Naquele tempo, Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão, e, no deserto, ele era guiado pelo Espírito. Ali foi tentado pelo diabo durante quarenta dias. Não comeu nada naqueles dias e, depois disso, sentiu fome. O diabo disse, então, a Jesus: “Se és Filho de Deus, manda que esta pedra se mude em pão”. Jesus respondeu: “A Escritura diz: ‘Não só de pão vive o homem’”


O diabo levou Jesus para o alto, mostrou-lhe por um instante todos os reinos do mundo e lhe disse: “Eu te darei todo este poder e toda a sua glória, porque tudo isto foi entregue a mim e posso dá-lo a quem quiser. Portanto, se te prostrares diante de mim em adoração, tudo isso será teu”.


Jesus respondeu: “A Escritura diz: ‘Adorarás o Senhor teu Deus, e só a ele servirás’”.
Depois o diabo levou Jesus a Jerusalém, colocou-o sobre a parte mais alta do Templo e lhe disse: “Se és Filho de Deus, atira-te daqui abaixo! Porque a Escritura diz: ‘Deus ordenará aos seus anjos a teu respeito, que te guardem com cuidado!’ E mais ainda: ‘Eles te levarão nas mãos, para que não tropeces em alguma pedra’”.
Jesus, porém, respondeu: “A Escritura diz: ‘Não tentarás o Senhor teu Deus’”.
Terminada toda a tentação, o diabo afastou-se de Jesus, para retornar no tempo oportuno.

- Palavra da Salvação.
- Glória a vós, Senhor.



As tentações de Nosso Senhor Jesus Cristo

(Mt. 4, 1-11)

Então Jesus foi conduzido pelo Espírito (Santo) ao deserto, para ser tentado pelo demônio. E, tendo jejuado quarenta dias e quarenta noites, depois teve fome. E, aproximando-se (dele) o tentador, disse-lhe: Se és filho de Deus, dize que estas pedras se convertam em pães. Ele, porém, respondendo-lhe, disse: Está escrito: não só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus. Então o demônio transportou-o à Cidade Santa, e pô-Lo sobre o pináculo do templo, e disse-lhe: Se és filho de Deus, lança-te daqui abaixo. Porque está escrito: Confiou aos seus anjos o cuidado de ti, e eles te tomarão nas mãos, para que não tropeces com o teu pé na pedra. Jesus disse-lhe: Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus. De novo o demônio o transportou a um monte muito alto, e lhe mostrou todos os reinos do mundo e a sua magnificência. E lhe disse: Tudo isto te darei se prostrado me adorares. Então Jesus disse-lhe: Vai-te, Satanás, porque está escrito: O Senhor teu Deus adorarás, e a ele só servirás. Então o demônio deixou-o; e eis que os anjos se aproximaram, e o serviam.



Comentários compilados por Santo Tomás de Aquino na "Catena Aurea"

São Gregório –– Assim tentado o Senhor pelo diabo [por ocasião da primeira provação], respondeu com preceitos das Sagradas Escrituras. E Jesus Cristo que pôde [quando da defecção dos anjos maus] precipitar seu tentador no abismo, não fez ostentação de seu grande poder, agindo assim para dar-nos o exemplo; em todas as ocasiões, nas quais fomos compelidos a sofrer algo da parte dos homens maus, sigamos mais o ensino de Jesus Cristo, e não sejamos submetidos à sua punição.

Glosa –– O demônio levou Nosso Senhor ao ponto mais alto [do Templo de Jerusalém, por ocasião da segunda provação], quando quis tentá-Lo pela vanglória; porque a vanglória havia iludido muitos na cátedra dos doutores; e, por isso, [o demônio] acreditou que, uma vez colocado Nosso Senhor na cátedra do magistério, poderia ensoberbecer-se com a vanglória. E, em vista disso, prossegue [ o demônio]: “Se és Filho de Deus, lança-te daqui abaixo”.

Glosa –– Eis aqui [por ocasião da terceira tentação] a antiga soberba do diabo; assim como, ao princípio, quis tornar-se igual a Deus, assim agora dispõe-se a usurpar-lhe o culto divino, dizendo: “Se prostrado me adorares”. Logo, aquele que vier a adorar o diabo, primeiro deve prostrar-se. Prossegue: Então, disse-lhe Jesus: “Retira-te, Satanás”.

São João Crisóstomo –– Quando o demônio quis usurpar-lhe a honra de ser Deus, indignado [Jesus] o rechaçou dizendo: “Retira-te, Satanás” para que aprendamos com Ele a sofrer as injúrias de uma maneira digna; mas não consintamos sequer que cheguem a nossos ouvidos as injúrias a Deus. Porquanto, é muito louvável que cada um sofra com resignação as injúrias lançadas contra si; mas tolerar as injúrias dirigidas ao Senhor é até ímpio.



