2013-07-24 Rádio Vaticana
O santuário
de Nossa Senhora da Aparecida, padroeira do Brasil, está no centro das atenções
nesta quarta-feira, pela “peregrinação pessoal” que aí faz o Papa Francisco,
que deseja confiar à Virgem o seu pontificado e os jovens da JMJ e de todo o
mundo. O programa inicial previa que o Papa se deslocasse de helicóptero, mas
devido à chuva (foto, Papa à chegada ai santuário), foi decidido o uso do avião
até ao aeroporto mais próximo do santuário, sendo o percurso final percorrido
de helicóptero.
A celebração
teve início às 10h30 locais (15.30 em Roma), após um ato de veneração da imagem
de Nossa Senhora, do santuário. Esta peregrinação do Papa ao santuário da
padroeira do Brasil, que todos os anos acolhe milhões de peregrinos, sublinha
uma ligação particular do Papa Francisco a este santuário, onde decorreu a V
Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e Caribenho, em 2007, na qual
participou, como arcebispo de Buenos Aires, o então cardeal Jorge Mario
Bergoglio. Na sua homilia, o Papa propôs aos fiéis "três simples posturas:
conservar a esperança, deixar-se surpreender por Deus, viver na alegria".
Eis o texto integral da homilia:
Venerados
irmãos no episcopado e no sacerdócio, Queridos irmãos e irmãs!
Quanta
alegria me dá vir à casa da Mãe de cada brasileiro, o Santuário de Nossa
Senhora Aparecida. No dia seguinte à minha eleição como Bispo de Roma fui
visitar a Basílica de Santa Maria Maior, para confiar a Nossa Senhora o meu
ministério de Sucessor de Pedro. Hoje, eu quis vir aqui para suplicar à Maria,
nossa Mãe, o bom êxito da Jornada Mundial da Juventude e colocar aos seus pés a
vida do povo latino-americano. Queria dizer-lhes, primeiramente, uma coisa.
Neste Santuário, seis anos atrás, quando aqui se realizou a V Conferência Geral
do Episcopado da América Latina e do Caribe, pude dar-me conta pessoalmente de
um fato belíssimo: ver como os Bispos – que trabalharam sobre o tema do
encontro com Cristo, discipulado e missão – eram animados, acompanhados e, em
certo sentido, inspirados pelos milhares de peregrinos que vinham diariamente
confiar a sua vida a Nossa Senhora: aquela Conferência foi um grande momento de
vida de Igreja. E, de fato, pode-se dizer que o Documento de Aparecida nasceu
justamente deste encontro entre os trabalhos dos Pastores e a fé simples dos
romeiros, sob a proteção maternal de Maria. A Igreja, quando busca Cristo, bate
sempre à casa da Mãe e pede: “Mostrai-nos Jesus”. É de Maria que se aprende o
verdadeiro discipulado. E, por isso, a Igreja sai em missão sempre na esteira
de Maria.
Assim, de
cara à Jornada Mundial da Juventude que me trouxe até o Brasil, também eu venho
hoje bater à porta da casa de Maria, que amou e educou Jesus, para que ajude a
todos nós, os Pastores do Povo de Deus, aos pais e aos educadores, a transmitir
aos nossos jovens os valores que farão deles construtores de um País e de um
mundo mais justo, solidário e fraterno. Para tal, gostaria de chamar à atenção
para três simples posturas: Conservar a esperança; deixar-se surpreender por
Deus; viver na alegria.1. Conservar a esperança. A segunda leitura da Missa
apresenta uma cena dramática: uma mulher – figura de Maria e da Igreja – sendo
perseguida por um Dragão – o diabo - que quer lhe devorar o filho. A cena,
porém, não é de morte, mas de vida, porque Deus intervém e coloca o filho a
salvo (cfr. Ap 12,13a.15-16a). Quantas dificuldades na vida de cada um, no
nosso povo, nas nossas comunidades, mas, por maiores que possam parecer, Deus
nunca deixa que sejamos submergidos. Frente ao desânimo que poderia aparecer na
vida, em quem trabalha na evangelização ou em quem se esforça por viver a fé
como pai e mãe de família, quero dizer com força: Tenham sempre no coração esta
certeza! Deus caminha a seu lado, nunca lhes deixa desamparados! Nunca percamos
a esperança! Nunca deixemos que ela se apague nos nossos corações! O “dragão”,
o mal, faz-se presente na nossa história, mas ele não é o mais forte. Deus é o
mais forte, e Deus é a nossa esperança! É verdade que hoje, mais ou menos todas
as pessoas, e também os nossos jovens, experimentam o fascínio de tantos ídolos
que se colocam no lugar de Deus e parecem dar esperança: o dinheiro, o poder, o
sucesso, o prazer. Frequentemente, uma sensação de solidão e de vazio entra no
coração de muitos e conduz à busca de compensações, destes ídolos passageiros.
