Com Alberto
Magno a ordem dos dominicanos, que tanto contribuiu para a alta vida espiritual
da Idade Média, ocupa o primeiro lugar e, com ela, rompe o aristotelismo, a
grande novidade medieval. Já Boécio sonhara com o plano de dotar o seu tempo com todo Platão e todo Aristóteles, sem
conseguir realizá-lo. Mas o plano veio de novo a ser tentado. Gregório IX, em
1231, incumbiu vários sábios, entre os quais Guilherme Altissiodorense (de
Auxerre), de estudar a possibilidade de empregar Aristóteles e a sua filosofia
para a ciência da fé.. Alberto vinha de nutrir a intenção de "tornar
compreensível aos latinos todas as partes da filosofia aristotélica", e
esta vez a empresa vingou.
Não somente a lógica, mas também a física, a
metafísica, a psicologia, a ética, a política do estagirita fazem parte, daí
por diante, do patrimônio filosófico da escolástica, juntamente com as idéias
da ciência e da filosofia judeu-árabe e ainda a de muitas outras fontes,
particularmente neoplatônicas. Alberto tem o título de doctor universalis e é, de fato, um enciclopedista universal de
grande estilo e, com os seus trabalhos, prestou inestimável serviço à
escolástica. Sessenta anos depois da sua morte, escreve dele um ,cronista
anônimo: "Nesse tempo floresceu o bispo Alberto, da ordem dominicana, o
mais ilustre e sábio de todos os mestres, comparado com o qual, depois de
Salomão, não apareceu nenhum maior nem mesmo igual, em toda a filosofia… Mas,
como de nação era germânico, é odiado por muitos, .sendo o seu nome denegrido,
embora se sirvam das suas obras."
Presume-se
ter Alberto nascido em 1193 em Lauingen, na Suábia, talvez da família dos
condes de Bollstädt. Estudou em Pádua, fêz-se dominicano aos 30 anos, foi
leitor em Hildsheim em 1233 e mais tarde em Friburgo, Ratisbona, Estrasburgo,
Colônia. Entre 1245-18, encontramo-lo na Universidade de Paris como magister in
sacra pagina. Talvez foi então Tomás seu aluno. Mas seguramente o foi desde
1248 até 1252 em Colônia, para onde Alberto tinha voltado, de Paris. Em 1254
foi provincial dos dominicanos alemães. Dois anos mais tarde encontramo-lo na
corte papal em Anagni, dois anos mais tarde em Florença, em 1259 elabora, no
capítulo geral em Valencienses, com Tomás, Pedro de Tarantásia e outros, um
novo plano de estudos. Em 1261 é eleito bispo de Ratisbona; mas
depois de ter aí ordenado
as cousas principais,
desonerou-se das suas funções, passando doravante a pregar a cruzada.
De novo
vemo-lo aparecer em Colônia, em Estrasburgo, em 1274 no Concilio de Lião, em
1277 ainda uma vez em Paris. Morreu em Colônia em 15 de novembro de 1280.
Quando se pensa que Alberto fez, para obedecer às prescrições da sua ordem,
todas as suas viagens a pé, é deveras espantoso que, além das suas múltiplas
ocupações, conseguisse tempo e concentração de espírito para escrever obras
que, na edição de Borgnet (1890 ss.) enchem 38 vols. in 4.°. "Nostri
temporis stupor et miraculum", assim lhe chamou o seu discípulo Ulrico de
Estrasburgo.
Obras
1.
Paráfrases às obras de Aristóteles com o mesmo título; também às obras de
lógica, à física, à metafísica, à psicologia, à ética, à política, às obras de
ciências naturais. Está inédito um comentário à ética em forma de questões
.(ca. 1250, redigida por Tomás).
2.. Comentário às Sentenças (c. 1245).
3. Summa de creaturis (c. 1245). .
4. Summa theologica (dep. 1270), incompleta.
5. Comentário ao Liber de causis e aos escritos areopagiticos.
6. Muitas obras inéditas, como as referentes aos Elementos de Euclides, à óptica do Alma-gesto; e a sua primeira obra Tractatus de natura boni, que constitui o primeiro tomo publicado até agora na edição crítica das suas Opera omnia (Cur. Institutum Alberti Magni Coloniense B. Geyer praes.) (1951 ss.).
2.. Comentário às Sentenças (c. 1245).
3. Summa de creaturis (c. 1245). .
4. Summa theologica (dep. 1270), incompleta.
5. Comentário ao Liber de causis e aos escritos areopagiticos.
6. Muitas obras inéditas, como as referentes aos Elementos de Euclides, à óptica do Alma-gesto; e a sua primeira obra Tractatus de natura boni, que constitui o primeiro tomo publicado até agora na edição crítica das suas Opera omnia (Cur. Institutum Alberti Magni Coloniense B. Geyer praes.) (1951 ss.).
Bibliografia
M. Grabmann,
Der Einfluss Alberts des Grossen auf das mittelalterliches Geistealeben,
in: Mittelalterliches Geisleslelen, II,
325-412.
a) Caráter geral da sua filosofia
A obra de
Alberto, tanto no seu conjunto como nas suas partes, não foi completamente
elaborada. A riqueza do material que carreia teve como conseqüência o
prejudicar às vezes a unidade. Mas muitas discrepâncias se resolveriam se se
pudesse distinguir entre o que simplesmente refere e o seu pensamento própria Na sua Summa
filosófica (De creaturis) contudo, onde expõe o seu próprio modo de ver, o
pensamento está bem elaborado. Mas não podemos considerá-lo, pura e simplesmente,
nem como aristotélico nem como neoplatônico. Tende antes para uma conciliação
entre o pensamento platônico e o aristotélico: Et saias, diz, quod non
perficitur homo in philosophia nisi ex scientia duarum philosophiarum
Aristotelis et Platonis" (Met. 1. I, tr. 5, e. 15). Seria de grande
importância um exame meticuloso do aristotelismo de Alberto para caracterizar o
sentido da terminologia aristotélica, também em Tomás e, assim; na escolástica
em geral. Pois devemos sempre, quando os textos escolásticos citam Aristóteles
e as suas idéias, indagar que espécie de Aristóteles é esse e o sentido em que
as suas palavras são tomadas. Dentre as idéias filosóficas de.Alberto queremos
salientar sobretudo três:, as concernentes aos fundamentos do ser, à questão
dos universais e à substancialidade da alma.