Comentários do Padre Luís Cláudio Fillion

A cena das tentações de Nosso Senhor foi o oposto do que se passou quatro mil anos antes, nas obscuridades do paraíso terrestre. A vitória d’Aquele que tem sido justamente chamado o segundo Adão, cabeça da humanidade resgatada, compensou a vergonhosa derrota do primeiro Adão. Mas prestemos bem atenção para não despojar este episódio de seu verdadeiro caráter: a prova sofrida por Jesus não consistiu somente na tríplice tentação de gula, vaidade e ambição. Foi muito mais grave, e muito mais em proporção com a dignidade de Messias da qual estava revestido. No fundo, não foi Ele tentado como um homem comum, qualquer, mas sim como Messias. As imagens ou ilusões que Satanás lhe pôs à vista, fazendo-as refletir em seus olhos como espelhos, ele as escolheu com perfeita habilidade para O quebrar, se possível fora. Já tivemos ocasião de dizer que a maioria dos judeus de então haviam lamentavelmente desfigurado a imagem do Messias traçada pelos profetas, apresentando-a como muito humana e terrena. O libertador que esperavam iria agir teatralmente, multiplicando os milagres, tendo por finalidade satisfazer sua própria vaidade ou a de seus súditos, aparecendo como um rei, onipotente, e cuja ambição seria apenas o império deste mundo. Este foi o falso ideal que Satanás em meio a assaltos consecutivos propunha a Jesus realizar.


N. da R.: Tal derrota consistiu no pecado original cometido por nossos primeiros pais, no paraíso terrestre. (Nuestro Señor Jesucristo según los Evangelios, Ed. Difusión, Buenos Aires, 1917, pp. 97-98).


quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Campanha da Fraternidade completa 50 anos e com o tema: “Fraternidade e Juventude”


Este ano, a igreja do Brasil estará mais voltada para as temáticas relativas à juventude. No dia 13 de fevereiro, quarta-feira de Cinzas, será lançada mais uma edição da Campanha da Fraternidade (CF), com o tema “Fraternidade e Juventude” e o lema “Eis-me aqui, envia-me!” (Is 6,8). Mas além da atenção voltada à juventude, em sua temática, outro motivo de celebração é que a campanha estará completando o seu cinquentenário de fundação.

A Campanha da Fraternidade, coordenada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), é realizada anualmente pela Igreja católica, sempre no período da Quaresma. A cada ano é escolhido um tema, que define sob qual perspectiva a solidariedade será despertada, em relação a questões que envolvem toda sociedade brasileira.

O secretário executivo da Campanha da Fraternidade, padre Luiz Carlos Dias, afirma que um dos papéis da CF é ser um “elo” entre a igreja, os fiéis e a sociedade. “A campanha da Fraternidade é a igreja a serviço da sociedade, é uma evangelização que ultrapassa as fronteiras da igreja e, dessa forma, a igreja cumpre, de fato a sua missão, que é evangelizar de uma forma bem ampla”, explica o padre.

Sobre a celebração aos 50 anos da CF, padre Luiz Carlos revela que este é um momento de “voltar às raízes do espírito que levou ao nascimento da CF”. Para o lançamento, ficou definida na manhã da quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013, uma visita ao município de Nísia Floresta (RN), localidade onde a Campanha teve início.

A programação seguirá ainda no dia 14, à tarde, quando haverá uma entrevista coletiva com a imprensa. No dia 15, será realizado um seminário sobre a temática da CF 2013 – “Fraternidade e Juventude”. Neste mesmo dia, às 17h, será realizada a solenidade oficial de lançamento, e, às 20h, será celebrada uma missa na Catedral Metropolitana de Natal (RN). 



História da Fundação

 Em 1961, três padres responsáveis pela Cáritas Brasileira idealizaram uma campanha para arrecadar fundos para as atividades assistenciais e promocionais da instituição e torná-la autônoma financeiramente. A atividade foi chamada Campanha da Fraternidade e realizada pela primeira vez na quaresma de 1962, em Natal no Rio Grande do Norte, com adesão de outras três Dioceses e apoio financeiro dos Bispos norte-americanos. No ano seguinte, 16 Dioceses do Nordeste realizaram a campanha. Não teve êxito financeiro, mas foi o embrião de um projeto anual dos Organismos Nacionais da CNBB e das Igrejas Particulares no Brasil, realizado à luz e na perspectiva das Diretrizes Gerais da Ação Pastoral (Evangelizadora) da Igreja em nosso País.

