2013-07-25
Rádio Vaticana
Texto
integral:
Boa Noite!
Quis Deus que meus passos, depois do Santuário de Nossa Senhora Aparecida, se
dirigissem para um particular santuário do sofrimento humano, que é o Hospital
São Francisco de Assis. É bem conhecida a conversão do Santo Patrono de vocês:
o jovem Francisco abandona riquezas e comodidades do mundo para fazer-se pobre
no meio dos pobres, entende que não são as coisas, o ter, os ídolos do mundo a
verdadeira riqueza e que estes não dão a verdadeira alegria, mas sim seguir a
Cristo e servir aos demais; mas talvez seja menos conhecido o momento em que
tudo isto se tornou concreto na sua vida: foi quando abraçou um leproso. Aquele
irmão sofredor foi «mediador de luz (…) para São Francisco de Assis» (Carta
enc. Lumen fidei, 57), porque, em cada irmão e irmã em dificuldade, nós
abraçamos a carne sofredora de Cristo. Hoje, neste lugar de luta contra a
dependência química, quero abraçar a cada um e cada uma de vocês - vocês que
são a carne de Cristo – e pedir a Deus que encha de sentido e de esperança
segura o caminho de vocês e também o meu.
Abraçar.
Abraçar. Precisamos todos de aprender a abraçar quem passa necessidade, como
São Francisco. Há tantas situações no Brasil e no mundo que reclamam atenção,
cuidado, amor, como a luta contra a dependência química. Frequentemente, porém,
nas nossas sociedades, o que prevalece é o egoísmo. São tantos os “mercadores
de morte” que seguem a lógica do poder e do dinheiro a todo o custo! A chaga do
tráfico de drogas, que favorece a violência e que semeia a dor e a morte, exige
da inteira sociedade um ato de coragem. Não é deixando livre o uso das drogas,
como se discute em várias partes da América Latina, que se conseguirá reduzir a
difusão e a influência da dependência química. É necessário enfrentar os
problemas que estão na raiz do uso das drogas, promovendo uma maior justiça,
educando os jovens para os valores que constroem a vida comum, acompanhando
quem está em dificuldade e dando esperança no futuro. Precisamos todos de olhar
o outro com os olhos de amor de Cristo, aprender a abraçar quem passa
necessidade, para expressar solidariedade, afeto e amor.Mas abraçar não é
suficiente. Estendamos a mão a quem vive em dificuldade, a quem caiu na
escuridão da dependência, talvez sem saber como, e digamos-lhe: Você pode se
levantar, pode subir; é exigente, mas é possível se você o quiser. Queridos
amigos, queria dizer a cada um de vocês, mas sobretudo a tantas outras pessoas
que ainda não tiveram a coragem de empreender o mesmo caminho de vocês: Você é
o protagonista da subida; esta é a condição imprescindível! Você encontrará a
mão estendida de quem quer lhe ajudar, mas ninguém pode fazer a subida no seu
lugar. Mas vocês nunca estão sozinhos! A Igreja e muitas pessoas estão
solidárias com vocês. Olhem para frente com confiança; a travessia é longa e
cansativa, mas olhem para frente, existe «um futuro certo, que se coloca numa
perspectiva diferente relativamente às propostas ilusórias dos ídolos do mundo,
mas que dá novo impulso e nova força à vida de todos os dias» (Carta Encícl.
Lumen fidei, 57). A vocês todos quero repetir: Não deixem que lhes roubem a
esperança! Não deixem que lhes roubem a esperança! Mas digo também: Mas digo
também. Não roubemos a esperança, pelo contrário, tornemo-nos todos portadores
de esperança!
No
Evangelho, lemos a parábola do Bom Samaritano, que fala de um homem atacado por
assaltantes e deixado quase morto ao lado da estrada. As pessoas passam, olham,
mas não param; indiferentes seguem o seu caminho: não é problema delas! Quantas
vezes nós dizemos, não é meu problema, quantas vezes olhamos para outro lado e
fingimos que não vemos. Somente um samaritano, um desconhecido, olha, para,
levanta-o, estende-lhe a mão e cuida dele (cf. Lc 10, 29-35). Queridos amigos,
penso que aqui, neste Hospital, se concretiza a parábola do Bom Samaritano.
Aqui não há indiferença, mas solicitude. Não há desinteresse, mas amor. A
Associação São Francisco e a Rede de Tratamento da Dependência Química ensinam
a se debruçar sobre quem passa por dificuldades porque veem nestas pessoas a
face de Cristo, porque nelas está a carne de Cristo que sofre. Obrigado a todo
pessoal do serviço médico e auxiliar aqui empenhado! O serviço de vocês é
precioso! Realizem-no sempre com amor; é um serviço feito a Cristo presente nos
irmãos: «Todas as vezes que fizestes isso a um destes mais pequenos, que são
meus irmãos, foi a mim que o fizestes» (Mt 25, 40), diz-nos Jesus.E quero
repetir a todos vocês que lutam contra a dependência química, a vocês
familiares que têm uma tarefa que nem sempre é fácil: a Igreja não está longe
dos esforços que vocês fazem, Ela lhes acompanha com carinho. O Senhor está ao
lado de vocês e lhes conduz pela mão. Olhem para Ele nos momentos mais duros e
Ele lhes dará consolação e esperança. E confiem também no amor materno de
Maria, sua Mãe. Esta manhã, no Santuário da Aparecida, confiei cada um de vocês
ao seu coração. Onde tivermos uma cruz para carregar, ao nosso lado sempre está
Ela, nossa Mãe. Deixo-lhes em suas mãos, enquanto, afetuosamente, a todos
abençoo. Obrigado.
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