quinta-feira, 28 de março de 2013

Quinta-feira Santa - Celebração da Ceia do Senhor


Por: Padre Wagner Augusto Portugal

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"A Cruz de nosso Senhor Jesus Cristo deve ser a nossa glória: nele está nossa vida e ressurreição; foi ele que nos salvou e libertou." (Gl 6,14)

Meus queridos irmãos e irmãs

Iniciamos nesta Quinta-feira Santa o Tríduo Pascal. Inicia-se a celebração da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo.

Antes, porém, de entregar-se à morte, Ele se nos assegura até o fim dos tempos, instituindo a Sagrada Eucaristia, Mistério de Amor, um doce e ingente apelo à fraternidade, à comunhão, à concórdia e a paz. Jesus pereniza no tempo e na história a sua presença em nosso meio, presente pela transubstanciação do pão no Seu Corpo e do vinho em Seu Sangue. Lúcido e grandioso mistério da nossa fé.

E a libertação do povo é feita, simbolicamente, com o gesto significativo do Lava-pés: “Eu vos dou um novo mandamento, que vos amei uns aos outros, assim como Eu vos amei”, disse o Senhor.


Meus irmãos,

Celebramos hoje um adeus: uma despedida de alguém que vai para melhor, ou seja, que vai voltar para o Pai, mas, que ao mesmo tempo, deixa uma profunda nostalgia, uma contagiante saudade, sobretudo, por causa do modo como essa despedida será levada a efeito, na noite seguinte.

Por isso, a celebração de hoje, com seus paramentos brancos, é de alegria, de júbilo, entoando solenemente o canto do Glória, suprimido durante toda a Quaresma, com todos os sinos de nossas igrejas badalando para comemorar a instituição da Eucaristia e do Mandamento do Amor, amor sem limites e com grande intensidade. Alegria misturada com dor; alegria em tom menor, misturada com lágrimas, sendo considerada uma alegria inibida. É a única liturgia do ano em que se canta o Glória, sem que se cante o Aleluia.

Jesus vai percorrendo o seu caminho e todos os fiéis bem sabem que Jesus será preso, julgado, açoitado, humilhado e crucificado.



Irmãos e irmãs,

A primeira leitura (Ex 12,1-8.11-14) fornece o fundo histórico para situar a última Ceia como refeição e banquete pascal na vida de Jesus e nas raízes judaicas da liturgia cristã. Conta a instituição da refeição do cordeiro pascal no antigo judaísmo, com o sentido salvífico que Israel aí reconhece: a libertação da escravidão.

O Cântico de Meditação é um canto que os sacerdotes entoavam ao levantar o cálice da bênção, gesto retomado por Jesus na última Ceia. Por isso, no Evangelho (Jo 13,1-15), temos um grande mistério divino entregue a mãos humanas. Jesus, reunindo os apóstolos a fim de comer com eles a Ceia pascal, como faziam todas as famílias hebréias, para recordar a libertação do povo judeu da escravidão egípcia. A ceia seguia todo um ritual que prescrevia um cordeiro pascal, o que devia ser de um ano e sem nenhum defeito.
Jesus assumiu a presidência da refeição, como se fosse um pai de família, como de fato é o pai dos apóstolos e o pai da nossa fé, porque vencerá o pecado e anunciará a vida plena em Deus, o Senhor. Seu primeiro gesto foi levantar ao redor da mesa, pegar um manto, amarrar uma toalha, derramar um pouco de água num vaso e põe-se a lavar os pés de seus doze apóstolos. Depois do lava-pés Jesus voltou ao seu lugar pegou um pedaço de pão molhou-o no vinho e deu-o a Judas Iscariotes, dizendo: “O que tens a fazer, faze-o logo”. E Judas retirou-se rápido da sala, com os pés lavados, mas com Satanás no seu Corpo.
Após a retirada daquele que O trairia, Jesus anunciou que por pouco tempo os seus apóstolos ainda O teriam em seu meio, deixando-lhes, por isso, o maior de todos os mandamentos: “Que vos ameis uns aos outros como eu vos amei. Todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (Jo 13,33-35).


Depois, Jesus encheu a jarra de vinho e passou aos seus Apóstolos para que bebessem, não o vinho, mas seu sangue, o sangue que seria o elo, que seria o selo, a garantia da nova e eterna aliança entre Deus e a humanidade. Tomou, em seguida, um pedaço de pão e deu-o aos seus apóstolos para comer, porque já não era pão, mas seu corpo, era o pão da vida eterna, o pão da vida plena. E pediu que aquela celebração fosse repetida em sua memória. Estava, assim, inaugurada e perenizada na história da salvação a Eucaristia, como mandamento máximo da vida cristã, mandamento máximo da entrega de Deus pelos homens. Cada vez que comemos e bebemos o pão e o vinho transubstanciados no corpo e no sangue refazemos o memorial da nossa fé, “anunciando Senhor a Vossa Morte e Ressurreição”.