Em seu início, teve destacada atuação o Secretariado Nacional de Ação Social da CNBB, sob cuja dependência estava a Cáritas Brasileira, que fora fundada no Brasil em 1957. Na época, o responsável pelo Secretariado de Ação Social era Dom Eugênio de Araújo Sales, e por isso, Presidente da Cáritas Brasileira. O fato de ser Administrador Apostólico de Natal explica que a Campanha tenha iniciado naquela circunscrição eclesiástica e em todo o Rio Grande do Norte.

Este projeto foi lançado, em nível nacional, no dia 26 de dezembro de 1962, sob o impulso renovador do espírito do Concílio Vaticano II, em andamento na época, e realizado pela primeira vez na quaresma de 1964. O tempo do Concílio foi fundamental para a concepção e estruturação da Campanha da Fraternidade, bem como o Plano Pastoral de Emergência e o Plano de Pastoral de Conjunto, enfim, para o desencadeamento da Pastoral Orgânica e outras iniciativas de renovação eclesial. Ao longo de quatro anos seguidos, por um período extenso em cada um, os Bispos ficaram hospedados na mesma casa, em Roma, participando das sessões do Concílio e de diversos momentos de reunião, estudo, troca de experiências. Nesse contexto, nasceu e cresceu a Campanha da Fraternidade.

Em 20 de dezembro de 1964, os Bispos aprovaram o fundamento inicial da mesma intitulado: Campanha da Fraternidade - Pontos Fundamentais apreciados pelo Episcopado em Roma. Em 1965, tanto Cáritas quanto Campanha da Fraternidade, que estavam vinculadas ao Secretariado Nacional de Ação Social, foram vinculadas diretamente ao Secretariado Geral da CNBB. A CNBB passou a assumir a CF. Nesta transição, foi estabelecida a estruturação básica da CF. Em 1967, começou a ser redigido um subsídio maior que os anteriores para a organização anual da CF. Nesse mesmo ano iniciaram também os encontros nacionais das Coordenações Nacional e Regionais da CF. A partir de 1971, participam deles também a Presidência e a Comissão Episcopal de Pastoral.

Em 1970, a Campanha da Fraternidade ganhou um especial e significativo apoio: a mensagem do Papa em rádio e televisão em sua abertura, na quarta-feira de cinzas. A mensagem papal continua enriquecendo a abertura da CF.

De 1962 até hoje, a Campanha da Fraternidade é uma atividade ampla de evangelização desenvolvida num determinado tempo (quaresma), para ajudar os cristãos e as pessoas de boa vontade a viverem a fraternidade em compromissos concretos no processo de transformação da sociedade a partir de um problema específico que exige a participação de todos na sua solução. É grande instrumento para desenvolver o espírito quaresmal de conversão, renovação interior e ação comunitária como a verdadeira penitência que Deus quer de nós em preparação da Páscoa. É momento de conversão, de prática de gestos concretos de fraternidade, de exercício de pastoral de conjunto em prol da transformação de situações injustas e não cristãs. É precioso meio para a evangelização do tempo quaresmal, retomando a pregação dos profetas confirmada por Cristo, segundo a qual a verdadeira penitência que agrada a Deus é repartir o pão com quem tem fome, dar de vestir ao maltrapilho, libertar os oprimidos, promover a todos.

A Campanha da Fraternidade tornou-se especial manifestação de evangelização libertadora, provocando, ao mesmo tempo, a renovação da vida da Igreja e a transformação da sociedade, a partir de problemas específicos, tratados à luz do Projeto de Deus. [2]

Fonte: Wikipédia [2]/  CNBB [1]

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

A Renúncia do Querido Bento XVI.


Neste dia de Nossa Senhora de Lourdes, com muita dor no coração, divulgamos a notícia inesperada e surpreendente. Abaixo, as palavras com que Bento XVI anunciou a sua decisão:


Caríssimos Irmãos,

Convoquei-vos para este Consistório não só por causa das três canonizações, mas também para vos comunicar uma decisão de grande importância para a vida da Igreja. Depois de ter examinado repetidamente a minha consciência diante de Deus, cheguei à certeza de que as minhas forças, devido à idade avançada, já não são idôneas para exercer adequadamente o ministério petrino. Estou bem consciente de que este ministério, pela sua essência espiritual, deve ser cumprido não só com as obras e com as palavras, mas também e igualmente sofrendo e rezando. Todavia, no mundo de hoje, sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande relevância para a vida da fé, para governar a barca de São Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário também o vigor quer do corpo quer do espírito; vigor este, que, nos últimos meses, foi diminuindo de tal modo em mim que tenho de reconhecer a minha incapacidade para administrar bem o ministério que me foi confiado. Por isso, bem consciente da gravidade deste acto, com plena liberdade, declaro que renuncio ao ministério de Bispo de Roma, Sucessor de São Pedro, que me foi confiado pela mão dos Cardeais em 19 de Abril de 2005, pelo que, a partir de 28 de Fevereiro de 2013, às 20,00 horas, a sede de Roma, a sede de São Pedro, ficará vacante e deverá ser convocado, por aqueles a quem tal compete, o Conclave para a eleição do novo Sumo Pontífice.

