Por: Padre Wagner
Augusto Portugal
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"A Cruz de nosso
Senhor Jesus Cristo deve ser a nossa glória: nele está nossa vida e
ressurreição; foi ele que nos salvou e libertou." (Gl 6,14)
Meus queridos irmãos e irmãs
Iniciamos nesta Quinta-feira Santa o Tríduo Pascal.
Inicia-se a celebração da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo.
Antes, porém, de entregar-se à morte, Ele se nos assegura
até o fim dos tempos, instituindo a Sagrada Eucaristia, Mistério de Amor, um
doce e ingente apelo à fraternidade, à comunhão, à concórdia e a paz. Jesus
pereniza no tempo e na história a sua presença em nosso meio, presente pela
transubstanciação do pão no Seu Corpo e do vinho em Seu Sangue. Lúcido e
grandioso mistério da nossa fé.
E a libertação do povo é feita, simbolicamente, com o gesto
significativo do Lava-pés: “Eu vos dou um novo mandamento, que vos amei uns aos
outros, assim como Eu vos amei”, disse o Senhor.
Meus irmãos,
Celebramos hoje um adeus: uma despedida de alguém que vai
para melhor, ou seja, que vai voltar para o Pai, mas, que ao mesmo tempo, deixa
uma profunda nostalgia, uma contagiante saudade, sobretudo, por causa do modo
como essa despedida será levada a efeito, na noite seguinte.
Por isso, a celebração de hoje, com seus paramentos brancos,
é de alegria, de júbilo, entoando solenemente o canto do Glória, suprimido
durante toda a Quaresma, com todos os sinos de nossas igrejas badalando para
comemorar a instituição da Eucaristia e do Mandamento do Amor, amor sem limites
e com grande intensidade. Alegria misturada com dor; alegria em tom menor,
misturada com lágrimas, sendo considerada uma alegria inibida. É a única
liturgia do ano em que se canta o Glória, sem que se cante o Aleluia.
Jesus vai percorrendo o seu caminho e todos os fiéis bem
sabem que Jesus será preso, julgado, açoitado, humilhado e crucificado.
Irmãos e irmãs,
A primeira leitura (Ex 12,1-8.11-14) fornece o fundo
histórico para situar a última Ceia como refeição e banquete pascal na vida de
Jesus e nas raízes judaicas da liturgia cristã. Conta a instituição da refeição
do cordeiro pascal no antigo judaísmo, com o sentido salvífico que Israel aí
reconhece: a libertação da escravidão.
O Cântico de Meditação é um canto que os sacerdotes entoavam
ao levantar o cálice da bênção, gesto retomado por Jesus na última Ceia. Por
isso, no Evangelho (Jo 13,1-15), temos um grande mistério divino entregue a
mãos humanas. Jesus, reunindo os apóstolos a fim de comer com eles a Ceia
pascal, como faziam todas as famílias hebréias, para recordar a libertação do
povo judeu da escravidão egípcia. A ceia seguia todo um ritual que prescrevia
um cordeiro pascal, o que devia ser de um ano e sem nenhum defeito.
Jesus assumiu a presidência da refeição, como se fosse um
pai de família, como de fato é o pai dos apóstolos e o pai da nossa fé, porque
vencerá o pecado e anunciará a vida plena em Deus, o Senhor. Seu primeiro gesto
foi levantar ao redor da mesa, pegar um manto, amarrar uma toalha, derramar um
pouco de água num vaso e põe-se a lavar os pés de seus doze apóstolos. Depois
do lava-pés Jesus voltou ao seu lugar pegou um pedaço de pão molhou-o no vinho
e deu-o a Judas Iscariotes, dizendo: “O que tens a fazer, faze-o logo”. E Judas
retirou-se rápido da sala, com os pés lavados, mas com Satanás no seu Corpo.
Após a retirada daquele que O trairia, Jesus anunciou que
por pouco tempo os seus apóstolos ainda O teriam em seu meio, deixando-lhes,
por isso, o maior de todos os mandamentos: “Que vos ameis uns aos outros como
eu vos amei. Todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos
outros” (Jo 13,33-35).
Depois, Jesus encheu a jarra de vinho e passou aos seus
Apóstolos para que bebessem, não o vinho, mas seu sangue, o sangue que seria o
elo, que seria o selo, a garantia da nova e eterna aliança entre Deus e a
humanidade. Tomou, em seguida, um pedaço de pão e deu-o aos seus apóstolos para
comer, porque já não era pão, mas seu corpo, era o pão da vida eterna, o pão da
vida plena. E pediu que aquela celebração fosse repetida em sua memória.