Uma admoestação ainda fez aos discípulos, para que repetissem aquele gesto em sua memória, comprometendo-se a nunca abandonar os seus discípulos, apesar de tudo o que iria acontecer. Tratava-se da glorificação de Jesus e da sua união com o Pai, pedindo a unidade de todos os discípulos.


Meus irmãos e minhas irmãs,

Nesta noite venturosa, Jesus se nos dá na Eucaristia, institui o sacerdócio ministerial, prega e determina o amor fraterno. Eis porque devemos celebrar a vida.

Mas a compaixão também toma conta de nossos íntimos. O Evangelho anuncia os momentos de dor, de sofrimento, de renúncia, de vontade, de solidão, porque Jesus vai passar no momento da sua Paixão e Morte. Todos nós somos convidados a sofrer com Jesus nesta noite da traição de Judas e de conseqüente entrega de Jesus aos sumos sacerdotes e ao poder romano, que ocupava Jerusalém e a terra dos judeus.
Enquanto Jesus rezava no monte das Oliveiras, foi surpreendido pelos soldados, amarrado com cordas e conduzido a julgamento. Abandonado pelos seus discípulos e seus amigos, renegado por Pedro por três vezes, Jesus teve a mesma sorte que os criminosos de então. Noite de maldade!

Por isso, tenhamos compaixão de Jesus, estejamos ao seu lado, caminhemos com Ele, vivendo as agruras que Jesus viveu nesta noite.

Vamos amar, neste ano em que a CNBB nos pede que comecemos a amar aqueles que vivem a insegurança do mundo hodierno, sem acesso a saúde pública. Somos prisioneiros em nossas casas, com alarmes, grades, portões, interfones, segurança eletrônica, etc. É preciso estabelecer a Justiça, combatendo a violência, o ódio, a opressão, as milícias, os traficantes, os que fazem da sociedade um modelo de reféns do mundo trancafiado. Devemos, sim, pedir a Jesus que todos nós tenhamos acesso à saúde e a um atendimento digno, condigno, rápido e honesto.

A solidão que abateu Jesus no horto é a solidão humana, é a solidão de todos que se sentem inseguros. Amar sem limites, amar sem recompensas, amar por amor, amar sem limites, amar com generosidade. É um amor que nos imbui de grande generosidade para poder participar, para poder viver, para poder celebrar a Eucaristia, supremo memorial do amor de Deus pela humanidade, ao se entregar e morrer pela salvação da humanidade.

Irmãos e irmãs,

Junto com a Eucaristia, Jesus institui naquela ceia bendita o sacramento da ordem. Assegurando-nos a sagrada Eucaristia, instituiu o sacerdócio ministerial, aqueles homens abnegados, escolhidos dentre o povo pecador e elevados à dignidade presbiteral, que renovam o sacramento incruento da Cruz, constantemente, celebrando o mistério da nossa fé, o memorial da paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo.

Doce e grandioso presente de fé e de salvação. O próprio Cristo realmente presente em corpo, sangue, alma e divindade sob as espécies de pão e vinho, pelas mãos consagradas do sacerdote ministerial.
Elevemos, por isso, a Deus um TE DEUM LAUDAMUS pelo sacerdote ou pelos sacerdotes de nossas comunidades, estes homens de fé, homens da Eucaristia, condoreiros de Jesus que carregam nas suas mãos solícitas o pão da palavra e o pão da vida, a Eucaristia.

Meus irmãos

A velha disciplina latina dizia que hoje foi instituído o MANDATUM NOVUM, ou seja, o Mandamento Novo. Por isso, encerrando nossa reflexão, de joelhos voltemos para o Sacrário e cantemos com fé ardente e esperança convicta e, acima de tudo, pedindo ao mundo dilacerado pela guerra o mandamento do amor, que é paz:

“Tão sublime sacramento/ adoremos neste altar,/ pois do Antigo Testamento/deu ao Novo seu lugar./ Venha a fé por suplemento/ os sentidos completar. Ao Eterno Pai cantemos/, e a Jesus, o Salvador./ Ao Espírito exaltemos,/ na Trindade eterno amor./ Ao Deus Uno e Trino demos/ a alegria do louvor. Amém.”
Extraído do site  CATEQUESE CATÓLICA.

www.catequesecatolica.com.br


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