Caríssimos Irmãos, verdadeiramente de coração vos agradeço por todo o amor e a fadiga com que carregastes comigo o peso do meu ministério, e peço perdão por todos os meus defeitos. Agora confiemos a Santa Igreja à solicitude do seu Pastor Supremo, Nosso Senhor Jesus Cristo, e peçamos a Maria, sua Mãe Santíssima, que assista, com a sua bondade materna, os Padres Cardeais na eleição do novo Sumo Pontífice. Pelo que me diz respeito, nomeadamente no futuro, quero servir de todo o coração, com uma vida consagrada à oração, a Santa Igreja de Deus.

Vaticano, 10 de Fevereiro de 2013


* Desde já, conclamamos a todos os nossos irmãos e irmãs que rezem a Deus pela vinda de um novo Papa tão digno quanto foi Bento XVI, e que seja igualmente voltado à necessária restauração da Igreja de Jesus Cristo. Nossa Senhora de Lourdes interceda por todos nós junto a seu Filho Salvador. Amém.


Carnaval e Quaresma


O Carnaval não é uma festa exclusivamente brasileira, e nem sua origem é dos tempos contemporâneos. O Carnaval originário tem início nos cultos agrários da Grécia, de 605 a 527 a.C. Com o surgimento da agricultura, os homens passaram a celebrar a fertilidade e produtividade do solo.

O Carnaval Pagão se inicia na Grécia com Pisistráto, que oficializou o culto a Dioniso, isto pelo século VII a.C. e, termina, quando a Igreja Católica adota a festa em 590 d.C.
O primeiro foco de concentração carnavalesca se remota no Egito. A festa era nada mais que dança e cantoria em volta de fogueiras. Os foliões usavam máscaras e disfarces simbolizando a inexistência de classes sociais.

  Depois, a tradição se espalhou por Grécia e Roma, entre o século VII a.C. e VI d.C. A separação da sociedade em classes fazia com que houvesse a necessidade de uma fuga social. É nessa época que orgias e bebidas se fazem presentes na festa.

Em seguida, o Carnaval chega a Veneza. Diz-se que foi lá que a festa tomou as características como bem o conhecemos hoje: máscaras, fantasias, carros alegóricos, e desfiles.

O Carnaval na era da Cristandade passa a existir quando a Igreja Católica oficializa a festa, em 590 d.C. Antes, a instituição condenava a festa por seu caráter “pecaminoso”. No entanto, as autoridades eclesiásticas da época se viram num beco sem saída. Não era mais possível proibir o Carnaval. Foi então que houve a imposição de cerimônias oficiais sérias para conter a libertinagem. Assim, esse tipo de cerimônia se defrontava com a principal característica do Carnaval, que são os risos e as brincadeiras.

Somente em 1545, durante o Concílio de Trento, que o Carnaval é reconhecido como uma manifestação popular de rua. Em 1582, o Papa Gregório XIII transforma o Calendário Juliano em Gregoriano e estabelece as datas do Carnaval. O motivo da mobilidade da data é não coincidir com a Páscoa Católica, que não pode ter data fixa para não coincidir com a Páscoa dos judeus.

A palavra carnaval também apresenta diversas versões e não há unanimidade entre os estudiosos. Há quem defenda que o termo carnaval deriva de carne vale (adeus carne!) ou de carne levamen (supressão da carne). Esta interpretação da origem etimológica da palavra remete-nos ao início do período da Quaresma que era, em sua origem, não apenas um período de reflexão espiritual como também uma época de privação de certos alimentos, dentre eles, o a carne.



Outra interpretação para a etimologia da palavra é a de que esta derive de currus navalis, expressão anterior ao Cristianismo e que significa carro naval. Esta interpretação baseia-se nas diversões próprias do começo da primavera, com cortejos marítimos ou carros alegóricos em forma de barco, tanto na Grécia como em Roma.


Nos dias atuais, o carnaval é festejado no sábado, domingo, segunda e terça-feira anteriores aos quarentas dias que vão da quarta-feira de cinzas ao domingo de Páscoa. É a partir daqui que falaremos da QUARESMA.


A palavra Quaresma vem do latim quadragésima e é utilizada para designar o período de quarenta dias que antecedem a festa ápice do cristianismo: a ressurreição de Jesus Cristo, comemorada no Domingo de Páscoa. Esta prática data desde o século IV.


