Estigmas, sinais distintivos da paixão de
Cristo, estão sempre no centro de um debate teológico e científico.
De acordo com o Dicionário
Céptico, baseado no Skeptic’s Dictionary, publicado na web por
Robert Todd Carroll,
"estigmas são feridas que surgem nas mãos e
pés, às vezes nos flancos e cabeça, duplicando os ferimentos da crucifixão de
Cristo" e não deve ser confundida com as
representações de crucifixão que acontecem nas Filipinas toda sexta-feira
santa.
Segundo este Dicionário, "Todos os mais ou menos 32 casos registrados
de estigmas foram de Católicos Romanos, e todos, com exceção de quatro, eram
mulheres. Não se conhece nenhum caso de estigmas que tenha acontecido antes do
século XIII, quando Jesus crucificado se tornou um símbolo padrão do cristianismo
no ocidente". O Dicionário Céptico dedica-se a dar
definições, argumentos e escrever ensaios sobre assuntos relacionados ao
sobrenatural, oculto, paranormal e pseudocientífico, sob o ponto de vista
cético. O artigo sobre estigmas foi atualizado pela última vez em 14 de maio de
2000.
Começando com São Francisco de Assis, e
incluindo figuras do tempo moderno, como o Santo Padre Pio de Pietrelcina,
houve cerca de 250 casos aparentemente autênticos de indivíduos com estigmas. A
Igreja Católica nunca emitiu muito sobre o tema. Ainda assim, qual seria o
significado dessas chagas dolorosas nas mãos e pés de pessoas que em alguns
casos mudaram o curso da história da cristandade?
Os Evangelhos mostram que, na ressurreição
de Jesus, as chagas não desapareceram. Os estigmas são um sinal do que Cristo
sofreu durante a paixão; portanto, há dados teológicos que precisam de muito
mais estudo do que já foi feito até hoje. No Evangelho de João, por exemplo, quando
Jesus entra no Cenáculo atravessando portas fechadas e saudando os discípulos,
ele mostra os estigmas para se identificar. Ele disse ao descrente discípulo
Tomé: "Põe teu dedo no meu lado". A consternação
dos apóstolos também é um fato revelador deste mistério.
É um fenômeno particular da espiritualidade e misticismo
ocidental. Desde São Francisco, tivemos um número significativo de santos e
bem-aventurados que viveram a experiência desconcertante de reproduzir os
estigmas de Cristo em seus corpos. Até hoje, a pesquisa tem enfatizado o
caráter de configuração e imitação de Jesus, que se origina da intensa relação
pessoa que essas pessoas tiveram com Ele. Tem havido insuficiente reflexão
sobre a missão particular relacionada com os estigmas.
Em 1224, quando São Francisco pregava no
Monte Alverne, nos
Apeninos, apareceram cicatrizes que correspondiam às cinco chagas
do Cristo crucificado. Esses estigmas permaneceram até o final de sua vida e
teriam sido o motivo de seu enfraquecimento e sofrimento físico. Os estigmas
aumentaram progressivamente por dois anos, levando-o à cegueira, até que
morreu, no dia 3 de outubro de 1226. São Francisco de Assis recebeu os estigmas
quando todos os seus projetos, como a fundação da ordem, aprovação da regra
primitiva, e a viagem à Palestina para se tornar um mártir, falharam. Ele
estava só e abandonado, e quase cego. Foi consolado por ser identificado com o
Crucificado, e ainda, simultaneamente, o sofrimento dos estigmas se tornou um
bem para a ordem que ele criara, e uma mensagem para toda a cristandade, e não
somente para a Igreja Católica. Definitivamente, São
Francisco de Assis é um santo e um verdadeiro imitador de Cristo, digno de
admiração por todas as religiões do mundo inteiro.
O sucessor de São Francisco, Frei Elias, compreendeu o
significado dos estigmas, e enfatizou isto em sua carta a todos os fiéis. Esta
mesma mensagem e missão dos estigmas pode ser vista em Santa Margarida Maria de Pazzi
e Santa Catarina de
Sena. No século que terminou, esta missão foi claramente vista em
pessoas como Santa Gemma
Galgani (falecida em 1913), o Padre Pio de Pietrelcina
(1887-1968), e Marta
Robin (mística francesa, falecida em 1981, cujos escritos estão
sendo estudados antes do início de seu processo de beatificação).
