I-Finados, a celebração da
esperança cristã
Uma
oportunidade para fazermos uma reflexão sobre a vida
A nova vida,
recebida no Batismo, não está sujeita à corrupção nem ao poder da morte. Para
quem vive em Cristo, a morte é a passagem da peregrinação terrena à pátria do
Céu, onde o Pai acolhe a todos os filhos, “de toda nação, raça, povo e língua”
(Apocalipse 7,9).
É muito
significativo e apropriado que, depois da festa de Todos os Santos, a Igreja
nos faça celebrar a comemoração de Todos os Fiéis Defuntos. Segundo a liturgia
da Igreja, “para os que crêem a vida não é tirada, mas transformada”.
No Corpo místico
de Cristo, as almas dos fiéis se encontram e superam a barreira da morte,
rezando umas pelas outras, realizando na caridade um íntimo intercâmbio de
dons. Nessa dimensão de fé, compreendemos a prática de oferecer pelos falecidos
orações de sufrágio, de maneira especial a Santa Missa – memorial da Páscoa de
Cristo que abriu aos que têm fé em Cristo a vida eterna.
Os primeiros
vestígios de uma comemoração coletiva de todos os fiéis defuntos são
encontrados em Sevilha (Espanha), no séc. VII, e em Fulda (Alemanha), no séc.
IX. O verdadeiro fundador da festa, porém, é Santo Odilon, abade de Cluny
(França). A festa propagou-se rapidamente por todo estado francês e pelos
países nórdicos. Foi escolhido o dia 2 de novembro para ficar perto da
comemoração de todos os santos.
Muitos
documentos dos primeiros séculos da Igreja nos garantem esta prática. Por
exemplo, a Didaquè (ou Doutrina dos 12 Apóstolos), do ano 100, já mandava
“oferecer orações pelos mortos”. Nas Catacumbas de Roma os cristãos rezavam
sobre o túmulo dos mártires suplicando a sua intercessão diante de Deus.
Tertuliano (†220), Bispo de Cartago, afirmava que “a esposa roga pela alma de
seu esposo e pede para ele refrigério, e que volte a reunir-se com ele na
ressurreição; oferece sufrágio todos os dias aniversários de sua morte” (De
monogamia, 10).
Nos seus
ensinamentos, o Papa João Paulo II ensinou-nos que “a Igreja do Céu, a Igreja
da Terra e a Igreja do Purgatório estão misteriosamente unidas nessa cooperação
com Cristo para reconciliar o mundo com Deus.” (Reconciliatio et poenitentia,
12) João Paulo ainda nos ensinou que “... os vínculos de amor que unem pais e
filhos, esposas e esposos, irmãos e irmãs, assim como os ligames de verdadeira
amizade entre as pessoas, não se perdem nem terminam com o indiscutível evento
da morte. Os nossos defuntos continuam a viver entre nós, não só porque os seus
restos mortais repousam no cemitério e a sua recordação faz parte da nossa
existência, mas sobretudo porque as suas almas intercedem por nós junto de Deus”
(02/11/94).
A celebração
do dia de Finados é uma oportunidade para fazermos uma reflexão sobre a vida.
Ela terminará para todos nós aqui neste mundo, é apenas uma questão de tempo.
Além disso, para a eternidade não poderemos levar nada de material. Levaremos
apenas o bem que tivermos feito para nós e para os outros. Logo, deve ser uma
tomada de consciência de que ser feliz e viver bem não quer dizer acumular
tesouros, prazeres ou glórias, mas fazer o bem e preparar uma vida eterna com
Deus.
II - Por que uma solenidade de todos os santos?
Eles não deixam de interceder por nós
junto ao Pai
No dia 1º de
Novembro a Igreja celebra a festa de Todos os Santos. Segundo a tradição ela
foi colocada neste dia, logo após o 31 de outubro que os Celtas ingleses,
pagãos, celebravam as bruxas e os espíritos que vinham se alimentar e assustar
as pessoas nesta noite (Halloween).
Nesse dia a
Igreja militante (que luta na Terra) honra a Igreja triunfante do Céu
“celebrando numa única solenidade todos os Santos” – como diz o sacerdote na
oração da Missa – para render homenagem aquela multidão de Santos que povoam o
Reino dos céus que São João viu no Apocalipse: “Ouvi então o número dos
assinalados: cento e quarenta e quatro mil assinalados, de toda tribo dos
filhos de Israel… Depois disso, vi uma grande multidão que ninguém podia
contar, de toda nação, tribo, povo e língua: conservavam-se em pé diante do
trono e diante do Cordeiro, de vestes brancas e palmas na mão,”. “Esses são os
sobreviventes da grande tribulação; lavaram as suas vestes e as alvejaram no
sangue do Cordeiro.” (Ap 7,4 - 14)
Esta imensa
multidão de 144 mil, “que está diante do Cordeiro” compreende todos os servos
de Deus, aos quais a Igreja canonização através da decisão infalível de algum
Papa, e todos aqueles, incontáveis, que conseguiram a salvação, e que desfrutam
da visão beatífica de Deus. Lá “eles intercedem por nós sem cessar”, diz uma de
nossas Orações Eucarísticas. Por isso a Igreja recomenda que os pais ponham
nomes de Santos em seus filhos.