Na quaresma, que começa na quarta-feira de cinzas e termina na quinta-feira da Semana Santa, os católicos realizam a preparação para a Páscoa. O período é reservado para a reflexão, a conversão espiritual. Ou seja, o católico deve se aproximar de Deus visando o crescimento espiritual. Os fiéis são convidados a fazerem uma comparação entre suas vidas e a mensagem cristã expressa nos Evangelhos. Esta comparação significa um recomeço, um renascimento para as questões espirituais e de crescimento pessoal. O cristão deve intensificar a prática dos princípios essenciais de sua fé com o objetivo de ser uma pessoa melhor e proporcionar o bem para os demais.

Essencialmente, o período é um retiro espiritual voltado à reflexão, onde os cristãos se recolhem em oração e penitência para preparar o espírito para a acolhida do Cristo Vivo, Ressuscitado no Domingo de Páscoa. Assim, retomando questões espirituais, simbolicamente o cristão está renascendo, como Cristo. Todas as religiões têm períodos voltados à reflexão, eles fazem parte da disciplina religiosa. Cada doutrina religiosa tem seu calendário específico para seguir. A cor litúrgica deste tempo é o roxo, que significa luto e penitência.


Cerca de duzentos anos após o nascimento de Cristo, os cristãos começaram a preparar a festa da Páscoa com três dias de oração, meditação e jejum. Por volta do ano 350 d. C., a Igreja aumentou o tempo de preparação para quarenta dias. Assim surgiu a Quaresma.

EM TEMPO: Na Bíblia, o número quatro simboliza o universo material. Os zeros que o seguem significam o tempo de nossa vida na terra, suas provações e dificuldades. Portanto, a duração da Quaresma está baseada no símbolo deste número na Bíblia. Nela, é relatada as passagens dos quarenta dias do dilúvio, dos quarenta anos de peregrinação do povo judeu pelo deserto, dos quarenta dias de Moisés e de Elias na montanha, dos quarenta dias que Jesus passou no deserto antes de começar sua vida pública, dos 400 anos que durou a estada dos judeus no Egito, entre outras. Esses períodos vêm sempre antes de fatos importantes e se relacionam com a necessidade de ir criando um clima adequado e dirigindo o coração para algo que vai acontecer, na esperança.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Mensagem de Sua Santidade Bento XVI para a Quaresma 2013


Crer na caridade suscita caridade  
«Nós conhecemos o amor que Deus nos tem, pois cremos nele» (1 Jo 4, 16)

Queridos irmãos e irmãs!

A celebração da Quaresma, no contexto do Ano da fé, proporciona-nos uma preciosa ocasião para meditar sobre a relação entre fé e caridade: entre o crer em Deus, no Deus de Jesus Cristo, e o amor, que é fruto da acção do Espírito Santo e nos guia por um caminho de dedicação a Deus e aos outros.

1. A fé como resposta ao amor de Deus

Na minha primeira Encíclica, deixei já alguns elementos que permitem individuar a estreita ligação entre estas duas virtudes teologais: a fé e a caridade. Partindo duma afirmação fundamental do apóstolo João: «Nós conhecemos o amor que Deus nos tem, pois cremos nele» (1 Jo 4, 16), recordava que, «no início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo. (…) Dado que Deus foi o primeiro a amar-nos (cf. 1 Jo 4, 10), agora o amor já não é apenas um “mandamento”, mas é a resposta ao dom do amor com que Deus vem ao nosso encontro» (Deus caritas est, 1). A fé constitui aquela adesão pessoal – que engloba todas as nossas faculdades – à revelação do amor gratuito e «apaixonado» que Deus tem por nós e que se manifesta plenamente em Jesus Cristo. O encontro com Deus Amor envolve não só o coração, mas também o intelecto: «O reconhecimento do Deus vivo é um caminho para o amor, e o sim da nossa vontade à d’Ele une intelecto, vontade e sentimento no acto globalizante do amor. Mas isto é um processo que permanece continuamente a caminho: o amor nunca está “concluído” e completado» (ibid., 17). Daqui deriva, para todos os cristãos e em particular para os «agentes da caridade», a necessidade da fé, daquele «encontro com Deus em Cristo que suscite neles o amor e abra o seu íntimo ao outro, de tal modo que, para eles, o amor do próximo já não seja um mandamento por assim dizer imposto de fora, mas uma consequência resultante da sua fé que se torna operativa pelo amor» (ibid., 31). O cristão é uma pessoa conquistada pelo amor de Cristo e, movido por este amor – «caritas Christi urget nos» (2 Cor 5, 14) – , está aberto de modo profundo e concreto ao amor do próximo (cf. ibid., 33). Esta atitude nasce, antes de tudo, da consciência de ser amados, perdoados e mesmo servidos pelo Senhor, que Se inclina para lavar os pés dos Apóstolos e Se oferece a Si mesmo na cruz para atrair a humanidade ao amor de Deus.