Queridos irmãos e irmãs, sejamos luzeiros de esperança! Tenhamos uma visão
positiva sobre a realidade. Encorajemos a generosidade que caracteriza os
jovens, acompanhando-lhes no processo de se tornarem protagonistas da construção
de um mundo melhor: eles são um motor potente para a Igreja e para a sociedade.
Eles não precisam só de coisas, precisam sobretudo que lhes sejam propostos
aqueles valores imateriais que são o coração espiritual de um povo, a memória
de um povo. Neste Santuário, que faz parte da memória do Brasil, podemos quase
que apalpá-los: espiritualidade, generosidade, solidariedade, perseverança,
fraternidade, alegria; trata-se de valores que encontram a sua raiz mais
profunda na fé cristã.
2. A segunda
postura: Deixar-se surpreender por Deus. Quem é homem e mulher de esperança – a
grande esperança que a fé nos dá – sabe que, mesmo em meio às dificuldades,
Deus atua e nos surpreende. A história deste Santuário serve de exemplo: três
pescadores, depois de um dia sem conseguir apanhar peixes, nas águas do Rio
Parnaíba, encontram algo inesperado: uma imagem de Nossa Senhora da Conceição.
Quem poderia imaginar que o lugar de uma pesca infrutífera, tornar-se-ia o
lugar onde todos os brasileiros podem se sentir filhos de uma mesma Mãe? Deus
sempre surpreende, como o vinho novo, no Evangelho que ouvimos. Deus sempre nos
reserva o melhor. Mas pede que nos deixemos surpreender pelo seu amor, que
acolhamos as suas surpresas. Confiemos em Deus! Longe d’Ele, o vinho da alegria,
o vinho da esperança, se esgota. Se nos aproximamos d’Ele, se permanecemos com
Ele, aquilo que parece água fria, aquilo que é dificuldade, aquilo que é
pecado, se transforma em vinho novo de amizade com Ele.3. A terceira postura:
Viver na alegria. Queridos amigos, se caminhamos na esperança, deixando-nos
surpreender pelo vinho novo que Jesus nos oferece, há alegria no nosso coração
e não podemos deixar de ser testemunhas dessa alegria. O cristão é alegre,
nunca está triste. Deus nos acompanha. Temos uma Mãe que sempre intercede pela
vida dos seus filhos, por nós, como a rainha Ester na primeira leitura (cf. Est
5, 3). Jesus nos mostrou que a face de Deus é a de um Pai que nos ama. O pecado
e a morte foram derrotados. O cristão não pode ser pessimista! Não pode ter uma
cara de quem parece num constante estado de luto. Se estivermos verdadeiramente
enamorados de Cristo e sentirmos o quanto Ele nos ama, o nosso coração se
“incendiará” de tal alegria que contagiará quem estiver ao nosso lado. Como
dizia Bento XVI: «O discípulo sabe que sem Cristo não há luz, não há esperança,
não há amor, não há futuro” (Discurso inaugural da Conferência de Aparecida [13
de maio de 2007]: Insegnamenti III/1 [2007], 861).
Queridos
amigos, viemos bater à porta da casa de Maria. Ela abriu-nos, fez-nos entrar e
nos aponta o seu Filho. Agora Ela nos pede: «Fazei o que Ele vos disser» (Jo
2,5). Sim, Mãe nossa, nos comprometemos a fazer o que Jesus nos disser! E o
faremos com esperança, confiantes nas surpresas de Deus e cheios de alegria.
Assim seja.
No final da
celebração, o Papa fará a consagração do seu pontificado, num “ato de devoção
pessoal”, como explicou aos jornalistas padre Federico Lombardi. Invocará
também a intercessão da Virgem para todo o Brasil. Concluída a Missa, Papa
Francisco saudará os fiéis que não tiveram lugar no interior do santuárioPor
volta das 13 horas (18 horas em Roma), no Seminário do Bom Jesus, o Papa almoça
com os bispos da província e os seminaristas, regressando depois ao Rio de
Janeiro, onde visitará o Hospital de São Francisco de Assis na zona da Tijuca,
inaugurando uma ala psiquiátrica como “legado social” desta 28ª Jornada Mundial
da Juventude. Esta nova estrutura – designada “Polo de Atenção Integral à Saúde
Mental (PAI)”, dispondo de 40 camas, representa um “novo impulso” para o
tratamento de jovens toxicodependentes e alcoólicos no período de crise.
O secretário
municipal de Transportes do Rio, Carlos Roberto Osório, admitiu que esta
deslocação à Tijuca, na zona norte, constitui a “maior preocupação” de todo o
programa de deslocações desta viagem papal, já que não é feriado municipal e
Francisco regressa da Aparecida, em hora de ponta.No Hospital, o Papa começa
por presidir a um breve momento de oração. Escutará depois o testemunho de dois
jovens que ali recebem tratamento, antes de inaugurar a ala psiquiátrica, um
legado da JMJ 2013 que representa uma novidade na história destes eventos
internacionais promovidos pela Igreja Católica. O Hospital de São Francisco,
tem atualmente um complexo com 8 prédios e aproximadamente 400 camas de
internamento.
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