Gema Galgani desejava ser freira
passionista, mas foi impedida por sofrer de tuberculose espinal, que, segundo
se acreditava, tinha sido curada por São Gabriel Possenti, que
morrera tuberculoso. Gema tinha acentuada índole religiosa e, a partir de 1899,
sofreu muitas experiências místicas e extraordinárias, cuidadosamente
investigadas pelo seu confessor, o padre Germano. Durante mais de 18 meses os
estigmas de Cristo crucificado apareceram intermitentemente em suas mãos e pés
(como no caso de São Francisco de Assis), além de outros sinais da Paixão de
Cristo.
Tinha também
freqüentes êxtases e visões. De natureza calada e calma, suportou sua má
saúde com a maior paciência. Mas por outro lado, de vez em quando tinha um tipo
de comportamento que atribuía a uma possessão diabólica. Depois de sua
prematura morte, a intensa veneração por gema fez que se fosse iniciado o processo
de canonização. Entretanto, algumas pessoas se opuseram devido ao caráter
bastante estranho de certos fenômenos ligados a ela. Assim, foram necessárias
as autoridades responsáveis explicasse que a recomendação para a canonização
era devida apenas a santidade de sua vida. Não houve julgamentos (como não há
em certos casos na Igreja Católica) sobre a natureza e a causa de suas
experiências místicas. Gema Galgani foi canonizada em 1940.
Marta Robin se tornou
conhecida depois que o famoso escritor Jean Guitton escreveu o livro
"A Jornada
Imóvel". Marta Robin ficou acamada por 40 anos. Assim como
Gemma Galgani e Padre Pio, ela inspirou muitos grupos de espiritualidade e
oração ao redor do mundo.
Para o padre passionista Tito Paolo Zecca, professor de
teologia pastoral e espiritualidade na Universidade Pontifícia do Latrão, é uma
“experiência de alegria
e dor. O Senhor é sempre Quem toma a iniciativa. Os recipientes dos estigmas
consideram isso uma imensa graça, da qual se sentem indignos. De fato, eles
pedem ao Senhor que os tire, porque ficam envergonhados. Esta atitude era
evidente em Padre Pio. O
bem-aventurado de Pietrelcina mostra claramente o que é a missão daqueles que
carregam os estigmas. Padre Pio fundou grupos de oração e a Casa para Alívio
dos Sofredores, um grande hospital que faz um trabalho específico para amenizar
os sofrimentos físicos. Além disso, a capacidade de intercessão de pessoas que
têm os estigmas é maior, unido a outros em oração, na renovação, salvação e
proteção do mundo”.
Um dos casos mais
conhecidos ocorreu com Teresa
Neumann, que viva na Baviera e jejuou durante trinta e seis anos, de 1926 a 1962. Na
Sexta-feira Santa, os estigmas apareciam. Um controle rigoroso realizado
durante quinze dias feito por cientistas, pesquisadores e observadores
juramentados, permitiu verificar que nesse período, além do aparecimento das
marcas, também ocorreu a "ínédia",
ou seja, o fato de
não se alimentar, e mesmo após ter perdido quatro litros de sangue e de suor,
seu peso voltava ao normal no dia seguinte.
O resultado foi surpreendente: não havia qualquer
possibilidade de fraude, pois os estigmas eram vistos se formando "sob os
olhos" dos observadores. Seria o inconsciente de Teresa? Creio que, ao
estudar fenômenos como este, podemos ter uma idéia do poder mental que ainda
desconhecemos nos seres humanos, e claro, podemos desconhecer de nós mesmos.
É um sinal profético, um chamado, um fato surpreendente
capaz de relembrar aos homens sobre o que é essencial, por exemplo,
identificar-se com Cristo, e a salvação de Cristo que nos resgatou por suas
chagas?
Os estigmas vêm intrigando médicos e
cientistas há séculos, sem que haja uma explicação para este fenômeno que os
satisfaça. Do ponto de vista religioso, trata-se de uma manifestação das chagas
de Cristo sobre o corpo de algumas pessoas que se tornaram santas, pela sua
extrema fé. “Para médicos mais céticos, não passa de uma
reação psicossomática provocada pela mente”.