Estava, assim, inaugurada e perenizada na história da salvação a Eucaristia,
como mandamento máximo da vida cristã, mandamento máximo da entrega de Deus
pelos homens. Cada vez que comemos e bebemos o pão e o vinho transubstanciados
no corpo e no sangue refazemos o memorial da nossa fé, “anunciando Senhor a
Vossa Morte e Ressurreição”.
Uma admoestação ainda fez aos discípulos, para que
repetissem aquele gesto em sua memória, comprometendo-se a nunca abandonar os
seus discípulos, apesar de tudo o que iria acontecer. Tratava-se da
glorificação de Jesus e da sua união com o Pai, pedindo a unidade de todos os
discípulos.
Meus irmãos e minhas irmãs,
Nesta noite venturosa, Jesus se nos dá na Eucaristia,
institui o sacerdócio ministerial, prega e determina o amor fraterno. Eis
porque devemos celebrar a vida.
Mas a compaixão também toma conta de nossos íntimos. O
Evangelho anuncia os momentos de dor, de sofrimento, de renúncia, de vontade,
de solidão, porque Jesus vai passar no momento da sua Paixão e Morte. Todos nós
somos convidados a sofrer com Jesus nesta noite da traição de Judas e de
conseqüente entrega de Jesus aos sumos sacerdotes e ao poder romano, que
ocupava Jerusalém e a terra dos judeus.
Enquanto Jesus rezava no monte das Oliveiras, foi
surpreendido pelos soldados, amarrado com cordas e conduzido a julgamento.
Abandonado pelos seus discípulos e seus amigos, renegado por Pedro por três
vezes, Jesus teve a mesma sorte que os criminosos de então. Noite de maldade!
Por isso, tenhamos compaixão de Jesus, estejamos ao seu
lado, caminhemos com Ele, vivendo as agruras que Jesus viveu nesta noite.
Vamos amar, neste ano em que a CNBB nos pede que comecemos a
amar aqueles que vivem a insegurança do mundo hodierno, sem acesso a saúde
pública. Somos prisioneiros em nossas casas, com alarmes, grades, portões,
interfones, segurança eletrônica, etc. É preciso estabelecer a Justiça,
combatendo a violência, o ódio, a opressão, as milícias, os traficantes, os que
fazem da sociedade um modelo de reféns do mundo trancafiado. Devemos, sim,
pedir a Jesus que todos nós tenhamos acesso à saúde e a um atendimento digno,
condigno, rápido e honesto.
A solidão que abateu Jesus no horto é a solidão humana, é a
solidão de todos que se sentem inseguros. Amar sem limites, amar sem
recompensas, amar por amor, amar sem limites, amar com generosidade. É um amor
que nos imbui de grande generosidade para poder participar, para poder viver,
para poder celebrar a Eucaristia, supremo memorial do amor de Deus pela
humanidade, ao se entregar e morrer pela salvação da humanidade.
Irmãos e irmãs,
Junto com a Eucaristia, Jesus institui naquela ceia bendita
o sacramento da ordem. Assegurando-nos a sagrada Eucaristia, instituiu o
sacerdócio ministerial, aqueles homens abnegados, escolhidos dentre o povo
pecador e elevados à dignidade presbiteral, que renovam o sacramento incruento
da Cruz, constantemente, celebrando o mistério da nossa fé, o memorial da
paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo.
Doce e grandioso presente de fé e de salvação. O próprio
Cristo realmente presente em corpo, sangue, alma e divindade sob as espécies de
pão e vinho, pelas mãos consagradas do sacerdote ministerial.
Elevemos, por isso, a Deus um TE DEUM LAUDAMUS pelo
sacerdote ou pelos sacerdotes de nossas comunidades, estes homens de fé, homens
da Eucaristia, condoreiros de Jesus que carregam nas suas mãos solícitas o pão
da palavra e o pão da vida, a Eucaristia.
Meus irmãos
A velha disciplina latina dizia que hoje foi instituído o
MANDATUM NOVUM, ou seja, o Mandamento Novo. Por isso, encerrando nossa
reflexão, de joelhos voltemos para o Sacrário e cantemos com fé ardente e
esperança convicta e, acima de tudo, pedindo ao mundo dilacerado pela guerra o
mandamento do amor, que é paz:
“Tão sublime sacramento/ adoremos neste altar,/ pois do
Antigo Testamento/deu ao Novo seu lugar./ Venha a fé por suplemento/ os
sentidos completar. Ao Eterno Pai cantemos/, e a Jesus, o Salvador./ Ao
Espírito exaltemos,/ na Trindade eterno amor./ Ao Deus Uno e Trino demos/ a
alegria do louvor. Amém.”
Extraído do site
CATEQUESE CATÓLICA.
www.catequesecatolica.com.br
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