«A fé mostra-nos o Deus que entregou o seu Filho por nós e assim gera em nós a certeza vitoriosa de que isto é mesmo verdade: Deus é amor! (…) A fé, que toma consciência do amor de Deus revelado no coração trespassado de Jesus na cruz, suscita por sua vez o amor. Aquele amor divino é a luz – fundamentalmente, a única – que ilumina incessantemente um mundo às escuras e nos dá a coragem de viver e agir» (ibid., 39). Tudo isto nos faz compreender como o procedimento principal que distingue os cristãos é precisamente «o amor fundado sobre a fé e por ela plasmado» (ibid., 7).

2. A caridade como vida na fé

Toda a vida cristã consiste em responder ao amor de Deus. A primeira resposta é precisamente a fé como acolhimento, cheio de admiração e gratidão, de uma iniciativa divina inaudita que nos precede e solicita; e o «sim» da fé assinala o início de uma luminosa história de amizade com o Senhor, que enche e dá sentido pleno a toda a nossa vida. Mas Deus não se contenta com o nosso acolhimento do seu amor gratuito; não Se limita a amar-nos, mas quer atrair-nos a Si, transformar-nos de modo tão profundo que nos leve a dizer, como São Paulo: Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim (cf. Gl 2, 20).

Quando damos espaço ao amor de Deus, tornamo-nos semelhantes a Ele, participantes da sua própria caridade. Abrirmo-nos ao seu amor significa deixar que Ele viva em nós e nos leve a amar com Ele, n’Ele e como Ele; só então a nossa fé se torna verdadeiramente uma «fé que actua pelo amor» (Gl 5, 6) e Ele vem habitar em nós (cf. 1 Jo 4, 12).

A fé é conhecer a verdade e aderir a ela (cf. 1 Tm 2, 4); a caridade é «caminhar» na verdade (cf.Ef 4, 15). Pela fé, entra-se na amizade com o Senhor; pela caridade, vive-se e cultiva-se esta amizade (cf. Jo 15, 14-15). A fé faz-nos acolher o mandamento do nosso Mestre e Senhor; a caridade dá-nos a felicidade de pô-lo em prática (cf. Jo 13, 13-17). Na fé, somos gerados como filhos de Deus (cf. Jo 1, 12-13); a caridade faz-nos perseverar na filiação divina de modo concreto, produzindo o fruto do Espírito Santo (cf. Gl 5, 22). A fé faz-nos reconhecer os dons que o Deus bom e generoso nos confia; a caridade fá-los frutificar (cf. Mt 25, 14-30).



3. O entrelaçamento indissolúvel de fé e caridade

À luz de quanto foi dito, torna-se claro que nunca podemos separar e menos ainda contrapor fé e caridade. Estas duas virtudes teologais estão intimamente unidas, e seria errado ver entre elas um contraste ou uma «dialéctica». Na realidade, se, por um lado, é redutiva a posição de quem acentua de tal maneira o carácter prioritário e decisivo da fé que acaba por subestimar ou quase desprezar as obras concretas da caridade reduzindo-a a um genérico humanitarismo, por outro é igualmente redutivo defender uma exagerada supremacia da caridade e sua operatividade, pensando que as obras substituem a fé. Para uma vida espiritual sã, é necessário evitar tanto o fideísmo como o activismo moralista.

A existência cristã consiste num contínuo subir ao monte do encontro com Deus e depois voltar a descer, trazendo o amor e a força que daí derivam, para servir os nossos irmãos e irmãs com o próprio amor de Deus. Na Sagrada Escritura, vemos como o zelo dos Apóstolos pelo anúncio do Evangelho, que suscita a fé, está estreitamente ligado com a amorosa solicitude pelo serviço dos pobres (cf. At 6, 1-4). Na Igreja, devem coexistir e integrar-se contemplação e acção, de certa forma simbolizadas nas figuras evangélicas das irmãs Maria e Marta (cf. Lc 10, 38-42). A prioridade cabe sempre à relação com Deus, e a verdadeira partilha evangélica deve radicar-se na fé (cf. Catequese na Audiência geral de 25 de Abril de 2012). De facto, por vezes tende-se a circunscrever a palavra «caridade» à solidariedade ou à mera ajuda humanitária; é importante recordar, ao invés, que a maior obra de caridade é precisamente a evangelização, ou seja, o «serviço da Palavra». Não há acção mais benéfica e, por conseguinte, caritativa com o próximo do que repartir-lhe o pão da Palavra de Deus, fazê-lo participante da Boa Nova do Evangelho, introduzi-lo no relacionamento com Deus: a evangelização é a promoção mais alta e integral da pessoa humana. Como escreveu o Servo de Deus Papa Paulo VI, na Encíclica Populorum progressio, o anúncio de Cristo é o primeiro e principal factor de desenvolvimento (cf. n. 16). A verdade primordial do amor de Deus por nós, vivida e anunciada, é que abre a nossa existência ao acolhimento deste amor e torna possível o desenvolvimento integral da humanidade e de cada homem (cf. Enc. Caritas in veritate, 8).

