O Papa
Francisco celebrou, nesta terça-feira (19) a missa solene de inauguração de seu
pontificado.
Leia abaixo
a íntegra do texto da homilia lida pelo pontífice, originalmente em italiano,
durante a missa:
"Queridos irmãos e irmãs!
Agradeço ao Senhor por poder celebrar
esta Santa Missa de início do ministério petrino na solenidade de São José,
esposo da Virgem Maria e patrono da Igreja universal: é uma coincidência densa
de significado e é também o onomástico do meu venerado Predecessor:
acompanhamo-lo com a oração, cheia de estima e gratidão.
Ouvimos ler, no Evangelho, que
"José fez como lhe ordenou o anjo do Senhor e recebeu sua esposa" (Mt
1, 24). Nestas palavras, encerra-se já a missão que Deus confia a José:
ser guardião. Guardião de quem? De Maria
e de Jesus, mas é uma guarda que depois se alarga à Igreja, como sublinhou o
Beato João Paulo II: "São José, assim como cuidou com amor de Maria e se
dedicou com empenho jubiloso à educação de Jesus Cristo, assim também guarda e
protege o seu Corpo místico, a Igreja, da qual a Virgem Santíssima é figura e
modelo" (Exort. ap. Redemptoris Custos, 1).
Como realiza José esta guarda? Com
discrição, com humildade, no silêncio, mas com uma presença constante e uma fidelidade
total, mesmo quando não consegue entender. Desde o casamento com Maria até ao
episódio de Jesus, aos doze anos, no templo de Jerusalém, acompanha com
solicitude e amor cada momento. Permanece ao lado de Maria, sua esposa, tanto
nos momentos serenos como nos momentos difíceis da vida, na ida a Belém para o
recenseamento e nas horas ansiosas e felizes do parto; no momento dramático da
fuga para o Egito e na busca preocupada do filho no templo; e depois na vida
quotidiana da casa de Nazaré, na carpintaria onde ensinou o ofício a Jesus.
Como vive José a sua vocação de
guardião de Maria, de Jesus, da Igreja? Numa constante atenção a Deus, aberto
aos seus sinais, disponível mais ao projeco d'Ele que ao seu. E isto mesmo é o
que Deus pede a David, como ouvimos na primeira Leitura: Deus não deseja uma
casa construída pelo homem, mas quer a fidelidade à sua Palavra, ao seu
desígnio; e é o próprio Deus que constrói a casa, mas de pedras vivas marcadas
pelo seu Espírito. E José é "guardião", porque sabe ouvir a Deus,
deixa-se guiar pela sua vontade e, por isso mesmo, se mostra ainda mais
sensível com as pessoas que lhe estão confiadas, sabe ler com realismo os
acontecimentos, está atento àquilo que o rodeia, e toma as decisões mais
sensatas. Nele, queridos amigos, vemos como se responde à vocação de Deus: com
disponibilidade e prontidão; mas vemos também qual é o centro da vocação
cristã: Cristo. Guardemos Cristo na nossa vida, para guardar os outros, para
guardar a criação!
Entretanto, a vocação de guardião não
diz respeito apenas a nós, cristãos, mas tem uma dimensão antecedente, que é
simplesmente humana e diz respeito a todos: é a de guardar a criação inteira, a
beleza da criação, como se diz no livro de Génesis e nos mostrou São Francisco
de Assis: é ter respeito por toda a criatura de Deus e pelo ambiente onde
vivemos. É guardar as pessoas, cuidar carinhosamente de todas elas e cada uma,
especialmente das crianças, dos idosos, daqueles que são mais frágeis e que
muitas vezes estão na periferia do nosso coração. É cuidar uns dos outros na
família: os esposos guardam-se reciprocamente, depois, como pais, cuidam dos
filhos, e, com o passar do tempo, os próprios filhos tornam-se guardiões dos
pais. É viver com sinceridade as amizades, que são um mútuo guardar-se na
intimidade, no respeito e no bem. Fundamentalmente tudo está confiado à guarda
do homem, e é uma responsabilidade que nos diz respeito a todos. Sede guardiões
dos dons de Deus!
E quando o homem falha nesta
responsabilidade, quando não cuidamos da criação e dos irmãos, então encontra
lugar a destruição e o coração fica ressequido. Infelizmente, em cada época da
história, existem "Herodes" que tramam desígnios de morte, destroem e
deturpam o rosto do homem e da mulher.