Esses 144
mil significam uma grande multidão (12 x 12 x 1000). O número 12 e o número
1000 significavam para os judeus antigos plenitude, perfeição e abundância; não
é um valor meramente aritmético, mas simbólico. A Igreja já canonizou mais de
20 mil Santos, mas há muito mais que isto no Céu. No livro RELAÇÃO DOS SANTOS E
BEATOS DA IGREJA, eu pude relacionar, de várias fontes, quase 5000 dos mais
importantes, e os coloquei em ordem alfabética.
A “Lúmen
Gentium” do Vaticano II, lembra que: “Pelo fato de os habitantes do Céu estarem
unidos mais intimamente com Cristo, consolidam com mais firmeza na santidade
toda a Igreja. Eles não deixam de interceder por nós junto ao Pai, apresentando
os méritos que alcançaram na terra pelo único mediador de Deus e dos homens,
Cristo Jesus. Por seguinte, pela fraterna solicitude deles, a nossa fraqueza
recebe o mais valioso auxílio” (LG 49) (§956)
Na hora da
morte, S. Domingos de Gusmão dizia a seus frades: “Não choreis! Ser-vos-ei mais
útil após a minha morte e ajudar-vos-ei mais eficazmente do que durante a minha
vida”. E Santa Teresinha confirmava este ensino dizendo: “Passarei meu céu
fazendo bem na terra”.
O nosso
Catecismo diz que: “Na oração, a Igreja peregrina é associada à dos santos,
cuja intercessão solicita”. (§2692).
A marca dos
Santos são as Bem–aventuranças que Jesus proclamou no Sermão da Montanha; por
isso este trecho do Evangelho de S. Mateus (5,1ss) é lido nesta Missa. Os
Santos viveram todas as virtudes e por isso são exemplos de como seguir Jesus
Cristo.
Deus
prometeu dar a eterna bem-aventurança aos pobres no espírito, aos mansos, aos
que sofrem e aos que têm fome e sede de justiça, aos misericordiosos, aos puros
de coração, aos pacíficos, aos perseguidos por causa da justiça e a todos os
que recebem o ultraje da calúnia, da maledicência, da ofensa pública e da
humilhação.
Esta
Solenidade de Todos os Santos vem do século IV. Em Antioquia celebrava-se uma
festa por todos os mártires no primeiro domingo depois de Pentecostes. A
celebração foi introduzida em Roma, na mesma data, no século VI, e cem anos
após era fixada no dia 13 de maio pelo papa Bonifácio IV, em concomitância com
o dia da dedicação do “Panteon” dos deuses romanos a Nossa Senhora e a todos os
mártires. No ano de 835 esta celebração foi transferida pelo papa Gregório IV
para 1º de novembro.
Cada um de
nós é chamado a ser santo. Disse o Concilio Vaticano II que: “Todos os fiéis
cristãos, de qualquer estado ou ordem, são chamados à plenitude da vida cristã
e à perfeição da caridade” (Lg 40). Todos são chamados à santidade: “Deveis ser
perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48): “Com o fim de conseguir
esta perfeição, façam os fiéis uso das forças recebidas (…) cumprindo em tudo a
vontade do Pai, se dediquem inteiramente à glória de Deus e ao serviço do
próximo. Assim a santidade do povo de Deus se expandirá em abundantes frutos,
como se demonstra luminosamente na história da Igreja pela vida de tantos
santos” (LG 40).
O caminho da
perfeição passa pela cruz. Não existe santidade sem renúncia e sem combate
espiritual (cf. 2Tm 4). O progresso espiritual oração, mortificação, vida
sacramental, meditação, luta contra si mesmo; é isto que nos leva gradualmente
a viver na paz e na alegria das bem-aventuranças. Disse S. Gregório de Nissa (†340)
que: “Aquele que vai subindo jamais cessa de ir progredindo de começo em começo
por começos que não têm fim. Aquele que sobe jamais cessa de desejar aquilo que
já conhece” ( Hom. in Cant. 8).
Artigo
escrito pelo Professor Felipe Aquino.
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