Essencialmente, tudo parte do Amor e tende para o Amor. O amor gratuito de Deus é-nos dado a conhecer por meio do anúncio do Evangelho. Se o acolhermos com fé, recebemos aquele primeiro e indispensável contacto com o divino que é capaz de nos fazer «enamorar do Amor», para depois habitar e crescer neste Amor e comunicá-lo com alegria aos outros.

A propósito da relação entre fé e obras de caridade, há um texto na Carta de São Paulo aos Efésios que a resume talvez do melhor modo: «É pela graça que estais salvos, por meio da fé. E isto não vem de vós; é dom de Deus; não vem das obras, para que ninguém se glorie. Porque nós fomos feitos por Ele, criados em Cristo Jesus, para vivermos na prática das boas acções que Deus de antemão preparou para nelas caminharmos» (2, 8-10). Daqui se deduz que toda a iniciativa salvífica vem de Deus, da sua graça, do seu perdão acolhido na fé; mas tal iniciativa, longe de limitar a nossa liberdade e responsabilidade, torna-as mais autênticas e orienta-as para as obras da caridade. Estas não são fruto principalmente do esforço humano, de que vangloriar-se, mas nascem da própria fé, brotam da graça que Deus oferece em abundância. Uma fé sem obras é como uma árvore sem frutos: estas duas virtudes implicam-se mutuamente. A Quaresma, com as indicações que dá tradicionalmente para a vida cristã, convida-nos precisamente a alimentar a fé com uma escuta mais atenta e prolongada da Palavra de Deus e a participação nos Sacramentos e, ao mesmo tempo, a crescer na caridade, no amor a Deus e ao próximo, nomeadamente através do jejum, da penitência e da esmola.

4. Prioridade da fé, primazia da caridade

Como todo o dom de Deus, a fé e a caridade remetem para a acção do mesmo e único Espírito Santo (cf. 1 Cor 13), aquele Espírito que em nós clama:«Abbá! – Pai!» (Gl 4, 6), e que nos faz dizer: «Jesus é Senhor!» (1 Cor 12, 3) e «Maranatha! – Vem, Senhor!» (1 Cor 16, 22; Ap 22, 20).

Enquanto dom e resposta, a fé faz-nos conhecer a verdade de Cristo como Amor encarnado e crucificado, adesão plena e perfeita à vontade do Pai e infinita misericórdia divina para com o próximo; a fé radica no coração e na mente a firme convicção de que precisamente este Amor é a única realidade vitoriosa sobre o mal e a morte. A fé convida-nos a olhar o futuro com a virtude da esperança, na expectativa confiante de que a vitória do amor de Cristo chegue à sua plenitude. Por sua vez, a caridade faz-nos entrar no amor de Deus manifestado em Cristo, faz-nos aderir de modo pessoal e existencial à doação total e sem reservas de Jesus ao Pai e aos irmãos. Infundindo em nós a caridade, o Espírito Santo torna-nos participantes da dedicação própria de Jesus: filial em relação a Deus e fraterna em relação a cada ser humano (cf. Rm 5, 5).

A relação entre estas duas virtudes é análoga à que existe entre dois sacramentos fundamentais da Igreja: o Baptismo e a Eucaristia. O Baptismo (sacramentum fidei) precede a Eucaristia (sacramentum caritatis), mas está orientado para ela, que constitui a plenitude do caminho cristão. De maneira análoga, a fé precede a caridade, mas só se revela genuína se for coroada por ela. Tudo inicia do acolhimento humilde da fé («saber-se amado por Deus»), mas deve chegar à verdade da caridade («saber amar a Deus e ao próximo»), que permanece para sempre, como coroamento de todas as virtudes (cf. 1 Cor 13, 13).

Caríssimos irmãos e irmãs, neste tempo de Quaresma, em que nos preparamos para celebrar o evento da Cruz e da Ressurreição, no qual o Amor de Deus redimiu o mundo e iluminou a história, desejo a todos vós que vivais este tempo precioso reavivando a fé em Jesus Cristo, para entrar no seu próprio circuito de amor ao Pai e a cada irmão e irmã que encontramos na nossa vida. Por isto elevo a minha oração a Deus, enquanto invoco sobre cada um e sobre cada comunidade a Bênção do Senhor!