b) Fundamentação do
ser
Alberto dá
um fundamento ao ser de modo semelhante ao de Roberto Grosseteste na metafísica
da luz. Deus é a luz incriada e produz, como o intellectus universalites agens
a primeira inteligência. Dele procede (emanatio) o ser, mediante, a alma do
mundo, por gradação até o ente corpóreo, no estilo do Liber de causis e de
Avicena. Mas Alberto rejeita o monismo neoplatônico dos árabes. O ser da
primeira Inteligência já não é Deus, mas algo de próprio, talvez "a luz
escurecida." Quidam dixerunt, omnia esse unum et quod diffusio primi in
omnibus est esse eorum (De Wulf II 6, 138), nota ele, afastando-se assim do
ponto de vista oposto.
c) Os
universais
Alberto
resolve a questão dos universais já prenunciando a solução do Aquinata. Conhece
a distinção dos universais em universale ante rem, in re, post rem. Em
conformidade com isso afirma: a essência específica dos seres é independente da
sua realização no mundo espácio-temporal e a precede. As nossas idéias universais são, como tais,
apenas objeto do pensamento e, assim, post res. O indivíduo é uma concretização
da essência específica e, assim, há um universale in re. Temos aí o cerne da
síntese escolástica entre platonismo e aristotelismo, a Idéia e o mundo
concretizados. E também vemos aqui quanto a metafísica dos escolásticos é
platonizante; pois, a doutrina das Idéias, nesta composição, também Tomás de
Aquino já não a abandona.
d) Substância
da alma
Igual
síntese encontramos ainda uma vez na doutrina da substância da alma. Todas as
substâncias criadas são compostas de essência e existência; isto nos leva, às
vezes, a crer que Alberto admite uma diferença real entre essência e
existência, como Avicena; e outras vezes que a admite apenas lógica, como
Averróis. As substâncias corpóreas nascem por obra da energia solar combinada
com a agência da primeira Inteligência. Os conceitos de matéria e forma ele os
emprega, mas não num sentido puramente aristotélico; pois, a forma da
corporeidade é a luz. Mas, para as substâncias espirituais Alberto não aceita
nem a composição de essência e existência nem a de matéria e forma. Mas elas
devem ser compostas e. assim, chega ele à distinção já feita por Boécio do quo
est e do quod est. O poder atribuir-se à alma o quod est mostra ser ela uma
substância concreta e portanto individual; e o seu quod est lhe indica a
qualidade específica, podendo então falar-se de uma forma geral, da alma.
Alberto não se decide a considerar a alma como a mera enteléquia do corpo. Ele
teme, como Nemésio, com quem concorda, comprometer-lhe assim a
substancialidade. Assim, segundo Alberto, só na medida em que ela confere ao
corpo a vida, é a forma dele; mas "em si mesma ela é, como diz Platão, um
espírito incorpóreo e vida perene" tra. 12, q. 69, m. 2, a. 2 ad 1). Por
isso se inclina também a conceber, com Platão, a alma como o piloto do corpo,
para lhe salvar a substancialidade; e neste passo podemos lembrar que também
Aristóteles, no oitavo livro da Física usa dessa imagem. Por causa da
substancialidade. da alma Alberto se volta contra Averróis. Cada alma, ensina
ele contra o filósofo árabe, tem o seu intelecto ativo e passivo próprios (De unitate intellectus contra Averroes).
e) O
naturalista
O que
dissemos até aqui não deve dar a impressão que tivesse Alberto cultivado de
preferência a filosofia especulativa. Conhecia ele, quanto a esta, toda a
tradição e podia proferir a sua opinião. Mas além disso tinha particular
inclinação para a observação imediata e a descrição da Natureza. Não é exagerado
considerá-lo como zoólogo e botânico. A observação imediata da natureza
(experimentum) ele a promoveu sob todas as formas. – O principal editor das
suas obras, H. J. Stadler, escreve nos Baeumker-Beitraägen (16 e 17). "Se
a evolução das ciências naturais tivesse continuado no caminho trilhado por
Alberto, ter-se-ia poupado um rodeio de trezentos anos" (Jp. H. Balss,
Albertus Magnus als Biologe, 1947).
f) Alberto
e a mística
Tara
terminar assinalemos ainda a importância de Alberto para a mística alemã. Foi o
patrimônio espiritual, parte, da patrística, parte, das obras areopagíticas e
parte, da filosofia árabe, em que ele se abeberou, que se tornou fecundo, a
este respeito. Echardo, antes de todos, Tauler, Suso, João de Tambach e Nicolau
de Cusa se utilizarão dos trabalhos de Alberto.
g)
Escola de Alberto
À escola de
Alberto pertencem Hugo Ripelin de Estrasburgo, Ulrico de Estrasburgo, Dietrich
de Freiberg (+ 1310) e Bertoldo de Mosburgo. Segundo Grabmann, caracteriza essa
escola a tendência para o neoplatonismo, a preferência pelas questões das
ciências naturais, a independência do pensamento, e aquela universalidade
espiritual já característica do mestre.
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