O Dr. Jorge
Festas, em Mistérios da ciência e luz da
fé , o Dr. Lefebure, da
Étude médicale III,
article I Louvain, e o Pe. Auguste Poulain em
Traité de théologie
mystique, foram alguns dos cientistas que opinaram
sobre estigmas. Buscavam eles concluir se tratava de sugestões de mente
exaltada, ou se provinham de estados de hipnose, já que achavam que, em estado
normal, uma pessoa não produziria tais chagas em seu próprio corpo. Foram
feitas, sempre de acordo com o seu biógrafo, testes, na presença de outros
facultativos, em duas pessoas. Não conseguiram provar o que esperavam e
afirmaram que, cientificamente, não achavam explicação para tais fenômenos.
Foi feita também, uma análise comparativa entre o que
apuravam nessas pessoas e os estigmas do padre Pio. Segundo o livro do
biógrafo, "No caso
do experimento de Teresa, houve confusão entre a hemorragia estigmática e uma
doença especial, que às vezes ocorre nos nefro patas".
A conclusão é que não há analogia entre os dois casos. Também porque as
primeiras eram lesões de tecidos, aparecidas espontaneamente, com um fluxo
hemorrágico sempre fresco e vermelho, não apenas vermelhidões e inchaços. As primeiras
chegaram a durar anos, não cicatrizaram com medicamentos hemostáticos; as
outras foram passageiras. As primeiras não sofriam processo de decomposição;
apresentavam-se inalteradas, por anos, e não exalavam mau cheiro, enquanto as
outras sofriam processo normal de cicatrização.
Os suores sangüíneos, com os quais se
quiseram explicar os fenômenos dos estigmas, eram provenientes da dilatação de
tecidos e filtravam um líquido, com características diferentes do sangue. Não
eram localizados e não formavam chagas. Está à ciência talvez, diante de um
mistério a pesquisar e opinar.
De acordo com o Dicionário Céptico, de
Robert Todd Carroll, "os ferimentos auto-infligidos são comuns
entre pessoas com certos tipos de distúrbios mentais, mas afirmar que as
feridas são milagrosas é raro, e se deve mais provavelmente à religiosidade
excessiva do que a um cérebro doente, embora ambos possam estar atuando em
alguns casos". Neste artigo, defende-se a idéia de
que os estigmas são, mais provavelmente, feridas de ordem psicossomática,
"manifestações de
almas torturadas", embora a explicação preferida
seja de que estas feridas tenham sido auto-infligidas, uma vez que, segundo o
artigo do Dicionário Céptico, nenhum estigmático manifesta seus ferimentos do
princípio ao fim na presença dos outros, só começando a sangrar quando não
estão sendo observados.
A defesa de que as chagas de Cristo
apareçam por influência psicossomática ganha força nos dias de hoje, em que se
admite, no mundo médico, que muitas doenças, até mesmo o câncer, sejam
induzidas pelo inconsciente. Um desejo profundo de identificação com uma figura
idealizada, como a de Cristo, poderia levar estas pessoas a apresentar tais
marcas, sem que isso seja uma decisão consciente. Deste ponto de vista, as
chagas não poderiam ser tratadas como fraude, mas como um distúrbio de ordem
psíquica.
Há uma série de evidências também de que a
“sugestão” poderia ser capaz de produzir os estigmas, seja naturalmente em paciente histéricos, isto
é, com transtornos conversivos; seja artificialmente, através da hipnose.
Trabalhos de parapsicólogos confirmam isso: seria a
IDEOPLASTIA, em que o ECTOPLASMA
(substância ainda
desconhecida, imprescindível nos chamados “fenômenos físicos” de natureza
espiritual) atuaria como o elemento fundamental na
formação de tais feridas - ocorreria o que na chamada Doutrina Espírita são denominadas de
ANIMISMO, isto
é, os estigmas
seriam causados pelo próprio Espírito da pessoa, e não, um fenômeno de
obsessão.
Os estigmas só começaram a se repetir
depois do caso de São Francisco de Assis, como frisado, o que confirmaria o
“mimetismo, a imitação”; fenômeno esse que, ao lado da “sugestão”, constitue uma das principais características da histeria. Antes de Francisco não há registros
destes fenômenos.
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