Vaticano, 15 de Outubro de 2012

BENEDICTUS PP. XVI

© Copyright 2012 – Libreria Editrice Vaticana

domingo, 3 de fevereiro de 2013

São Brás, Intercessor dos Males da Garganta.


São Brás (em francês: Blaise) foi um mártir, bispo e santo católico que viveu entre o séculos III e IV na Armênia. É padroeiro das doenças da garganta e no dia de sua celebração em 3 de fevereiro, nas cidades da Espanha e algumas da América Latina, as mães levam os filhos para benzerem a garganta.

* No final do artigo está a Bênção e a Oração à São Brás.


História

A vida e os feitos de São Brás atingem aquele ápice de alguns poucos, que atraem a profunda fé e a admiração popular. Ele é venerado no Oriente e Ocidente com a mesma intensidade ao logo de séculos, e até hoje, mães aflitas recorrem à sua intercessão quando um filho engasga ou apresenta problemas de garganta. A bênção de São Brás, procurada principalmente por quem tem problemas nesta parte do corpo, onde é ministrada nesta data em muitas igrejas do mundo cristão.

O prodígio atribuído à ele quando era levado preso, para depois ser torturado, é dos mais conhecidos por pessoas de todo o planeta. Consta que uma mãe aflita jogou-se aos seus pés pedindo que socorresse o filho, que agonizava com uma espinha de peixe atravessada na garganta. O santo rezou, fez o sinal da cruz sobre o menino e este se levantou milagrosa, e imediatamente como se nada lhe tivesse acontecido.


Brás nasceu na Armênia, era médico, sacerdote e muito benevolente com os pobres e cristãos perseguidos e por essas virtudes foi nomeado bispo de Sebaste, isto no século três. Também sabemos que, apesar de aqueles anos marcarem os finais das grandes perseguições aos cristãos, muitos ainda foram torturados e mortos na mão dos poderosos pagãos. Brás abandonou o bispado e se protegeu na caverna de uma montanha isolada e mesmo assim, depois de descoberto e capturado, morreu em testemunho de sua fé sob as ordens do imperador Licínio, em 316.

Muitas tradições envolvem seus prodígios, graças e seu suplício. Segundo elas, a fama de sua santidade rodou o mundo ainda enquanto vivia e sua morte foi impressionante. O bispo Brás teria sido terrivelmente flagelado e torturado, sendo por fim pendurado em um andaime para morrer. Como isso não acontecia, primeiro lhe descarnaram os ossos com pentes de ferro. Depois tentaram afogá-lo duas vezes e, frustrados, o degolaram para ter certeza de sua morte.

O corpo do santo mártir ficou guardado na sua catedral de Sebaste da Armênia, mas no ano 732 uma parte de suas relíquias foram embarcadas por alguns cristãos armênios que seguiam para Roma.


Nessa ocasião uma repentina tempestade interrompe a viagem na altura da cidade de Maratea, em Potenza; e alí os fieis acolhem as relíquias do santo numa pequena igreja, que depois se tornaria sua atual basílica e a localidade receberia o nome de Monte São Brás.

Mais recentemente, em 1983 no local da igrejinha inicial foi erguida uma estátua de São Brás, com a altura de vinte e um metros. Como dissemos, do Oriente ao Ocidente, todo mundo cristão se curva à devoção de São Brás nomeando ainda hoje cidades e locais, para render-lhes homenagem e veneração. (Fonte: Paulinas )


Bênção de São Brás

Em muitas dioceses existe o uso de no dia de hoje se dar aos fiéis a bênção de São Brás. O sacerdote de sobrepeliz  e estola vermelha, traz na mão esquerda, em forma de cruz, duas velas bentas e, benzendo as pessoas que se apresentam, diz: “por intercessão de São Brás, Bispo e Mártir, defenda-te Deus contra os males da garganta e contra qualquer outro mal, em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”. Embora não seja obrigação nenhuma procurar esta benção, os fiéis não a devem dispensar, desde que tenham ocasião de recebê-la. A benção da Igreja é salutar e eficaz, por ser ela representante de Deus, da qual devemos procurar tornar-nos dignos, pela reta intenção e pelo fiel cumprimento dos nossos deveres.

Oração à São Brás


Protetor contra as doenças da garganta
Ó glorioso São Brás,
que restituístes com uma breve oração
a perfeita saúde a um menino que,
por uma espinha de peixe atravessada na garganta,
estava prestes a expirar,
obtende para nós todos
a graça de experimentarmos
a eficácia do vosso patrocínio
em todos os males da garganta.
Conservai a nossa garganta sã e perfeita
para que possamos falar correctamente
e assim proclamar
e cantar os louvores de Deus.
Amém


A bênção de São Brás:

Por intercessão de São Brás,
Bispo e Mártir,
livre-te Deus do mal da garganta
e de qualquer outra doença.
Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Amém.
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