Queria pedir, por favor, a quantos
ocupam cargos de responsabilidade em âmbito econômico, político ou social, a
todos os homens e mulheres de boa vontade: sejamos "guardiães" da
criação, do desígnio de Deus inscrito na natureza, guardiões do outro, do
ambiente; não deixemos que sinais de destruição e morte acompanhem o caminho
deste nosso mundo! Mas, para "guardar", devemos também cuidar de nós
mesmos. Lembremo-nos de que o ódio, a inveja, o orgulho sujam a vida; então
guardar quer dizer vigiar sobre os nossos sentimentos, o nosso coração, porque
é dele que saem as boas intenções e as más: aquelas que edificam e as que
destroem. Não devemos ter medo de bondade, ou mesmo de ternura.
A propósito, deixai-me acrescentar
mais uma observação: cuidar, guardar requer bondade, requer ser praticado com
ternura. Nos Evangelhos, São José aparece como um homem forte, corajoso,
trabalhador, mas, no seu íntimo, sobressai uma grande ternura, que não é a
virtude dos fracos, antes pelo contrário denota fortaleza de ânimo e capacidade
de solicitude, de compaixão, de verdadeira abertura ao outro, de amor. Não
devemos ter medo da bondade, da ternura!
Hoje, juntamente com a festa de São
José, celebramos o início do ministério do novo Bispo de Roma, Sucessor de
Pedro, que inclui também um poder. É certo que Jesus Cristo deu um poder a
Pedro, mas de que poder se trata? À tríplice pergunta de Jesus a Pedro sobre o
amor, segue-se o tríplice convite: apascenta os meus cordeiros, apascenta as
minhas ovelhas. Não esqueçamos jamais que o verdadeiro poder é o serviço, e que
o próprio Papa, para exercer o poder, deve entrar sempre mais naquele serviço
que tem o seu vértice luminoso na Cruz; deve olhar para o serviço humilde,
concreto, rico de fé, de São José e, como ele, abrir os braços para guardar
todo o Povo de Deus e acolher, com afeto e ternura, a humanidade inteira,
especialmente os mais pobres, os mais fracos, os mais pequeninos, aqueles que
Mateus descreve no Juízo final sobre a caridade: quem tem fome, sede, é
estrangeiro, está nu, doente, na prisão (cf. Mt 25, 31-46). Apenas aqueles que
servem com amor capaz de proteger.
Na segunda Leitura, São Paulo fala de
Abraão, que acreditou «com uma esperança, para além do que se podia esperar»
(Rm 4, 18). Com uma esperança, para além do que se podia esperar! Também hoje,
perante tantos pedaços de céu cinzento, há necessidade de ver a luz da
esperança e de darmos nós mesmos esperança. Guardar a criação, cada homem e
cada mulher, com um olhar de ternura e amor, é abrir o horizonte da esperança,
é abrir um rasgo de luz no meio de tantas nuvens, é levar o calor da esperança!
E, para o crente, para nós cristãos, como Abraão, como São José, a esperança
que levamos tem o horizonte de Deus que nos foi aberto em Cristo, está fundada
sobre a rocha que é Deus.
Guardar Jesus com Maria, guardar a
criação inteira, guardar toda a pessoa, especialmente a mais pobre,
guardarmo-nos a nós mesmos: eis um serviço que o Bispo de Roma está chamado a
cumprir, mas para o qual todos nós estamos chamados, fazendo resplandecer a
estrela da esperança: Guardemos com amor aquilo que Deus nos deu!
Peço a intercessão da Virgem Maria,
de São José, de São Pedro e São Paulo, de São Francisco, para que o Espírito
Santo acompanhe o meu ministério, e, a todos vós, digo: rezai por mim!
Amém.
Saúdo, com
afeto, os Irmãos Cardeais e Bispos, os sacerdotes, os diáconos, os religiosos e
as religiosas e todos os fiéis leigos. Agradeço, pela sua presença, aos
Representantes das outras Igrejas e Comunidades eclesiais, bem como aos
representantes da comunidade judaica e de outras comunidades religiosas. Dirijo
a minha cordial saudação aos Chefes de Estado e de Governo, às Delegações
oficiais de tantos países do mundo e ao Corpo Diplomático".
FONTE: Blog
Capela do Menino Deus
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